Archive for August 2016

Preguiça

“o amanha é uma rua que desemboca na praça do nunca”

Esse mês o Global Talk do Sri Prem Baba foi sobre a preguiça. Falou à partir do conhecimento das matrizes do eu inferior, ou seja, comportamentos que nos mantém na ilusão e desconectados com nosso propósito divino. Segundo a linha do mestre brasileiro, a preguiça é resultado de energia e sentimentos bloqueados. Ela também é um indício de maldade já que atua no sentido de diminuir a intensidade do sentir, nos amortece e alimenta a separação. É uma maneira que o inconsciente tem de dizer não para a prosperidade. Para lutar contra a preguiça é preciso tomar consciência das coisas que estamos procrastinando, adiando repetidamente nas nossas vidas com o objetivo inconsciente de nos manter estagnados nos estados de sofrimento e inércia. A preguiça muitas vezes vem também de crenças de que não se é capaz ou habilidoso, é uma parte nossa que deseja seguir em uma experiência discreta de vida, vivendo com menos intensidade, dormindo e se alimentando de alimentos que nos fazem dormir mais. E, como tudo que é vivo, essa parte deseja se manter viva. É preciso se fazer a pergunta: o que você vem deixando pra amanha? Porque?

Nada é por acaso, especialmente algo que venha do Baba. A preguiça tem sido tema central de reflexão dessas últimas semanas. Na verdade, primeiro a relação espiritual que tenho com açúcar, o alimento do pior que tem em mim que também quer continuar vivendo.

Recentemente fiz 21 dias sem comer doces, foi um sacrifício enorme e um fracasso porque o objetivo era fazer um mês. No final cheguei a um ponto de passar o dia inteiro pensando em doces, meu corpo inteiro implorava por açúcar. Mas sem comer açúcar, eu tinha mais motivação para me exercitar, ir correr na praia, fazer yoga, dormir menos, acordar mais cedo… Minha energia sobe pra um nível totalmente diferente. É possível atingir estados Rajas e Satwa muito mais rápido, a vida toda parece acontecer, me sinto capaz de fazer todas as práticas, meditações, danças que sinto vontade. É mais fácil colocar em prática todo o conhecimento recebido.

Mas eu não aguentei e sucumbi aos doces novamente entrando profundamente em um estado Tamas. Agora estou na vibração oposta, dormindo o tempo todo, sem me exercitar, mal consigo meditar, faço poucas práticas, voltei a fumar cigarro, saindo a noite pra tomar cerveja… E parece que a falta extrema de doces faz agora com que meu corpo peça o tempo todo um docinho querendo acumular açúcar no sangue já que não se sabe quando vou cometer essa loucura de ficar sem doces novamente.

E aí vem a culpa. A culpa de entrar em Tamas, a energia da estagnação, do seguir na inércia, se manter-se exatamente como se está. A culpa de atrasar meu processo, de não conseguir me manter em estados elevados de vibração e de voltar a sofrer. Uma culpa que vai gerando angústia que gera raiva de mim mesma que gera chutes de balde mais frequentes que vai gerando um ciclo vicioso de mais culpa, mais angústia, mais raiva e mais açúcar. E é tão forte, me sinto totalmente impotente perante a força desse alimento e sua influência em mim.

Então a pergunta é como lidar com essa situação com mais amor e menos sofrimento? Uma parte minha quer se comportar com um general, repudiando absolutamente todo tipo de doce e a energia da preguiça gerada por ele. Quer que eu me force a acordar cedo, volte a me exercitar, coma somente alimentos satwas e faça todas as práticas para que eu possa acelerar o meu processo e dar passos largos em direção ao meu propósito. Essa parte não tem muito tempo para me dar amor, só me dá ordens. Mas essas ordens são apenas pensamentos porque na prática quem está vencendo é a parte que quer comer doces e dormir. Não adianta ficar ouvindo o falatório mental desse general só porque ele gera um falso alívio perante a situação. Assim que eu como o doce, começo a pensar que esse foi o último, agora sim vou voltar aos exercícios, etc. etc. Perdendo preciosos minutos de silêncio. Só pra dali há meia hora estar comendo um Petit Gateau. Ou seja, esse general não passa de uma sentinela da mente que quer falar. Não é por aí.

