Archive for February 2014

A banalidade do mal na Rede Globo

da Wikipedia:

“No ano de 1961, 15 anos após o fim da Segunda Guerra Mundial, inicia-se em Israel o julgamento de Adolf Eichmann por crimes de genocídio contra os judeus, durante a guerra. O julgamento intensamente mediatizado, é envolvido por muita polêmica e controvérsia. Quase todos os jornais do mundo enviam correspondentes para cobrirem as sessões, tornadas públicas pelo governo israelense. Uma das correspondentes presentes ao julgamento, como enviada da revista The New Yorker, é a filósofa alemã, naturalizada norte-americana, Hannah Arendt.

Além de crimes contra o povo judeu, Adolf Eichmann foi acusado de crimes contra a Humanidade e de pertencer a uma organização com fins criminosos. O réu se declarou “inocente no sentido das acusações”. No entanto, foi condenado por todas as quinze acusações que pesavam contra ele e enforcado em 1962, nas proximidades de Tel Aviv.1

Em 1963, com base em seus relatos escritos para The New Yorker, sobre o julgamento, Arendt publica um livro – Eichmann em Jerusalém. Nele, ela descreve não somente o desenrolar das sessões, mas faz uma análise do “indivíduo Eichmann”. Segundo ela, Adolf Eichmann não possuía um histórico ou traços antissemitas e não apresentava características de um caráter distorcido ou doentio. Ele agiu segundo o que acreditava ser o seu dever, cumprindo ordens superiores e movido pelo desejo de ascender em sua carreira profissional, na mais perfeita lógica burocrática. Cumpria ordens sem questioná-las, com o maior zelo e eficiência, sem refletir sobre o Bem ou o Mal que pudessem causar.

Em Eichmann em Jerusalém, Arendt retoma a questão do mal radical kantiano, politizando-o. Analisa o mal quando este atinge grupos sociais ou o próprio Estado. Segundo a filósofa, o mal não é uma categoria ontológica, não é natureza, nem metafísica. É político e histórico: é produzido por homens e se manifesta apenas onde encontra espaço institucional para isso – em razão de uma escolha política. A trivialização da violência corresponde, para Arendt, ao vazio de pensamento, onde a banalidade do mal se instala.”

Em suma, Hannah Arendt justificou alguns atos vistos moralmente como malignos praticados por pessoas normais que simplesmente seguem ordens, burocracias, tem contas pra pagar ao fim do mês e jamais param para refletir sobre o contexto mundial ou sentido no que fazem.

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No contexto da Zona Sul do Rio de Janeiro, vejo práticas semelhantes frequentemente:

Terminei um relacionamento com um criativo publicitário que, para pagar seu aluguel e seus padrões de consumo emergentes como blusas Lacoste e jantares no Astor, aceitava o planejamento de vender e viciar crianças da Costa Rica em Coca-Cola pro resto da vida. Ele estava com 32 anos, aos 15 anos trabalhava vendendo legumes na feira, estudou muito, trabalhou anos praticamente de graça e finalmente conseguia um reconhecimento entre seus amigos da Zona Sul. Era extremamente vaidoso mas não levava jeito para as artes plásticas e sentia-se frustrado com isso. Seu mundinho girava em torno de si mesmo e considerava suas contas e estilo de vida o ponto final do seu trabalho.

Durante meses me encontrei semanalmente com o diretor executivo de logística de uma das maiores empresas do Brasil para tomar uma cervejinha. Ele era responsável por uma monumental obra dessas que remove comunidades inteiras e destrói terras indígenas com aval do governo federal. Toda quarta-feira ele voava para Brasília para reunir-se com o ministro da Justiça e pressionar para que demarcações indígenas fossem ignoradas e que povos fossem removidos. Ele assinava em baixo de devastação ambiental, sofrimento humano e destruição de culturas milenares diariamente. Estava passando por uma separação e tinha 3 filhos pra criar e sustentar. Sua família morava em um apartamento próprio no Leblon em obras, ele aluga em Ipanema, além da casa de Búzios pra onde viajavam sempre. Em suas casas trabalhavam 7 empregados (cozinheiros, babás, arrumadeiras, motoristas, jardineiros, etc), praticamente uma microempresa. Ele odiava o seu trabalho enfadonho, queria se dedicar a arte e escrever peças mas tinha muito medo, passou a vida lutando para chegar onde chegou, teve problemas com drogas na juventude chegando a ser internado e considerava-se um vitorioso, estudioso e gênio por ter se recuperado com tanto sucesso. Quando questionado sobre a ética, respondia que tinha filhos pra criar e pessoas a sustentar. Não via outra opção. No fim das contas pediu demissão e mudou de emprego. Hoje está muito infeliz e pagando todo seu Karma. Continua odiando índios.

Uma grande amiga é fóbica. Tem medo do mundo, trabalha de casa fazendo relatórios de Oil and Gás para um grande banco mexicano. Nos conhecemos há 11 anos e desde pequenas que ela diz que quer ser muito rica, fazer um milhão antes dos 30 anos e depois se dedicar à arte. O afastamento de todo seu talento artístico já começa a gerar neuroses e terríveis ataques fóbicos. Acredita que todo favelado é bandido e confia nos Estados Unidos para manter a ordem mundial. Pequeno gênio, já fez pós-graduação na Fundação Getúlio Vargas em São Paulo e agora se prepara para mais uma pós na COPPEAD-UFRJ. De casa define políticas de petróleo do México que encontra-se a beira de uma revolução popular por causa da privatização do mesmo (ou algo nessa linha, não tenho certeza dos detalhes da revolta). Não existe empatia alguma com esse povo que, segundo ela, representa uma ameaça ao crescimento mundial almejado pelos economistas e políticos do mundo. Está quase completando seu milhão e ano que vem quer se mudar pra Nova Iorque.

Outra amiga de menor importância é produtora do RJTV na Rede Globo. Uma das pessoas mais adoráveis que já conheci, super ligada na natureza e na sustentabilidade, maconheira máxima, adora dançar e namora há anos. Um vez a encontrei na academia e, revoltada por mais uma dessas mentiras cotidianas, fui questioná-la sobre o que acontecia. Ela me respondeu que não tinha linha editorial mentirosa, que nada disso chegava até ela e que acreditava em mudar por dentro do sistema. Que estava lá há apenas um ano e que ainda não tinha poder algum lá dentro. Depois fiquei sabendo que ela ficou muito chateada com meu questionamento, me considerou grosseira e não nos falamos desde então. Sentiu-se injustiçada! Não coloca onde trabalha no Facebook.

E acontece com outros milhões por aí. O fim do mundo está sendo definido por pessoas que não tem empatia com a humanidade enquanto raça animal que vive em um planeta de recursos finitos. Pessoas vaidosas e individualistas, vítimas de recomendações maternas voltadas para roupas, sapatos e boas maneiras a mesa, que se compreendem superiores por terem simplesmente nascido com dinheiro, que encontram sua plenitude em reconhecimento material e no poder, que precisam da segurança da cegueira e da separação dos que sofrem. São inteligentes, engraçadas, artísticas e generosas mas seguem as regras impostas pela instituição onde trabalham porque a escola, a faculdade e a família lhes prometeu que assim seriam felizes.

