Archive for May 2014

O Perigo da Cultura de Redes

Existe um forte encantamento global com as novas possibilidades de interação social e produção criativa consequência das (nem tão) novas plataformas de comunicação na internet. Vivemos um momento quase histérico de exaltação do software livre e da produção coletiva em rede. São poucos os que param para refletir sobre a estranheza dessa mente entorpecida de paixão por algumas máquinas e do poder de dominação sobre a humanidade destas.

Os principais softwares são produzidos por um número pouco expressivo de empresas em sua maioria norte americanas como Facebook, Twitter, Instagram, Dropbox e Google. São estas que estão produzindo muito mais que simples plataformas de interação mas, antes disso, dinâmicas de pensamento que vem influenciando nossas relações “away from keyboard” como dizem os sobreviventes do Pirate Bay, referindo-se à vida humana, longe do teclado. Facebook por exemplo, embora tenha promovido uma conexão global jamais vista anteriormente na história da humanidade, é uma plataforma que promove a dispersão e a amnésia além de, na realidade, restringir a nossa comunicação às pessoas com quem temos mais interação naturalmente. Nos prende em uma ilusão de que nos comunicamos com o mundo quando na realidade estamos presos em um algoritmo pensado por alguns programadores que definem quem nos lê e quem lemos segundo padrões de curtidas e mensagens inbox.

Aos poucos passamos a pensar nossas relações sociais polarizadas em curto e não curto, compartilho e ignoro, leio mas não reflito. A dinâmica temporal de instantaneidade de todas essas plataformas também vem gerando ansiedade e angústia por ser radicalmente oposta à temporalidade processual da vida cotidiana. Sem contar sobre a nova definição da verdade: se ainda não saiu no twitter ou ainda não há links no Google, então não aconteceu.

Se debatemos sobre o a importância e o poder das narrativas de construir um novo mundo, de contar uma nova história para esses tempos de crise global, é preciso estar atento para o poder destas poucas plataformas em definir como estas narrativas podem ser contadas. Aos poucos estamos esquecendo das outras possibilidades de comunicação e antigas tecnologias consideradas antiquadas cada vez que as dominadoras do hardware como Microsoft e Apple resolvem lançar um novo produto no mercado.

Existe uma disposição mental criada pelo próprio mercado de consumo de aceitar as novas tecnologias sempre como superiores. É Heidegger que escreve em “A Origem da Obra de Arte” que a humanidade parece estar presa no objetivo do eterno transformar por transformar, um discurso vazio de progresso enquanto sentido da vida por falta de um objetivo melhor. Não há mais uma abertura de um olhar para outras possibilidades de criação que não atreladas à essas novas tecnologias de comunicação em constante mutação definidas a portas fechadas dentro de algumas poucas empresas.

Cada vez que uma nova plataforma é lançada e faz sucesso, a humanidade e, em especial, os comunicadores, precisam se atualizar e reformular seu modo de atuação para se adaptar a essa nova dinâmica produzida por alguns poucos. E assim, todas nossas relações começam a ser definidas através de softwares antes da emoção, intuição ou experiência de vida. Até relações amorosas vem sendo afetadas por aplicativos como o Tinder e o Lulu que enquadram pessoas e singularidades em algumas porcentagens, hashtags e estatísticas qualitativas que julgam critérios aleatórios como humor, charme, inteligência, etc..

Na publicidade tornou-se norma a remodelagem frenética de estratégias de acordo com novos lançamentos de possíveis meios de divulgação de produtos e serviços. A comunicação publicitária tornou-se um campo absolutamente instável e isso é considerado positivo pela maioria das pessoas já tomadas por uma norma de pensamento sempre voltada para a produção e o progresso infinito. Ser especialista já não vale de mais nada já que não há tempo de se especializar, o mercado hoje é dominado pela emergência dos não-especialistas, os que conseguem se atualizar mais rápido tem mais chances de sobreviver do que outros.