O que tem me dado alívio de verdade é me apoiar no sentido que aceitar as minhas fraquezas e necessidades infantis. E me permitir ficar nesse estado contanto que ele não atrapalhe passos que absolutamente precisam ser dados no agora. Infelizmente tem muita coisa que está sendo procrastinada devido ao sono e à preguiça de sair e de me mover mas essas coisas todas ainda podem ser feitas mais pra frente mesmo, talvez nem seja o momento de ficar imersa em práticas solitárias. Essa preguiça e essa necessidade de açúcar podem ter alguma função de auto preservação também. Se quem quer se preservar é o sofrimento ou é um eu despreparado para abrir o terceiro olho por exemplo, eu já não sei.

Essa vontade de olhar pra essa energia com mais amor me faz começar a refletir sobre funções positivas da preguiça, será que existe alguma que não esteja ligada ao prazer ou hedonismo? Será que a preguiça não tem função espiritual alguma? Qual seria o papel da preguiça no caminho da iluminação? Apenas um desafio a ser transcendido? Ou um degrau oculto?

Daphne

São 3:00 horas da manhã e Daphne acorda de repente, ofegante, de um pesadelo. Mais um desses em que ela está fugindo de alguma coisa e corre desesperadamente no meio de uma mata profunda, jogando seu corpo ladeira abaixo contando com as árvores para lhe amortecer a queda. Dessa vez ela foge de Petistas vingativos que resolveram atacar a população, eles vem de todos os lados, carregados de paus e pedras, vestidos de vermelho. Normalmente ela sempre escapa das perseguições nos sonhos mas hoje eles conseguiram chegar até ela. Quando seu predador lhe encontra, ela reconhece sua face e identifica um velho amigo do colégio. Mesmo assim, ele lhe mal trata e ela, sem ver outra saída, usa sua magia contra ele. Uma magia que vem do medo e da raiva, do tipo que ela odeia. Ela acorda então aterrorizada com aquela maldade. Respira fundo e tenta se conectar com padrões de vibração mais altos, pensando em seu mestre e sentindo todo amor que ele lhe causa. Quando ela pensa nele, ela consegue sentir seu coração batendo forte e feliz. Repete alguns mantras, reza para seus protetores Arcanjo Miguel e São Jorge que não falham nunca. Agora está mais calma e sentindo-se muito melhor do que quando foi dormir.

Daphne não consegue deixar de pensar agora, nesse estado mais elevado, de todo caminho que percorreu até chegar aqui. Nesse tempo, nesse corpo, nessa mente e nessa casa. Ela sente outros tempos, em que ela também provocava pesadelo em outras pessoas e se alimentava das energias do medo e do horror. É algo que hoje em dia parece tão abominável e impossível para ela que ama tanto a vida, as pessoas e o mundo. Mas ela sabe que em algum tempo, as coisas não foram bem assim.

Tudo começou a milhares de anos atrás, quando Daphne não se chamava Daphne e o mundo era um lugar muito diferente. Ela era uma alquimista na França e trabalhava com círculos de mulheres muito poderosas. Elas eram bruxas que estudavam o poder das plantas medicinais. Naquela época, havia pouco acúmulo de registros das plantas e toda sua comunidade trabalhava em uma missão maravilhosa com a natureza, registrando cada descoberta de maneira empírica. Elas aprendiam tudo à partir da sensibilidade. Sentiam cada plantinha agindo em alguma parte do seu corpo e da sua mente. Criaram um grande arquivo de cura e pessoas de toda Europa começaram a buscar essa comunidade para se curar das mais diversas enfermidades físicas, emocionais e espirituais. Elas treinavam mais pessoas para que espalhassem esse conhecimento e viviam em muita união e amor. Sabiam claramente que estavam fazendo um trabalho para a humanidade em muita conexão com Deus e divino. Eram guiadas por muitos protetores e por uma bela egrégora de cura e amor. Estavam ali às ordens da cura e do feminino. Aquilo era um resgate desse poder matriarcal perdido nas épocas do Cálice e da Espada e das relações de parceria entre o feminino e o masculino na gestão de uma sociedade.