São a banalidade do mal bem vestida e culta.

Acompanhando essa história do Rojão em que movimentos sociais encontram-se em uma verdadeira guerra de versões com a Rede Globo fiquei imaginando como será que se sentem os que lá trabalham. Como não mandam seus superiores pro caralho e saem dali dispostos a encontrar um trabalho mais digno e humano. Mas a verdade é que seus anseios de vaidade e segurança falam mais alto e seus costumes de obediência imperam. Não existe reforma onde não existe reflexão. Não defendo a piedade com essas pessoas, acredito que são criminosas. Hoje em dia a verdade está a um clique de nós. Somos filhos da Revolução da Informação e não podemos mais admitir a vida fácil dos que tem medo e dinheiro. Só não vê quem não quer. A banalidade do mal mudou porque na época que Hannah criou esse conceito, não havia acesso à toda essa contra informação e a tantos relatos do mundo em que vivemos. Hoje a banalidade do mal é a pior das maldades porque é banal por opção. Somente a revolução real pode acabar com isso, banalidade do mal compreensível está naqueles que lutam por reformas. O cenário está dado.

Guia para o impossível

Nota Pública Sobre os Acontecimentos na Central do Brasil

Fonte: Assembleia do Largo

O ato contra o aumento das passagens, realizado no dia 06 de fevereiro de 2014, contou com a presença de mais de três mil manifestantes, reunindo uma pluralidade de pessoas e movimentos diversos. O protesto dava sequência aos atos anteriores nos quais manifestantes, trabalhadores e usuários do transporte público reivindicavam melhorias e o barateamento da tarifa dos transportes públicos por meio de um catracaço realizado na estação Central do Brasil. Diferentemente das duas ocasiões anteriores, a polícia dispersou a multidão de forma truculenta, bombas de efeito moral e gás lacrimogêneo foram amplamente utilizadas contra todos os que se encontravam nas imediações da estação Central do Brasil naquele momento, sendo estes manifestantes, usuários do transporte ou mesmo transeuntes desavisados.

Por conta da atuação policial, a situação rapidamente se tornou caótica, culminando na morte de duas pessoas. Nesse mesmo dia presenciamos o atropelamento e morte de Tasman Accioly e o grave ferimento que vitimou Santiago Ilídio Andrade, cinegrafista da Rede Bandeirantes de Televisão. Diante do ocorrido, nós, abaixo assinados, prestamos solidariedade às vítimas, suas famílias e amigos, e lamentamos profundamente a situação que levou aos dois acidentes. Entendemos que tais perdas representam tragédias pessoais pois cada vida deve ser valorizada de maneira igualitária, mas também coletivas pois dizem respeito à todos nós que estamos nas ruas. Dessa forma, para que estas e outras tragédias não sigam acontecendo, nos sentimos na obrigação de levantar alguns pontos importante para reflexão:

1) Desde o início dos protestos, o direito à reunião, à opinião e à livre manifestação (legítimos e amparados pela Constituição Federal de 1988) têm sido severamente atacados por meio do uso abusivo da força policial que conta com o respaldo de outras instituições públicas e privadas. Apesar de ser responsável direto por dezenas de mortes e centenas de pessoas feridas com gravidade em atos cuja intencionalidade foi clara, o poder público e empresarial quer transferir sua violência àqueles que estão nas ruas, lutando por melhores condições de vida e mais democracia. Está muito claro que a violência que agora aparece é resultado dos arranjos de poder costurados antes. Assim como as estratégias adotadas pelo governo e a grande mídia corporativa para reprimir as manifestações só vão produzir as condições para que a violência se agrave mais no futuro.

As manifestações sempre se pautaram pela contestação PACÍFICA à forma de atuação de governantes e empresários na gestão do país e da cidade do Rio de Janeiro, no sentido de jamás ter o objetivo de causar risco à vida de quem quer que seja. Uma semana antes, dois atos puxados pelos manifestantes contra o aumento abusivo das passagens ocorreram sem maiores transtornos. Qual a diferença entre eles e o de quinta-feira, 06 de fevereiro? Nós respondemos: o massacre perpetrado pela PMERJ na Central do Brasil na última quinta-feira, que estendeu o conflito à toda a região do Centro e aos trabalhadores que por ali passavam no momento. Jamais os manifestantes visaram atingir quem quer que fosse.

O que ocorreu com o jornalista da Rede Bandeirantes de Televisão Santiago Andrade, bem como a morte do vendedor ambulante Tasman Accioly foram fatos inaceitáveis ocasionados por um conflito violento que não desejamos e SOBRETUDO QUE NÃO INICIAMOS. As responsabilidades, devem ser tratadas com seriedade e respeito aos direitos de todos os indiciados ou acusados, sejam eles policiais

ou manifestantes. Repudiamos todo julgamento prévio e o linchamento público que dele resulta.

2) A violência e o assassinato fazem parte do repertório político do Estado na tentativa de controlar a população e impedir manifestações populares. Vale lembrar que, desde junho de 2013, foram pelo menos 25 mortos[1] em decorrência direta da ação da polícia contra as manifestações e os manifestantes. Segundo dados da Abraji[2], apenas em 2013 foram 114 jornalistas feridos nas manifestações, a grande maioria deles atingida por artefatos e golpes de policiais militares. Recordamos ainda que esses números se referem apenas às agressões que foram registradas, podendo este ser ainda maior pois por medo de perseguição política muitas agressões acabam não sendo denunciadas. Todavia, nenhum dos feridos nas manifestações, dentre os quais o fotógrafo Sérgio Silva que perdeu um olho ao tomar um tiro de bala de borracha disparado pela polícia, mereceu qualquer retratação por parte do Estado nem a mesma atenção por parte da mídia corporativa. Os policiais envolvidos nas agressões jamais foram responsabilizados pelos atos de violência, nem investigações foram levadas adiante. Nesse mar de atrocidades, por que dar exclusividade ao caso de Santiago? Essa tragédia não pode servir como pretexto para qualquer repressão maior ao exercício dos direitos políticos. Ou assumimos todos a luta pela democracia ou corremos o risco de ver o Estado de exceção e a violência se tornarem o único horizonte político.

3) A violência que ocorre na, ou mais propriamente contra as manifestações é também semeada pela mídia. Quem se lembra, por exemplo, quando em julho de 2013, por ocasião da visita do papa ao Rio de Janeiro, a Rede Globo de Televisão editou imagens e acusou, de modo leviano e irresponsável, o ativista Bruno Ferreira Telles de ter atirado um “coquetel molotov” contra a polícia? Em seguida, no entanto, foram levantados fatos e convincentes indícios, por iniciativa exclusiva dos demais manifestantes de que: a) o artefato havia sido atirado por um policial infiltrado (P2), fato jamais esclarecido pelo Estado ou pela referida rede de televisão; b) que toda a edição de imagens da Rede Globo era falsa, quando não abertamente mentirosa e, por isso mesmo, criminosa; c) que as acusações faziam parte de uma estratégia da empresa de comunicação em parceria com o governo do Estado para criminalizar e desacreditar o movimento. Mais ainda, quem se lembra da atuação do Promotor Público em entrevista à referida emissora, condenando sem provas e totalmente fora de seu campo de atuação um manifestante por “tentativa de homicídio”? Ainda aguardamos os pedidos de desculpas da emissora da família Marinho e do agente público em questão pela exploração leviana e vil destes episódios. A mesma que vemos agora envolvendo novamente a Rede Globo de Televisão e o delegado responsável pelo caso Santiago. Lembremos, ainda, do caso grotesco do morador de rua Rafael Vieira, o primeiro condenado durante as manifestações, que segue preso por portar uma garrafa de desinfetante e outra de água sanitária.