Incentivamos cada vez mais uma competição desenfreada e até selvagem sem parar para respirar e refletir sobre o poder dessa máquina que está nos mandando aguardar há 5 minutos antes de ligar, nos mandando atualizar seu sistema, nos mandando retirar corretamente o pen-drive, nos mandando salvar nosso trabalho, nos mandando tentar novamente, nos mandando aceitar termos de uso, nos mandando… nos mandando… nos mandando…

Estamos nos permitindo dominar por programadores ocultos escondidos em salas de reunião na Califórnia. Abrindo mão de milhares de possibilidades de repensar comunicação e interação em nome dos que tem o conhecimento maior segundo a academia ou o pensamento científico-lógico-matemático. São novas estratégias de dominação global sendo engolidas disfarçadas de liberdade criativa e possibilidade de conexão. Enquanto na verdade censuram, vendem dados privados para empresas de marketing, vendem padrões de busca para setores especializados em compras, monitoram as relações políticas, quebram sigilos de e-mails e mensagens privadas, protegem os direitos autorais das grandes corporações culturais, removem vídeos e produções sem aviso prévio e vão aos poucos definindo o que é real e o que não é. E vão contando a história dos vitoriosos.

E nós vamos caindo cada vez mais na dependência dessas plataformas para combinar os mais simples encontros com amigos, para saber o endereço da próxima reunião, para nos distrair, para trabalhar, para ouvir música, para buscar receitas, para saber o que passa no mundo, para nos expressar “livremente e cada vez mais nos desligando do mundo real, da natureza, da arte, dos prazeres corporais para estar mergulhados na mente concentrada funcionando de acordo com o que o software permite.

Esquecemos da delícia que é o analógico. Tratamos tecnologias dos povos tradicionais de cultivo da natureza ou comunicação através de tambores enquanto inferiores e até esquizofrênicas, não valorizamos nossos sentidos como olfato, tato, audição, visão e paladar, abrimos mão disso tudo para ficar confortáveis em frente a uma tela que aparentemente resolve tudo. E vamos nos desconectando das dinâmicas produtivas dessa cadeia comunicadora, assim como todas as outras dinâmicas produtivas de tudo. É só clicar que o produto chega um dia depois. Nos desconectando da natureza e permitindo que seja devastada para alimentar mais máquinas, mais petróleo, mais energia elétrica, mas silício, mais metais, mais plástico, mais lixo, etc. Porque nossa prioridade é maquínica e essa falsa proposta de possibilidades infinitas.

É preciso se apropriar não só do software como propõe o movimento software livre que tenta com pouco sucesso relativo ao poder das grandes corporações contribuir com a produção de plataformas alternativas. Mas também repensar hardware, construir computadores artesanais. E novas máquinas locais adaptadas às necessidades culturais de cada região. E repensar o que é tecnologia no geral. Produzir um olhar crítico e humano para pensar a cultura de redes retirando-a do campo da salvação que beira o fanatismo mas compreendendo a rede como o que ela é de maneira mais abrangente em um jogo de xadrez político que vem definindo não só o futuro da humanidade como a permanência da espécie no planeta.

Marcha da Maconha | 2014

No ar em 91,5 FM na Rádio Interferência pro mundo!

TCNXMNSM | 15.05.2014 – Hacklab, Satélites e Sexo

15/05/2014 – Penny, Cassandra, Orquídea de Aço e Patrick conversam sobre cultura hacklabista, astrologia artificial, satélites, fetiches, pós-porno, feminismo e singularidades.

https://soundcloud.com/pennyleska/tcnxmnsm-15052014-hacklab-satelites-e-sexo

A República do Fora do Eixo

Ontem (13/05/2014) fui até a Praça da Cinelândia para o que eu acreditava ser uma pequena reunião de alguns coletivos para os quais apresentaríamos alguns resultados do Festival Internacional de Tecnoxamanismo. Entre estes coletivos, era sabido a presença dos sofistas da atualidade, a rede de produtores culturais e comunicadores, Fora do Eixo. Quando cheguei ao local, tensa, percebi que estava presenciando algo muito maior do que uma mera reunião de trocas de conhecimentos. Estava na primeira fileira do maior show de manipulação coletiva que já presenciei em toda a minha vida.