Não está muito claro pra Daphne o que foi mas, em algum ponto, alguma coisa deu errado. De alguma maneira, até hoje, ela carrega uma culpa por isso. Talvez por ter revelado demais, talvez por não ter sido capaz de ler os sinais mas um grande incêndio tomou a comunidade e dezenas de pessoas morreram. Todo o seu trabalho lhe foi tomado pela Igreja que tomou todo registro das plantas para si e escondeu aquela sabedoria ade eternum. As que não morreram no incêndio, foram queimadas na fogueira por bruxaria e aquele lugar foi apagado do mapa para o todo sempre.

Até hoje ela não se conforma com esse final frustrante daquela bela vida. Depois que morreu, ela não conseguia se perdoar e não conseguia perdoar a Deus por aquele acontecimento. Se aquilo terminou da maneira que terminou, Deus permitiu, a egrégora permitiu. Eles não foram sequer avisados para que salvassem um pouco do trabalho, as suas vidas e reprogramassem as suas missões. Como podiam estar tão conectadas com seu propósito divino e tudo acabar daquela maneira?

Daphne se rebelou contra Deus. Abandonou o trabalho da luz. E na sua vida seguinte, se entregou para um trabalho nas trevas. Tornou-se um grande mago negro que comandava todo um clã de feiticeiros que trabalhavam com acordos, com raiva, com dor, com horror. Foi um dos magos negros mais poderosos de toda história da humanidade e quando morreu passou a fazer o mesmo do astral, comandando uma egrégora de sofrimento. E assim passou algumas centenas de anos. Revoltada. Rebelada. Jogando no outro time. Inconformada com tamanha injustiça!

Porém, após tanto tempo desconectada do bem, começou a se cansar do mal. Cansou-se dos seus processos, da manipulação, do sofrimento, daqueles estados de baixa vibração constante, aquela raiva e inveja permanente. Cansou daquelas regras cansativas, daqueles rituais sombrios, daquele linguajar pomposo. Cansou de se achar a última Coca-Cola do deserto. Mas já tinha enfiado o pé na jaca, feito acordos e pactos bastante sombrios também. Sair dali seria muito difícil. Seguiu enrolando ainda durante um tempo, afinal estava bastante confortável naquele papel tão poderoso e temido.

Um dia, trabalhava meio que mecanicamente, manipulando as mentes de alguns homens governantes para que iniciassem uma guerra nas redondezas da Lituânia. Se aproximava deles vibrando em raiva e rancor e deixava que eles fizessem o resto. Era fácil demais, eles se identificavam rapidinho. Quando acabou a reunião e eles fizeram o telefonema para soltar a primeira bomba, ela vibrou um pouco de satisfação e vingança e foi-se dali sem ser vista.

Ao virar a esquina, estava na Índia onde tinha um compromisso para afastar as pessoas de um Ashram abandonado que estava sendo ocupado por algumas famílias pobres que aos poucos o estavam reconstruindo. Foi quando deparou-se com uma cena de profundo amor e gratidão daquelas famílias por Deus. Conseguiu sentir que aquele espaço lhes dava de comer, lhes dava abrigo e permitia que momentos de alegria e conexão com o divino acontecessem. Era um Ashram que tinha sido muito grande e muito vivo há um século atrás e dentro dele ainda reinava uma energia milagrosa, de muita disciplina e luta pelo amor. E, de fato, vivenciou sem querer, um milagre do amor e sentiu-se novamente na presença de Deus.