A cobertura da grande imprensa não se orienta pelo esclarecimento dos fatos, mas pela intervenção política e a intenção de acuar e demonizar os protestos, com o intuito de manter salvaguardados seus interesses e aqueles de seus sócios. Desde pelo menos a ditadura empresarial-militar de 1964 que a Rede Globo de Televisão faz o duplo papel de parte envolvida no conflito e de juíza deste mesmo conflito: declara-se imparcial, mas defende a atual política de transportes – incluindo o aumento rejeitado pelo relatório do tribunal de Contas do município TCM – e atua desde junho de 2013 para criminalizar e desqualificar o movimento.

4) Os acidentes envolvendo jornalistas também são responsabilidade das empresas para as quais estes trabalham. Reiteradamente, assistimos a negligência destas quanto à segurança de seus empregados. Quando as empresas agora expressam pesar, como no caso do jornalista Santiago Andrade, da Rede

Bandeirantes de Televisão, é com cinismo que o fazem, pois nunca se importaram com a vida da população ou com a segurança de seus funcionários. A Rede Bandeirantes de Televisão enviou o jornalista Santiago Andrade sem qualquer Equipamento de Proteção Individual (EPI) – conforme regula a Norma Reguladora n. 06 – para a linha de frente de um conflito marcado desde o início pela violência do Estado. Vide ainda o caso do jornalista Tim Lopes, morto pelas mãos de traficantes armados, mas enviado para eles pela empresa que o contratava, a Rede Globo de Televisão, da família Marinho, segundo afirma a própria viúva de Tim[3].

5) A violência estatal e empresarial também marca a realidade carioca do serviço público de transporte. Recentemente, três trágicos acidentes automobilísticos e ferroviários abalaram a cidade do Rio de Janeiro: um ônibus da viação ‘Paranapuan’ despencou de um viaduto próximo à Ilha do Governador, em abril de 2013, matando 09 pessoas, após um passageiro agredir o motorista que, sozinho tinha que contê-lo, dirigir o ônibus e ainda fazer as vezes de trocador, tudo ao mesmo tempo; no dia 22 de janeiro de 2014 um trem da Supervia descarrilou, ocasionando grande transtorno aos usuários, que não receberam a devida assistência da concessionária e tiveram que caminhar pela via férrea, correndo o risco de serem atingidos por outros trens; finalmente, no dia 28 de janeiro último, um caminhão a serviço da prefeitura atingiu uma passarela na Linha Amarela, que por causa do impacto acabou despencando, e matou cinco pessoas e feriu outras tantas. Tais casos, envolvendo falta de segurança, negligência na manutenção dos transportes e precárias condições de trabalho – a dupla função no caso do motorista de ônibus – não receberam maiores atenções por parte da mídia ou do Estado, nem tiveram averiguadas as responsabilidades em questão. Quando se trata de agentes econômicos poderosos e dos governantes municipais e estaduais, nenhum perito é convidado a falar, e a corda arrebenta sempre, invariavelmente, do lado mais fraco. Então perguntamos: a vida dessas pessoas não vale uma investigação? Essa violência brutal, fruto dos arranjos mafiosos em torno do sistema de transportes não possuem responsáveis? Onde está a CPI dos ônibus? Quem mandou engaveta-la? E com que fim?

7) Por tudo isso, não vamos aceitar o clima de guerra que o Estado e a Rede Globo de Televisão mais uma vez tentam nos impor. Eles, que sempre plantaram o medo e a violência, que não sabem lidar com a contestação que a multidão pratica nas ruas, são os únicos beneficiários desta política do medo e da violência. Neste sentido, talvez seja oportuno recuperar o motivo pelo qual estamos nas ruas, e também as razões pelas quais as manifestações cresceram e se massificaram.

Contra a violência cotidiana dos transportes, a tarifa zero e uma vida sem catracas; contra a violência cotidiana do Estado e sua polícia, a desmilitarização e a paz dos muitos que saem às ruas; contra a violência cotidiana da mídia, a valorização da resistência que é condição para qualquer democracia digna deste nome; contra a violência dos grandes eventos e a cidade-mercado, a luta da população que cria e recria o Rio de Janeiro e que resiste nas redes e nas ruas.

As manifestações são o resultado da falência dos acordos de gabinete envolvendo empresários, imprensa corporativa e governantes. A resistência da população que luta é a única possibilidade de atingirmos uma real democracia, que só pode se dar de fato através da participação popular na gestão pública. Nas ruas, buscamos a todo custo praticar a democracia que defendemos. Não fazemos projetos mentirosos nem vendemos esperança de dias melhores para a população. A democracia que pregamos é a mesma que rege o funcionamento horizontal de catracaços, assembleias, grupos e eventos coletivos. Se há um traço capaz de unir pessoas e grupos tão diferentes é a alegria por compartilhar a construção de uma cidade mais democrática; a coragem de enfrentar o medo e lutar por um Rio de Janeiro mais

colorido e por isso mesmo pacífico; o amor pelo outro que nos leva a correr riscos nessa caminhada. E é exatamente por lutarmos pela vida – nossa e dos outros e outras pelas ruas – que não podemos deixar passar tamanha manipulação e oportunismo em torno da morte do cinegrafista Santiago Andrade e o absoluto silêncio diante de todas as outras perdas, sobre as quais a mídia, por conveniência, silenciou. Chega de Amarildos. Aqui ninguém fica pra trás!

[1] Disponível em: http://www.midiaindependente.org/pt/blue/2014/02/528893.shtml
[2] Disponível em: http://portal.comunique-se.com.br/index.php/comunicacao/73121-policia-e- responsavel-por-75-das-agressoes-a-jornalistas-revela-levantamento-da-abraji
[3] Disponível em: http://jornalggn.com.br/blog/luisnassif/a-omissao-da-tv-globo-no-caso-tim-lopes

MANIFESTO DE REPÚDIO À TIPIFICAÇÃO DO CRIME DE TERRORISMO

MAIS DE 140 MOVIMENTOS E ORGANIZAÇÕES SOCIAIS CONTRA O AI-5 DA ‘DEMOCRACIA’!

NÃO PASSARÃO!

MANIFESTO DE REPÚDIO À TIPIFICAÇÃO DO CRIME DE TERRORISMO:

Pelo presente manifesto, as organizações e movimentos subscritos vêm repudiar as propostas para a tipificação do crime de Terrorismo que estão sendo debatidas no Congresso Nacional, através da comissão mista, com propostas do Senador Romero Jucá e Deputado Miro Teixeira.