A reunião era, na verdade, uma enorme assembleia. A assembleia foi convocada pelo Fora do Eixo para debater publicamente a utilização (apropriação) do espaço público da Cinelândia que abriga a Câmara dos Vereadores e o Teatro Municipal do Rio de Janeiro. Espaço este que, desde as Jornadas de Junho, voltou a ser palco da resistência política na cidade. Há meses que  inúmeras manifestações culminaram em confrontos entre os Black Blocs e a Polícia Militar do Rio de Janeiro (PMRJ) nesta mesma praça. Uma grande ocupação autônoma nos modelos das acampadas na Espanha e em Wall Street eclodiu como resultado da indignação com as tarifas de transporte, o Ocupa Camara. Ali viveram e se formaram velhos e novos ativistas lutando por mais participação no parlamento e mais justiça no mundo. Essa ocupação acabou sendo violentamente destruída no dia em que a PMRJ prendeu 200 jovens que se aglomeravam nas escadarias para se proteger das bombas de gás durante uma manifestação em solidariedade os professores em greve. Desde então, toda quarta-feira, faça chuva ou faça sol, acontece a Assembleia Popular da Cinelândia, onde ativistas sentam em roda e conversam usando o método horizontal e auto-gestionado, pensado pelos nossos companheiros Indignados e adaptado à nossa realidade brasileira. Qualquer pessoa tem voz nessa assembleia, embora o poder se concentre entre os mais atuantes e articulados, como em todo espaço político. Desse espaço já nasceram projetos, debates públicos, atos e muita formulação e troca de ideias sobre o contexto político brasileiro que vivemos. Foi durante todo esse processo que a Mídia NINJA (ramificação do Fora do Eixo) cresceu, se articulou, ganhou notoriedade e, silenciosamente, vem acumulando poder e atraindo aos bandos os rejeitados de São Paulo para um novo território, onde eles ainda não estão tão queimados.

Como se essa história não tivesse a menor relevância e não fosse merecedora de respeito, o Fora do Eixo decidiu, sem consultar a ninguém, realizar uma ocupação do espaço durante a Copa do Mundo. Em entrevista do Zero Hora, Pablo Capilé explica:

Zero Hora — Você anunciou aqui no Conexões Globais que este ano o Fora do Eixo estará envolvido na fundação de uma República da Cinelândia, um território autônomo. Como vai se dar esse processo? É uma ocupação?
Pablo Capilé Na verdade a gente tem trabalhado para conectar movimentos que já desenvolvem uma vida comunitária há muito tempo. Indígenas, povos de terreiro, movimentos rurais e urbanos que têm trabalhado de forma comunitária e têm trabalhado para que essa comunidade consiga discutir com o resto da sociedade. Então a ideia é fazer uma ocupação com grupos e movimentos diversos, com transmissão ao vivo todos os dias, com shows, com constituinte própria, com conselhos… É criar um pequeno pedaço de um novo mundo possível.

ZH — Mas não como um conceito, e sim como experiência em um espaço físico?
Capilé Em um espaço físico, no coração do Rio de Janeiro, que possa estabelecer diálogos com movimentos, com artistas, com jornalistas, com ativistas, não só de todo o Brasil, mas da América Latina e do mundo, em um ano fundamental para nós, que tem copa, tem eleições. Criar uma zona autônoma permanente que consiga o tempo inteiro fazer um diálogo com a cidade, que consiga ter esses ativistas ali reunidos para acumularem juntos novos repertórios e a partir dessa convivência conjunta fazer com que essas inteligências gerem novas alternativas para esse enfrentamento e para os debates que a gente vai ter que fazer em um ano tão singular quanto 2014.

Está dada a estratégia do Fora do Eixo para se lançar no mundo durante a Copa. E para atropelar todos os outros processos em articulação naquele espaço há quase um ano. Esse novo repertório de que fala Capilé, nada mais é do que renovar o imaginário de uma república democrática. Encantar novamente os jovens cada vez mais adeptos ao anarquismo e modos autonomistas de organização com uma proposta de república levemente diferente, na verdade, muito antiga como veremos mais a frente. Como fizeram com tantos processos, vão pegar toda sua capacidade produtiva, organização interna e recursos para assumir e despolitizar um momento que deveria ser do povo e, de quebra, se projetar política e internacionalmente.

