“o amanha é uma rua que desemboca na praça do nunca”
Esse mês o Global Talk do Sri Prem Baba foi sobre a preguiça. Falou à partir do conhecimento das matrizes do eu inferior, ou seja, comportamentos que nos mantém na ilusão e desconectados com nosso propósito divino. Segundo a linha do mestre brasileiro, a preguiça é resultado de energia e sentimentos bloqueados. Ela também é um indício de maldade já que atua no sentido de diminuir a intensidade do sentir, nos amortece e alimenta a separação. É uma maneira que o inconsciente tem de dizer não para a prosperidade. Para lutar contra a preguiça é preciso tomar consciência das coisas que estamos procrastinando, adiando repetidamente nas nossas vidas com o objetivo inconsciente de nos manter estagnados nos estados de sofrimento e inércia. A preguiça muitas vezes vem também de crenças de que não se é capaz ou habilidoso, é uma parte nossa que deseja seguir em uma experiência discreta de vida, vivendo com menos intensidade, dormindo e se alimentando de alimentos que nos fazem dormir mais. E, como tudo que é vivo, essa parte deseja se manter viva. É preciso se fazer a pergunta: o que você vem deixando pra amanha? Porque?
Nada é por acaso, especialmente algo que venha do Baba. A preguiça tem sido tema central de reflexão dessas últimas semanas. Na verdade, primeiro a relação espiritual que tenho com açúcar, o alimento do pior que tem em mim que também quer continuar vivendo.
Recentemente fiz 21 dias sem comer doces, foi um sacrifício enorme e um fracasso porque o objetivo era fazer um mês. No final cheguei a um ponto de passar o dia inteiro pensando em doces, meu corpo inteiro implorava por açúcar. Mas sem comer açúcar, eu tinha mais motivação para me exercitar, ir correr na praia, fazer yoga, dormir menos, acordar mais cedo… Minha energia sobe pra um nível totalmente diferente. É possível atingir estados Rajas e Satwa muito mais rápido, a vida toda parece acontecer, me sinto capaz de fazer todas as práticas, meditações, danças que sinto vontade. É mais fácil colocar em prática todo o conhecimento recebido.
Mas eu não aguentei e sucumbi aos doces novamente entrando profundamente em um estado Tamas. Agora estou na vibração oposta, dormindo o tempo todo, sem me exercitar, mal consigo meditar, faço poucas práticas, voltei a fumar cigarro, saindo a noite pra tomar cerveja… E parece que a falta extrema de doces faz agora com que meu corpo peça o tempo todo um docinho querendo acumular açúcar no sangue já que não se sabe quando vou cometer essa loucura de ficar sem doces novamente.
E aí vem a culpa. A culpa de entrar em Tamas, a energia da estagnação, do seguir na inércia, se manter-se exatamente como se está. A culpa de atrasar meu processo, de não conseguir me manter em estados elevados de vibração e de voltar a sofrer. Uma culpa que vai gerando angústia que gera raiva de mim mesma que gera chutes de balde mais frequentes que vai gerando um ciclo vicioso de mais culpa, mais angústia, mais raiva e mais açúcar. E é tão forte, me sinto totalmente impotente perante a força desse alimento e sua influência em mim.
Então a pergunta é como lidar com essa situação com mais amor e menos sofrimento? Uma parte minha quer se comportar com um general, repudiando absolutamente todo tipo de doce e a energia da preguiça gerada por ele. Quer que eu me force a acordar cedo, volte a me exercitar, coma somente alimentos satwas e faça todas as práticas para que eu possa acelerar o meu processo e dar passos largos em direção ao meu propósito. Essa parte não tem muito tempo para me dar amor, só me dá ordens. Mas essas ordens são apenas pensamentos porque na prática quem está vencendo é a parte que quer comer doces e dormir. Não adianta ficar ouvindo o falatório mental desse general só porque ele gera um falso alívio perante a situação. Assim que eu como o doce, começo a pensar que esse foi o último, agora sim vou voltar aos exercícios, etc. etc. Perdendo preciosos minutos de silêncio. Só pra dali há meia hora estar comendo um Petit Gateau. Ou seja, esse general não passa de uma sentinela da mente que quer falar. Não é por aí.
O que tem me dado alívio de verdade é me apoiar no sentido que aceitar as minhas fraquezas e necessidades infantis. E me permitir ficar nesse estado contanto que ele não atrapalhe passos que absolutamente precisam ser dados no agora. Infelizmente tem muita coisa que está sendo procrastinada devido ao sono e à preguiça de sair e de me mover mas essas coisas todas ainda podem ser feitas mais pra frente mesmo, talvez nem seja o momento de ficar imersa em práticas solitárias. Essa preguiça e essa necessidade de açúcar podem ter alguma função de auto preservação também. Se quem quer se preservar é o sofrimento ou é um eu despreparado para abrir o terceiro olho por exemplo, eu já não sei.
Essa vontade de olhar pra essa energia com mais amor me faz começar a refletir sobre funções positivas da preguiça, será que existe alguma que não esteja ligada ao prazer ou hedonismo? Será que a preguiça não tem função espiritual alguma? Qual seria o papel da preguiça no caminho da iluminação? Apenas um desafio a ser transcendido? Ou um degrau oculto?