Primeiramente, é necessário destacar que tal tipificação surge num momento crítico em relação ao avanço da tutela penal frente aos direitos e garantias conquistados pelos diversos movimentos democráticos.
Nos últimos anos, houve intensificação da criminalização de grupos e movimentos reivindicatórios, sobretudo pelas instituições e agentes do sistema de justiça e segurança pública.

Inúmeros militantes de movimentos sociais foram e estão sendo, através de suas lutas cotidianas, injustamente enquadrados em tipos penais como desobediência, quadrilha, esbulho, dano, desacato, dentre outros, em total desacordo com o princípio democrático proposto pela Constituição de 1988.

Neste limiar, a aprovação pelo Congresso Nacional de uma proposta que tipifique o crime de Terrorismo irá incrementar ainda mais o já tão aclamado Estado Penal segregacionista, que funciona, na prática, como mecanismo de contenção das lutas sociais democráticas e eliminação seletiva de uma classe da população brasileira.

Nesta linha, o inimigo que se busca combater para determinados setores conservadores brasileiros, que permanecem influindo nos Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário, é interno, concentrando-se, sobretudo, nos movimentos populares que reivindicam mudanças profundas na sociedade brasileira.

Dentre as várias propostas, destaca-se o Projeto de Lei de relatoria do Senador Romero Jucá, que em seu art. 2º define o que seria considerado como Terrorismo: “Art. 2º – Provocar ou infundir terror ou pânico generalizado mediante ofensa à vida, à integridade física ou à saúde ou à privação da liberdade de pessoa, por motivo ideológico, religioso, político ou de preconceito racial ou étnico: Pena – Reclusão de 15 a 30 anos”.

Trata-se, inicialmente, de uma definição deveras abstrata, pois os dois verbos provocar e infundir são complementados pelos substantivos terror e pânico. Quem definiria o que seria terror e pânico? Como seria a classificação do terror e pânico generalizado? Ora, esta enorme abstração traz uma margem de liberdade muito grande para quem vai apurar e julgar o crime. Além disso, esse terror ou pânico generalizado, já de difícil conceituação, poderia ser causado, segundo a proposta, por motivos ideológicos e políticos, o que amplia ainda mais o grau de abstração e inconstitucionalidade da proposta.

É sabido que as lutas e manifestações de diversos movimentos sociais são causadas por motivos ideológicos e políticos, o que, certamente, é amplamente resguardado pela nossa Constituição. Assim, fica claro que este dispositivo, caso seja aprovado, será utilizado pelos setores conservadores contra manifestações legítimas dos diversos movimentos sociais, já que tais lutas são realmente capazes de trazer indignação para quem há muito sobrevive de privilégios sociais.

Também a proposta do Deputado Miro Teixeira revela o caráter repressivo contra manifestações sociais, evidenciada em um dos oito incisos que tipifica a conduta criminosa: “Incendiar, depredar, saquear, destruir ou explodir meios de transporte ou qualquer bem público ou privado”. Verifica-se, portanto, que as propostas são construídas sobre verdadeiros equívocos políticos e jurídicos, passando ao largo de qualquer fundamento ou motivação de legitimidade.

Agregue-se, ainda, o cenário de repressão e legislação de exceção paulatinamente instituídos pela agenda internacional dos grandes eventos esportivos, solapando a soberania política, econômica, social e cultural do povo brasileiro, e a fórmula dos fundamentos e motivações da tipificação do crime de terrorismo se completa, revelando a sua dimensão de fascismo de estado, incompatível com os anseios de uma sociedade livre, justa e solidária.

Já contamos quase 50 anos desde o Golpe de 64 e exatamente 25 anos desde a promulgação da ‘Constituição Cidadã’. Nesse momento, diante da efervescência política e da bem-vinda retomada dos espaços públicos pela juventude, cumpre ao Congresso Nacional defender a jovem democracia brasileira e rechaçar projetos de lei cujo conteúdo tangencia medidas de exceção abomináveis como o nada saudoso ‘AI-5’.

Desta maneira, repudiamos veementemente estas propostas de tipificação do crime que, sobretudo, tendem muito mais a reprimir e controlar manifestações de grupos organizados, diante de um cenário já absolutamente desfavorável às lutas sociais como estamos vendo em todo o Brasil.

ASSINAM:

Ação dos Cristãos para a Abolição da Tortura – ACAT Brasil
Actionaid Brasil
Anarquistas Contra o Racismo – ACR
Assembleia Nacional dos Estudantes – Livre – ANEL
Associação Brasileira de Ensino de Arquitetura e Urbanismo – ABEA
Associação Cultural José Martí/RS
Associação de Amizade Brasil-Cuba do Ceará (Casa José Martí)
Associação dos Especialistas em Políticas Públicas do Estado de São Paulo – AEPPSP
Associação dos Geógrafos Brasileiros – AGB
Associação dos Servidores do IJF – ASSIJF
Associação Juízes Para a Democracia – AJD
Associação Missão Tremembé – AMI
Associação Nacional de Transportes Públicos – ANTP
Associação Nacional dos Anistiados Políticos e Pensionistas
Bento Rubião – Centro de Defesa dos Direitos Humanos
Brigadas Populares
Casa da América Latina
Casa de Cultura e Defesa da Mulher Chiquinha Gonzaga
Cearah Periferia
Central de Movimentos Populares – CMP
Centro Cultural Manoel Lisboa
Centro de Assessoria à Autogestão Popular – CAAP
Centro de Defesa da Vida Herbert de Sousa – Ceará
Centro de Defesa dos Direitos Humanos Nenzinha Machado – Piauí
Centro de Direitos Humanos e Cidadania Ir. Jandira Bettoni – Lages/ Santa Catarina
Centro de Direitos Humanos e Educação Popular – CDDHEP – Acre
Centro de Direitos Humanos e Educação Popular do Campo Limpo – CDHEP
Centro de Direitos Humanos e Memória Popular de Foz do Iguaçu
Centro Dom Helder Câmara de Estudos e Ação Social – CENDHEC
Centro Gaspar Garcia de Direitos Humanos
Coletivo de Artistas Socialistas – CAS
Coletivo de Memória, Verdade e Justiça João Batista da Rita de Criciúma
Coletivo Desentorpecendo a Razão – DAR
Coletivo RJ Memória, Verdade e Justiça
Comboio
Comissão de Defesa da Liberdade de Imprensa e Direitos Humanos da Associação Brasileira de Imprensa – ABI
Comissão de Direitos Humanos do Sindicato dos Advogados de São Paulo
Comitê Estadual de Educação em Direitos Humanos do Piauí
Comitê Goiano da Memória, Verdade e Justiça
Comitê Memória, Verdade e Justiça da Paraíba
Comitê Memória, Verdade e Justiça do Ceará
Comitê Memória, Verdade e Justiça do Delta do Parnaíba – Piauí
Comitê Pela Desmilitarização
Comitê pela Verdade, Memória e Justiça do Piauí
Comitê Popular da Copa de Salvador
Comitê Popular da Copa de SP
Comitê Popular da Copa e das Olimpíadas do Rio de Janeiro
Comitê Popular dos Atingidos pela Copa – COPAC BH
Comitê Popular Memória, Verdade, Justiça do RS
Comitê Verdade, Memória e Justiça de Pelotas e Região
Conectas
Confederação Nacional de Associações de Moradores – CONAM
Conselho Federal de Serviço Social – CFESS
Conselho Municipal de Direitos Humanos e Cidadania de Campinas
Consulta Popular
Coordenação do Fórum Nacional de Reforma Urbana
Diretório Central Estudantil da Universidade Federal do Espírito Santo
Escola de Governo
Espaço Kaleidoscópio – Criciúma-SC
Federação de Órgãos para Assistência Social e Educacional – FASE
Federação Interestadual dos Sindicatos de Engenharia – FISENGE
Federação Nacional das Associações de Empregados da Caixa Econômica – FENAE
Federação Nacional dos Arquitetos e Urbanistas – FNA
Federação Nacional dos Estudantes de Arquitetura e Urbanismo do Brasil – FENEA
Fórum Catarinense Pelo Fim da Violência e da Exploração Sexual Infanto-juvenil
Fórum da Amazônia Oriental/ GT Urbano – FAOR
Fórum de Reparação e Memória do Rio de Janeiro
Fórum Direito à Memória e à Verdade do Espírito Santo
Fórum Nordeste de Reforma Urbana – FneRU
Fórum Sul de Reforma Urbana
Fórum Urbano da Amazônia Ocidental – FAOC
Frente de Resistência Urbana
Grupo Lambda LGBT Brasil
Grupo Tortura Nunca Mais – RJ
Grupo Tortura Nunca Mais – SP
Habitat para a Humanidade
Identidade – Grupo de Luta pela Diversidade Sexual
Instituto Brasileiro de Administração Municipal – IBAM
Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas – IBASE
Instituto Brasileiro de Ciências Criminais – IBCCRIM
Instituto de Defensores de Direitos Humanos – DDH
Instituto de Estudos, Formação e Assessoria em Políticas Sociais – PÓLIS
Instituto Edson Néris
Instituto Frei Tito
Instituto Paulista da Juventude – IPJ
Instituto Práxis de Direitos Humanos
Instituto Terra, Trabalho e Cidadania – ITTC
Justiça Global
Levante Popular da Juventude
Luta Popular
Mães de Maio
Marcha Mundial das Mulheres
Movimento AnarcoPunk – MAP
Movimento da Juventude Andreense – MJA
Movimento de Luta nos Bairros, Vilas e Favelas – MLB
Movimento de Moradia do Centro – MMC
Movimento de Segurança Urbana e Carcerária
Movimento dos Pequenos Agricultores – MPA
Movimento dos Atingidos por Barragens – MAB
Movimento dos Trabalhadores Sem Terra – MST
Movimento dos Trabalhadores Sem Teto – MTST
Movimento em Defesa da Economia Nacional – MODECOM
Movimento Hip-Hop Organizado – MH2O
Movimento Moinho Vivo – Favela do Moinho
Movimento Mulheres em Luta – MML
Movimento Nacional dos Direitos Humanos – MNDH
Movimento Nacional de Luta pela Moradia – MNLM
Movimento Palestina Para Tod@s
Movimento Passe Livre – MPL
Movimento Periferia Ativa
Núcleo de Direito à Cidade – USP
Núcleo De Diversidade Seremos – ACR
Partido Comunista Revolucionário
Pastoral Carcerária Nacional
Pastoral da Juventude da Arquidiocese de São Paulo
Quilombo Raça e Classe
Reaja Ou Será Morto, Reaja Ou Será Morta (Bahia)
Rede 2 de Outubro
Rede de Comunidades e Movimentos Contra Violência (RJ)
Rede Nacional de Adolescentes e Jovens Comunicador@s – RENAJOC
Rede Nacional de Advogados e Advogadas Populares – RENAP
Rede Nacional de Familiares e Amigos de Vítimas do Estado
Rede Observatório das Metrópoles
Rede Social de Justiça e Direitos Humanos
Sarau Perifatividade
Serviço de Paz e Justiça – SERPAJ, América Latina
Serviço Ecumênico de Militância nas Prisões/SEMPRO – Pernambuco
Serviço Franciscano de Solidariedade – SEFRAS
Serviço Inter-Franciscano de Justiça, Paz e Ecologia – SINFRAJUPE
Sindicato dos Gráficos do Ceará – SINTIGRACE
Sindicato dos Servidores do Município de Fortaleza – SINDIFORT
Streetnet Internacional
Terra de Direitos
Tribunal Popular
39º Núcleo do CPERS – Sindicato
União de Núcleos de Educação Popular para Negras/os da Classe Trabalhadora – UNEAFRO
União Nacional por Moradia Popular – UNMP
Viração Educomunicação

Não importa quem foi

Talvez o Rojão não tenha vindo do Black Bloc. Acho muito possível que tenha vindo da polícia de alguma forma. Já circulam fotos do suspeito P2 na internet. Não podemos negar que essa situação toda facilitou bastante a implantação de políticas mais duras contra os manifestantes, o que já era uma grande preocupação do governo federal pré copa do mundo. Então não seria nada espantoso que tudo tivesse sido uma grande armação.

Mesmo assim, sigo defendendo que o Black Bloc tem que parar. Porque essa dinâmica de violência nas manifestações vem dando brechas para a implantação de uma ditadura com apoio da opinião pública, a articulação estado-mídia precisa ser levada em consideração para ações futuras. A tática do bloco negro que se repete (variando apenas o grau da radicalidade das ações) já se tornou uma peça em um tabuleiro muito mais complexo do que imaginamos. Por causa da constância da ação já é possível prever, manipular e se organizar apropriadamente para lidar com os anarcopunks revoltados.

Se o estado quer implantar uma medida tão ditatorial quanto essa nova lei que enquadra manifestantes enquanto terroristas por motivos de aparências internacionais, é claro que ele vai se aproveitar do despreparo dos manifestantes juvenis (muitos iniciados na política desde Junho passado) e mexer as peças no seu tabuleiro contando com o peão Globo sempre ao seu lado.

Então não importa se veio mesmo do Black Bloc ou se veio do P2. Essa situação previsível e ineficaz enquanto propulsora de mudança não faz mais sentido. Já virou samba do criolo doido, casa da mãe joana, pra lá de Bagdá. Precisamos rever estratégias.

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Porque sinto vontade de vomitar

Gilberto Dimenstein | Catraca Livre

Pelas redes sociais vejo a foto de um jovem amarrado ontem na avenida Paulista, vítima de um trote. O trote foi feito por alunos de uma faculdade de comunicação (Cásper Líbero), vejam só, de relações públicas e propaganda — gente que escolheu profissionalmente se comunicar produtivamente.

A imagem me fez lembrar o rapaz espancado e acorrentado no Rio, acusado de cometer crimes. O que se seguiu a essa imagem foi uma onda de solidariedade aos “justiceiros” — só isso já mostra até onde vai a doença da violência.