Mas voltando a ontem a noite. Após seis reuniões internas, em que, eu viria a descobrir mais tarde, tudo já estava definido, eles convocaram essa assembleia para encenar uma construção coletiva. Com aquele papo de sempre: “Temos algumas ideias mas estamos abertos para outras contribuições”. Faltaram somente os narizes de palhaço. Por volta de umas 100 pessoas passaram pelo local, a maioria de coletivos já articulados com a rede. Porém algumas pessoas da Assembleia Popular da Cinelândia, atuantes naquele espaço há quase um ano, conscientes do assalto ao ar livre que se passava ali, vieram para tentar salvar alguma coisa.

Ingenuamente, tentamos disputar o nome da ocupação. República? Queremos mesmo fundar uma outra república? Acreditamos que é esse o melhor modo de organização social para o tal novo mundo tão defendido pelo próprio Pablo Capilé? Alguns defendiam o novo e eficiente modelo do #ocupa, outros defenderam que fosse uma TAZ (zona autônoma temporária) mas, todos previamente articulados, fizeram longas defesas vazias, citando até Platão e a raiz da palavra para desviar do que não foi dito em nenhum momento. E não sou eu que vou dizer, é a matéria do Passa Palavra [2011] sobre o Fora do Eixo:

“Para o Fora do Eixo a cultura é apenas um pretexto e, atualmente, passaram a buscar meios para chegar na política. Segundo Capilé, o coletivo conseguiu nesses 5 anos “musculatura e capilaridade nacional” e no dia 18, na Marcha da Liberdade, vão mostrar a força da organização.

Em entrevista para a coletânea “Produção Cultural no Brasil”, Capilé responde o que pretendem na política formal:

“Pretendemos criar um ambiente favorável para que daqui há trinta anos o presidente da República possa sair de uma perspectiva ligada a isso que nós estamos construindo. Há trinta anos, ele saiu do sindicato, então podemos tentar criar uma plataforma onde a cultura consiga ganhar mais espaço na agenda.”

Não por acaso, o Fora do Eixo possui instituições semelhantes às do governo como o “Diário Oficial FDE”, “Congresso FDE”, “Casa Civil”, etc. Na análise de Capilé, o momento atual com a ministra Ana Buarque de Hollanda é de enfrentamento e, de uma forma geral, isso é possível graças à construção desse (novo) meio de produção. Além da raiz econômica, a projeção na burocracia os configura politicamente enquanto uma classe gestora, classe que em outros momentos históricos possuiu como projeto a renovação das elites. Mas enquanto dispersos em organizações e instituições, os gestores confundem-se com os trabalhadores na sua oposição à burguesia.”

É por isso que eles já fecharam o nome República, para definir o próximo presidente ou melhor, a próxima. Permitiram que o debate se prolongasse até a exaustão, até que, com sete inscritos, um dos NINJAs sugere a proposta de encaminhamento: “Vamos tirar uma comissão para definir esse nome depois?”. A comissão não foi tirada, defendíamos que o nome era um debate importante. Como pode uma rede que pensa comunicação relevar o nome do espaço que pretendem construir? O tempo passava, um a um os opositores se retiravam exaustos e ingênuos, pensando que aquilo não daria em nada. E os Fora do Eixo seguiam alertas, participativos do debate, concordando com todos os que falavam, balançando a cabeça freneticamente em apoio falso a qualquer nova ideia apresentada porém mentalmente descartada. Pediam silêncio aos que conversavam pelas beiradas da assembleia, demonstravam que aquilo era realmente muito importante para eles.

Zé Guajajara, indígena da Aldeia Maracanã, fez uma aparição. Ficou sentado na escadaria dando sua aula semanal de Tupi Guarani, como faz toda terça-feira na Cinelândia. Na sua frente ele abriu uma faixa negra que demarcava: “Assembleia Popular da Cinelândia”. Ao fim de sua aula, ele entrou na assembleia para dar um informe sobre o 1º Congresso Intercultural de Resistência dos Povos Indígenas e Tradicionais do Maraká’nà (COIREM) que acontecerá entre os dias 4 e 9 de Junho na Rural (UFRRJ). Tomou a palavra durante uns bons minutos e os Fora do Eixo encenaram total atenção, chegaram mais perto para fingir ouvir, interessados na presença dos povos indígenas nessa construção, já divulgada até em entrevista pelo Capilé. Zé, que não é nada bobo, sabe muito bem que esse interesse fajuto não passa de nada além de ambição por maior representatividade na tal República. Quando terminado seu informe, recolheu suas coisas e partiu.