Imediatamente começou a chorar. Não chorava há séculos, nem sabia que ainda lhe era possível. E naquele momento arrependeu-se de tudo e permitiu-se sentir uma enorme saudade de Deus. Uma enorme saudade daquela sensação de simplicidade e segurança de estar fazendo o bem. Sentiu muita falta das plantas, da natureza e das cachoeiras. Lembrou-se da sensação tão antiga de ser abraçada pelo mar e caiu em desespero. Seu reino de terror havia chegado ao fim.

Deus lhe acolheu novamente, sem pestanejar. O arrependimento era verdadeiro e o desejo de voltar-se novamente para a luz, intenso.

O processo de saída das trevas não foi barato.

Entrou novamente para os ciclos de reencarnação. Com muito o que evoluir, passou milhares de anos nascendo, morrendo e crescendo espiritualmente. Escondida e protegida dos seus seguidores sombrios que jamais deixaram de procurá-la, revoltados com seu abandono e com a falta de seus poderes. Até que chegou a um ponto de força e de aprendizado em que optou por se reconectar com a malha energética da terra, quis voltar a ter uma missão mágica e ajudar a humanidade novamente. E para isso foi preciso revelar-se para também aqueles que lhe buscavam e enfrentar seus ataques.

Ataques estes que constantemente vêm pelos sonhos. Ela pode sentir-lhes a presença antes de dormir ou quando dorme em determinadas posições que parecem facilitar-lhes a aproximação. Ela não sente medo, a não ser no próprio sonho. Às vezes fica de saco cheio, sente raiva, manda o ar tomar no cu. Mas acorda e se dá o enorme prazer de se conectar com Deus! Se conectar com seu mestre xamã siberiano. Se conectar com o Prem Baba. Se conectar com mantras, Arcanjos, mestre Sant German e Jesus! Que alegria é estar no seu time de sempre. Que alegria é estar de volta na luz. Que alegria é ser boa. Que alegria é ser alegre. Que alegria é amar.

E ela sabe que ter que lidar com forças um pouco mais sombrias é parte do seu aprendizado. Ela sonha em trabalhar com defesa energética, tornar-se uma guerreira de luz! Se sente grata até por isso. Não é fácil mas é um desafio que esconde um enorme tesouro por trás. Um dia ainda vai poder ajudar outros que fizeram o mesmo movimento. Um dia ainda vai, quem sabe, poder retomar um trabalho mágico em alguma comunidade.

Hannah

Hannah está descobrindo que tem superpoderes. Ela sempre amou os filmes dos X-Men! Quando era pequena, assistia Capitão Planeta e sonhava com um anel de poder. Ela gostava de Cavaleiros do Zodíaco e achava aqueles poderes com aquelas armaduras o melhor trabalho que um adulto poderia ter. Via as bruxas nos filmes e ficava aterrorizada com a burrice daquelas velhas com verruga no nariz que usavam sua magia para o mal. E, agora, em pleno retorno de Saturno, Hannah está descobrindo que tem superpoderes.

Ela não está passando por isso sozinha. Tem alguns amigos seus ao redor do mundo que parecem estar passando por uma fase parecida. Só que ninguém comenta muito sobre isso pra evitar ser internado, morto ou pior. É um processo extremamente solitário e misterioso. Porque estes seres humanos especificamente? Porque agora? O mais notável é que nenhum deles tem algum tipo de treinamento, mestre ou experiência ancestral na área dos superpoderes. São jovens comuns, que vivem em grandes centros e, com muito medo e dúvidas, estão passando por uma transformação mágica.

Assim que Hannah descobriu o que estava acontecendo, decidiu contribuir ao máximo para que o processo acontecesse de maneira tranquila e rápida. Sentiu uma motivação e uma força para fazer tudo certo. Parou de fumar cigarro, beber alcool, fumar maconha, cortou açucar e carboidratos da dieta. Começou a correr de manha na praia, fazer práticas energéticas que aprendeu com uns xamãs e meditar. A única via de comunicação para seus questionamentos foi com Deus, passou a rezar todos os dias, intensamente. Se aquilo estava acontecendo com ela, só podia ser Divino.