A cena ofereceu momentos de glória para uma apresentadora de TV (Rachel Sheherazade) que, em essência, disse o seguinte: a sociedade está cansada de impunidade e aquele tipo de revide quem sabe funcione. Recebeu centenas de milhares de aplauso.

Não vou comentar o que ela falou. Mas só registrar que esse tipo de postura ganha apoio na sociedade, devido à insegurança generalizada. Entre os apoiadores da apresentadora, Paulo Maluf, que, como sabemos, fez muito menos delinquências do que aquele jovem acorrentado.

Para completar, ainda estamos todos chocados com a morte do cinegrafista no Rio, vítima dos Black Blocs, que se transformaram, vejam só, em força politica — mas são apenas delinquentes.

Enquanto isso, Fábio Porchat é ameaçado de morte porque fez um vídeo (ótimo, aliás) para o Porta dos Fundos denunciando, pelo humor, a violência policial.

Sinceramente, dá vontade de vomitar.

O Black Bloc tem que parar!

Eu sabia!

“Estou apaixonada pelo Black Bloc” disse uma amiga ativista que muito respeito em mais uma dessas mesas de bar. Há meses que tenho tentado digerir essa tática tão defendida por quem está nas ruas. Fico sempre ouvindo, tentando entender o porquê de não conseguir ver solução, sequer CAMINHO de mudança vinda dessa galera. Fiz de tudo, conversei com o máximo de pessoas que eu pude, até pra São Paulo encontrar os amigos reformistas-políticas-públicas-conferências-conselhos eu fui. TODOS me afirmavam que o Black Bloc é legítimo enquanto expressão de revolta do povo, que é resultado de anos de exploração da classe dominante, que representa a autonomia de uma classe C emergente que vem se livrando das amarras da fome, que é resultado da traição do Partido dos Trabalhados que deixou as massas perdidas, que promove o debate sobre a violência policial, que renova as energias dos jovens ativistas, já ouvi de tudo!

Fui me deixando convencer e tentando julgar menos o que eu via com meus próprios olhos nos atos que participava. Olhava ao meu redor na presença do Black Bloc e não conseguia ver a politização ali, só via jovens perdidos querendo chamar atenção. Os anarcopunks de cabelo roxo, calça rasgadas propositalmente, botinas de guerra sujas segurando suas bandeiras e escudos, cantando “poder para o povo” em nome de um povo que ali não se encontrava. Eram os justiceiros, portadores de todo o bem ou, pelo menos, é o que pareciam acreditar. Super heróis alucinados lutando contra o “estado dominante” na escadaria da Câmara dos Vereadores.

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Aos poucos fui deixando de ir pra rua. Eu realmente não me encaixo com aquelas pessoas que me davam medo e me olhavam com desdém. A tal auto proclamada vanguarda. Mas segui apoiando… Todo mundo tá apoiando, né?

Me lembro que um dia postei no Facebook o título desse post: “O Black Bloc tem que parar”. Fui massacrada pelos comentários me xingando de coxinha, de alienada. Fui realmente humilhada na minha própria feed por expressar o que meu coração sentia. Foi um pouco depois disso que comecei a aceitar e esperar pra ver no que vai dar. Me deixei convencer pela maioria.

E taí. Deu no que deu. Semana passada morreu um cinegrafista da Band que tem uma cara tão simpática, tadinho. O cara levou uma bomba caseira na cabeça vinda de um manifestante desses que acha que é a vanguarda da resistência. Parou o mundo, só se fala nisso, inicia-se mais uma guerra contra a Globo que aproveita o caso para proliferar mais medo entre a população que vem cada vez mais apoiando a punição dos “vândalos” e o Estado rapidamente usa disso como desculpa para aprovar uma lei que enquadra manifestantes como terroristas e praticamente impossibilita manifestações. Aos poucos somos nós que vamos dando as brechas para que a ditadura seja implantada oficialmente com apoio da opinião pública.

É tamanha burrice jamais vista. Ninguém mais vai pras ruas, as reuniões e assembleias viraram uma constante análise dos acontecimentos semanais e tentativas frustradas de fazer eventos de formação, manifestações criativas e vídeos virais para tentar explicar pra população o outro lado da história. Fazer a “contra-informação” como se meia dúzia de coletivos fossem esclarecer alguma coisa dita pela Globo no Fantástico! De nada adianta já que já estamos censurados pelo Facebook mesmo e acabamos falando entre nós as mesmas coisas para nós mesmos. (Achando que isso é ativismo e esse é o caminho da revolução.)

Enquanto isso planos de fato revolucionários, de mudança radical baseados em estratégias que divergem dos fundamentados no sistema atual como a não-violência, compra coletiva de terrenos para viver em comunidades, boicotes, arte de rua, terrorismo poético, rodas de conversa pra crianças, queima de todo o dinheiro, ações criativas simultâneas e extremamente organizadas são deixados de lado. São esquecidos porque dá muito trabalho. A galera quer adrenalina na rua, quer se sentir importante e macho (inclusive as mulheres) mas não quer chegar na hora em uma reunião ou entrar em conflito de ideias em uma assembleia buscando verdadeiramente o consenso.

A verdade é que ninguém leva mais nada a sério. Vai todo mundo levando tudo nas coxas, dando os jeitinhos, passando por cima de detalhes, se ocupando demais pra refletir sobre o mundo ou sobre a vida. E depois vai geral tomar uma cerveja.

Eu tô fora cara. Pode me chamar de coxinha, patricinha, covarde. Me recuso a participar dessa ilusão coletiva. Desse entretenimento barato disfarçado de política. Eu não preciso fazer mais novos amigos. Eu quero mudança e não acho que isso seja possível no Brasil hoje. Eu vou promover a mudança dentro de mim, me espiritualizar e encontrar a minha paz interior. Não vale a pena dessa maneira.

E deixo os meus mais sinceros votos de que o Black Bloc pare antes que seja tarde. Ou que alguém me apresente um plano que faça sentido.

(Esse post reflete o inconsciente coletivo fluindo através de mim. É minha opinião hoje que pode mudar amanha.)

Programa da Penny recebe Pedro Cunha

Essa semana o querido amigo ambientalista internacional Pedro Cunha veio ao Programa da Penny e conversamos bastante sobre as Nações Unidas, ativismo, meio ambiente, etc. Fiquei feliz com o resultado mas acho que deveríamos ter falado mais sobre espiritualidade, sincronias e nova era com esse homem incrível que tem uma cicatriz de beija-flor no terceiro olho e já participou de encontros com líderes espirituais internacionais.

Obrigada pela visita Pedro!

https://soundcloud.com/pennyleska/programa-da-penny-recebe-pedro

 

The Artificial Womb Is Born And The World of the Matrix Begins

”One by one the eggs were transferred from their test-tubes to the larger containers; deftly the peritoneal lining was slit, the morula dropped into place, the saline solution poured . . . and already the bottle had passed on through an opening in the wall, slowly on into the Social Predestination Room.” Aldous Huxley, ”Brave New World”

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The artificial womb exists. In Tokyo, researchers have developed a technique called EUFI — extrauterine fetal incubation. They have taken goat fetuses, threaded catheters through the large vessels in the umbilical cord and supplied the fetuses with oxygenated blood while suspending them in incubators that contain artificial amniotic fluid heated to body temperature.