Eu já tinha desistido daquilo tudo mas acabei ficando por lá, me imaginando entrando no meio daquela roda aos berros, rasgando minha roupa e gritando: “É TUDO MENTIRA!”. Tomei umas cervejas, conversei com uns amigos, um dos bonitinhos do Fora do Eixo (a maioria tem uma carinha de bom moço, diferente do Capilé que já mostra na cara a que vem) até me arrumou um baseado. Achei simpático mas agora até isso já incluo na estratégia de manipulação. Tive que me afastar para fumar com uma amiga, quando acendi percebi que era um baseado de skunk, quanta gentileza hein?

Quando volto para a praça, com a razão desentorpecida, vi uma cena que nunca vejo em outras assembleias. Já era quase meia noite, havia se passado 5 horas desde o início do debate mas fui descobrir que o debate de verdade estava começando naquele momento. Estavam todos em pé, bem coladinhos, ali no meio da praça, quase todos do Fora do Eixo e discípulos, definindo TUDO. Tirando comissões de “comunicação e manifesto” e data limite para entrega desse manifesto, os nomes eram todos da galera deles, Capilé ditava cada nome com intimidade, tiravam datas das próximas reuniões (uma delas hoje, outra sexta-feira, outra sábado – tudo em cima da hora sem querer saber se os horários são possíveis pra quem não faz só isso da vida como eles), anunciaram que já tem 50 mil reais para investir nesse projeto, logística, contavam postes de luz, banheiros, infraestrutura, etc., combinavam que não fariam manifestações ali, iriam até elas e depois voltariam. Eles encenavam como se as ideias estivessem surgindo ali.

Mas não estavam. Um menino, novato que mais cedo afirmou que não era do Fora do Eixo mas iria adicionar o Capilé no Facebook no dia seguinte, empolgado com a participação naquele momento mafioso, do nada, falou do que ninguém teve coragem de falar. O parlatório. “Nós vamos precisar de um parlatório não é mesmo?”. Nesse momento, eu que estava sentada ali no chão, bem juntinha a eles, perdi o controle e coloquei a cabeça entre as pernas pra não gritar. Os caras vão escrever uma constituição dessa república com direito até a um parlatório para discursos!! Alguns repararam e não tiveram outra opção a não ser cortar o menino e dizer: “Não estamos falando sobre isso aqui. Não é o momento. Depois falamos sobre isso”. Mas foi tarde demais. Eu ouvi. Pena que não gravei.

E sabemos, no parlatório quem vence são os sofistas. Era o espaço preferido deles. Os sofistas eram aqueles que convenciam a todos na Grécia antiga apenas com a retórica brilhante. Eram mestres do poder da palavra. Como são os meninos (quase não há meninas nessa máfia) do Fora do Eixo nos nossos dias de hoje. E o que será que vão defender, através dos seus belos jargões como “mimético”, “disputa”, “horizontalidade”, “somando esforços”, “utopias”, “narrativas”, “novo mundo”, “salto quântico”, entre tantos? Vão conquistar corações e mentes dos jovens que ao invés de ir se manifestar, vão passar a Copa do Mundo acampados ali acreditando que estão fazendo a revolução. Vão acalmar os ânimos daqueles que estariam se manifestando. Vão propor atos despolitizados por causas abstratas como liberdade, paz, contra a corrupção, amor, etc. e, sutilmente, nas conversas de corredor, vão fazer campanha pra Dilma.

Acabou a assembleia, saíram pra beber. Vitoriosos. Foi um belo espetáculo disfarçado de construção coletiva. Melhor que a Broadway, melhor que Hollywood. Rolou até pipoca em um momento.