Yoshinori Kuwabara, chairman of the Department of Obstetrics and Gynecology at Juntendo University in Tokyo, has been working on artificial placentas for a decade. His interest grew out of his clinical experience with premature infants, and as he writes in a recent abstract, ”It goes without saying that the ideal situation for the immature fetus is growth within the normal environment of the maternal organism.” Kuwabara and his associates have kept the goat fetuses in this environment for as long as three weeks. But the doctor’s team ran into problems with circulatory failure, along with many other technical difficulties.

Pressed to speculate on the future, Kuwabara cautiously predicts that ”it should be possible to extend the length” and, ultimately, ”this can be applied to human beings.” For a moment, as you contemplate those fetal goats, it may seem a short hop to the Central Hatchery of Aldous Huxley’s imagination. In fact, in recent decades, as medicine has focused on the beginning and end stages of pregnancy, the essential time inside the woman’s body has been reduced. We are, however, still a long way from connecting those two points, from creating a completely artificial gestation. But we are at a moment when the fetus, during its obligatory time in the womb, is no longer inaccessible, no longer locked away from medical interventions.

The future of human reproductive medicine lies along the speeding trajectories of several different technologies. There is neonatology, accomplishing its miracles at the too-abrupt end of gestation. There is fetal surgery, intervening dramatically during pregnancy to avert the anomalies that kill and cripple newborns. There is the technology of assisted reproduction, the in-vitro fertilization and gamete retrieval-and-transfer fireworks of the last 20 years. And then, inevitably, there is genetics. All these technologies are essentially new, and with them come ethical questions so potent that the very inventors of these miracles seem half-afraid of where we may be heading.

Between Womb and Air Modern neonatology is a relatively short story: a few decades of phenomenal advances and doctors who resuscitate infants born 16 or 17 weeks early, babies weighing less than a pound. These very low-birthweight babies have a survival rate of about 10 percent. Experienced neonatologists are extremely hesitant about pushing the boundaries back any further; much research is aimed now at reducing the severe morbidity of these extreme preemies who do survive.

”Liquid preserves the lung structure and function,” says Thomas Shaffer, professor of physiology and pediatrics at the School of Medicine at Temple University. He has been working on liquid ventilation for almost 30 years. Back in the late 1960′s, he looked for a way to use liquid ventilation to prevent decompression sickness in deep-sea divers. His technology was featured in the book ”The Abyss,” and for the movie of that name, Hollywood built models of the devices Shaffer had envisioned.

As a postdoctoral student in physiology, he began working with premature infants. Throughout gestation, the lungs are filled with the appropriately named fetal lung fluid. Perhaps, he thought, ventilating these babies with a liquid that held a lot of oxygen would offer a gentler, safer way to take these immature lungs over the threshold toward the necessary goal of breathing air. Barotrauma, which is damage done to the lungs by the forced air banging out of the ventilator, would thus be reduced or eliminated.

Today, in Shaffer’s somewhat labyrinthine laboratories in Philadelphia, you can come across a ventilator with pressure settings that seem astoundingly low; this machine is set at pressures that could never force air into stiff newborn lungs. And then there is the long bubbling cylinder where a special fluorocarbon liquid can be passed through oxygen, picking up and absorbing quantities of oxygen molecules. This machine fills the lungs with fluid that flows into the tiny passageways and air sacs of a premature human lung. Shaffer remembers, not long ago, when many people thought the whole idea was crazy, when his was the only team working on filling human lungs with liquid. Now, liquid ventilation is cited by many neonatologists as the next large step in treating premature infants.

In 1989, the first human studies were done, offering liquid ventilation to infants who were not thought to have any chance of survival through conventional therapy. The results were promising, and bigger trials are now under way. A pharmaceutical company has developed a fluorocarbon liquid that has the capacity to carry a great deal of dissolved oxygen and carbon dioxide — every 100 milliliters holds 50 milliliters of oxygen. By putting liquid into the lung, Shaffer and his colleagues argue, the lung sacs can be expanded at a much lower pressure. ”I wouldn’t want to push back the gestational age limit,” Shaffer says. ”I want to eliminate the damage.” He says he believes that this technology may become the standard. By the year 2000, these techniques may be available in large centers. Pressed to speculate about the more distant future, he imagines a premature baby in a liquid-dwelling and a liquid-breathing intermediate stage between womb and air: Immersed in fluid that would eliminate insensible water loss you would need a sophisticated temperature-control unit, a ventilator to take care of the respiratory exchange part, better thermal control and skin care.

The Fetus as Patient – The notion that you could perform surgery on a fetus was pioneered by Michael Harrison at the University of California in San Francisco. Guided by an improved ultrasound technology, it was he who reported, in 1981, that surgical intervention to relieve a urinary tract obstruction in a fetus was possible. ”I was frustrated taking care of newborns,” says N. Scott Adzick, who trained with Harrison and is surgeon in chief at the Children’s Hospital of Philadelphia. When children are born with malformations, damage is often done to the organ systems before birth; obstructive valves in the urinary system cause fluid to back up and destroy the kidneys, or an opening in the diaphragm allows loops of intestine to move up into the chest and crowd out the lungs. ”It’s like a lot of things in medicine,” Adzick says, ”if you’d only gotten there earlier on, you could have prevented the damage. I felt it might make sense to treat certain life-threatening malformations before birth.” Adzick and his team see themselves as having two patients, the mother and the fetus. They are fully aware that once the fetus has attained the status of a patient, all kinds of complex dilemmas result. Their job, says Lori Howell, coordinator of Children’s Hospital’s Center for Fetal Diagnosis and Treatment, is to help families make choices in difficult situations. Terminate a pregnancy, sometimes very late? Continue a pregnancy, knowing the fetus will almost certainly die? Continue a pregnancy, expecting a baby who will be born needing very major surgery? Or risk fixing the problem in utero and allow time for normal growth and development?

The first fetal surgery at Children’s Hospital took place seven months ago. Felicia Rodriguez, from West Palm Beach, Fla., was 22 weeks pregnant. Through ultrasound, her fetus had been diagnosed as having a congenital cystic adenomatoid malformation a mass growing in the chest, which would compress the fetal heart, backing up the circulation, killing the fetus and possibly putting the mother into congestive heart failure. When the fetal circulation started to back up, Rodriguez flew to Philadelphia. The surgeons made a Caesarean-type incision. They performed a hysterotomy by opening the uterus quickly and bloodlessly, and then opened the amniotic sac and brought out the fetus’s arm, exposing the relevant part of the chest. The mass was removed, the fetal chest was closed, the amniotic membranes sealed with absorbable staples and glue, the uterus was closed and the abdomen was sutured. And the pregnancy continued — with special monitoring and continued use of drugs to prevent premature labor. The uterus, no longer anesthetized, is prone to contractions. Rodriguez gave birth at 35 weeks’ gestation, 13 weeks after surgery, only 5 weeks before her due date. During those 13 weeks, the fetal heart pumped normally with no fluid backup, and the fetal lung tissue developed properly. Roberto Rodriguez 3d was born this May, a healthy baby born to a healthy mother. This is a new and remarkable technology.

Children’s Hospital of Philadelphia and the University of California at San Francisco are the only centers that do these operations, and fewer than a hundred have been done. The research fellows, residents working in these labs and training as the next generation of fetal surgeons, convey their enthusiasm for their field and their mentors in everything they say. When you sit with them, it is impossible not to be dazzled by the idea of what they can already do and by what they will be able to do. ”When I dare to dream,” says Theresa Quinn, a fellow at Children’s Hospital, ”I think of intervening before the immune system has time to mature, allowing for advances that could be used in organ transplantation to replacement of genetic deficiencies.”

But What Do We Want?

Eighteen years ago, in-vitro fertilization was tabloid news: test-tube babies! Now IVF is a standard therapy, an insurance wrangle, another medical term instantly understood by most lay people. Enormous advertisements in daily newspapers offer IVF, egg-donation programs, even the newer technique of ICSI intracytoplasmic sperm injection as consumer alternatives. It used to be, for women at least, that genetic and gestational motherhood were one and the same. It is now possible to have your own fertilized egg carried by a surrogate or, much more commonly, to go through a pregnancy carrying an embryo formed from someone else’s egg. Given the strong desire to be pregnant, which drives many women to request donor eggs and go through biological motherhood without a genetic connection to the fetus, is it really very likely that any significant proportion of women would take advantage of an artificial womb? Could we ever reach a point where the desire to carry your own fetus in your own womb will seem a willful rejection of modern health and hygiene, an affected earth-motherism that flies in the face of common sense — the way I feel about mothers in Cambridge who ostentatiously breast-feed their children until they are 4 years old?

I would argue that God in her wisdom created pregnancy so Moms and babies could develop a relationship before birth, says Alan Fleischman, professor of pediatrics at Albert Einstein College of Medicine in New York, who directed the neonatal program at Montefiore Medical Center for 20 years. Mary Mahowald, a professor at the MacLean Center for Clinical Medical Ethics at the University of Chicago, and one of her medical students surveyed women about whether they would rather be related to a child gestationally or genetically, if they couldn’t choose both. A slight majority opted for the gestational relationship, caring more about carrying the pregnancy, giving birth and nursing than about the genetic tie. ”Pregnancy is important to women,” Mahowald says. ”Some women might prefer to be done with all this — we hire our surrogates, we hire our maids, we hire our nannies — but I think these things are going to have very limited interest.” Susan Cooper, a psychologist who counsels people going through infertility workups, isn’t so sure. Yes, she agrees, many of the patients she sees have ”an intense desire to be pregnant but it’s hard to know whether that’s a biological urge or a cultural urge.”

And Arthur L. Caplan, director of the Center for Bioethics at the University of Pennsylvania, takes it a step further. Thirty years from now, he speculates, we will have solved the problem of lung development; neonatology will be capable of saving 15- and 16-week-old fetuses. There will be many genetic tests available, easy to do, predicting the risks of acquiring late-onset diseases, but also predicting aptitudes, behavior traits and aspects of personality. There won’t be an artificial womb available, but there will be lots of prototypes, and women who can’t carry a pregnancy will sign up to use the prototypes in experimental protocols. Caplan also predicts that ”there will be a movement afoot which says all this is unnecessary and unnatural, and that the way to have babies is sex and the random lottery of nature a movement with the appeal of the environmental movement today.”

Sixty years down the line, he adds, the total artificial womb will be here.

”It’s technologically inevitable. Demand is hard to predict, but I’ll say significant.” It all used to happen in the dark — if it happened at all. It occurred well beyond our seeing or our intervening, in the wet, lightless spaces of the female body. So what changes when something as fundamental as human reproduction comes out of the closet, so to speak? Are we, in fact, different if we take hands-on control over this most basic aspect of our biology? Should we change our genetic trajectory and thus our evolutionary path? Eliminate defects or eliminate differences or are they one and the same? Save every fetus, make every baby a wanted baby, help every wanted child to be born healthy — are these the same? What are our goals as a society, what are our goals as a medical profession, what are our goals as individual parents — and where do these goals diverge? ”The future is rosy for bioethicists,” Caplan says. Perri Klass’s most recent book is ”Baby Doctor.” She is a pediatrician at Boston Medical Center.

Source: NY Times

Open Access na área de Inteligência Artificial

OpenAccesslogo

O movimento pelo acesso aberto à produção científica (também conhecido como Open Access, Ciência Aberta, e outros nomes) já não é novidade há uns bons anos. Desde seu surgimento já tivemos diversos manifestos, lançamentos de revistas específicas que adotam essa política, algumas editoras permitindo a publicação de artigos nesses moldes em revistas convencionais, debates sobre formatos, tentativas de implementação de políticas públicas sobre o tema, sociedades científicas disponibilizando os anais de suas conferências para o público em geral, e mais.

Recentemente a Sociedade Brasileira de Automática (SBA) tornou público os artigos apresentados das edições de 2001 à 2011 do Simpósio Brasileiro de Automação Inteligente (SBAI), importante fórum de pesquisadores da área de automação, inteligência artificial, otimização, robótica, e afins.

Aproveitando esse episódio resolvi começar uma lista, ainda que incompleta, com conferências e revistas de acesso aberto da área de inteligência artificial e suas sub-áreas. O que me chamou atenção é que há um número até razoável de conferências e revistas desse tipo com alto impacto na comunidade de pesquisadores quando levamos em conta o índice Qualis para ciência da computação (extratos A1-A2-B1), que também atribui notas para conferências. Utilizei o índice definido na Avaliação Trienal 2010, pois o índice para conferências da Avaliação Trienal 2013 ainda não foi publicado.

Isso foi uma constatação positiva pois uma das críticas que o Open Access recebe é o baixo impacto de publicações desse tipo quando comparadas à publicações fechadas, já estabelecidas há mais tempo.

Vamos à lista, e se você tiver alguma contribuição favor colocar nos comentários que irei atualizá-la aos poucos:

Revistas

Conferências

Aproveitando o tema gostaria de parabenizar a Association for the Advancement of Artificial Intelligence (AAAI), ex-American Association for Artificial Intelligence, por disponibilizar os anais de todas as suas conferências e ainda apoiar o Journal of Artificial Intelligence Research e o International Joint Conference on Artificial Intelligence. Você pode visitar a biblioteca digital da AAAI e baixar os artigos das revistas, conferências, e relatórios técnicos, ficando exclusivo para sócios apenas os artigos da revista não-científica AI Magazine. Gostei bastante dessa política da entidade e, como a defesa do acesso aberto é um tema caro para mim, pretendo associar-me à AAAI assim que possível.

E você de outra área, já teve curiosidade em buscar por revistas e conferências de acesso aberto em seu campo?

* Importante dizer, a revista Artificial Intelligence, publicada pela Elsevier, não é de acesso aberto. Entretanto, você pode criar um cadastro gratuito na IJCAI e ter acesso ao conteúdo da revista – o que não garante que estes artigos estarão disponíveis sempre.

Fonte (Ctrl C + Ctrl V): http://blog.filipesaraiva.info/?p=1227