Mas o processo começou a ficar sombrio. Suas orações passaram a ser interceptadas por seres que querem seduzir Hannah com poderes mágicos. Tudo, absolutamente tudo que Hannah pedia que acontecesse, acontecia na hora no seu campo energético.

Um dia ela sentiu que não estava pronta para criar e falava com Deus pedindo-lhe mais tempo, para que ela pudesse passar um tempo sem criar. Imediatamente seu segundo chackra (da criação e sexualidade) se fechou e toda energia sexual de seu corpo começou a secar. Ela passou um dia horrível sem energia sexual, sem interesse em nada, sentindo-se triste, querendo apenas que lhe deixassem em paz. A noite, disse a Deus que entendeu muito mais sua energia de criação, que era preciso criar sempre mas fora de si. Botar pra fora: escrever, dançar, pintar, tocar… E pediu toda sua energia de criação de volta. Imediatamente seu chakra e seu útero se inundaram de energia criativa e ela pode sentir a energia fluindo por todos seus canais e pontos meridianos, abrindo seu interesse na vida e sua alegria em estar viva de novo.

Outra vez, ela rezava usando uma linguagem bem carioca despreocupada. Dizia para Deus que estava completamente entregue a esse processo. “Eu estou all-in!” ela disse com convicção. Em alguns segundos sentiu um jato de energia saindo de suas costas: era sua vida. Estando all in foi interpretado por seila o que que a sua vida estava entregue, estava na mesa e assim lhe foi tirada. Foi nesse dia que Hannah começou a desconfiar que o que estava acontecendo não era tão divino assim. Mesmo assim, ela considerou que também poderia ser um teste. Deus queria que ela ficasse brava com ele para testar sua lealdade. Não se pode entregar poderes nas mãos de alguém que vai se irritar e mudar de time por qualquer coisa.

Que times? O time do bem e o time do mal. Da luz e das trevas. Do amor e do sofrimento.

As coisas continuaram acontecendo e muitas vezes Hannah falava uma frase com uma boa intenção e aquilo dava um jeito de se voltar contra ela. Ela uma vez dizia que queria ser um fluxo e não ter limites, o resultado foi que seu campo de energia deixou de ter limites e toda sua energia começou a se desintegrar em um fluxo. Ela começou a passar mal, a sentir tudo que passava perto dela, se sentiu fraca e percebeu que precisava retirar o que disse.

Aquilo começou a cansar muito Hannah que além de ter que lidar com aquela magia toda ainda estava acordando cedo pra se exercitar e depois trabalhando 8 horas por dia um emprego onde sua aparência e simpatia são essenciais. É um lugar onde ela precisa estar sempre bem e tranquila.

Hannah então decidiu renunciar a seus poderes. Ela não queria mais isso! Ela não queria mais fazer essa magia estranha que não vem do coração, que não leva em consideração o emocional humano, as idiossincrasias de uma pessoa, a boa intenção. É uma magia muito técnica, prática, lógica. E de lógica já basta a ciência. Aqui queremos fazer tudo que a ciência nos diz que não existe. S-t-y-l-e.

Mas não adiantou. Renunciar à magia adiantava durante um curto período de tempo, depois ela já estava de volta e lá estava Hannah sentindo todas as energias ao seu redor. Ela atingiu um estado de sensibilidade tão intenso que chegou a sentir o orgasmo masculino dentro de si durante uma transa. Aquilo estava a assustando. Ela estava sendo alvo de alguns ataques astrais também. Vozes vinham sussurrar em seu ouvido frases hipnóticas. Ela sentia um energia sendo jogada nela de vez em quando, algo ruim, algum ataque estranho. Tudo isso começou a ser demais pra uma mente pouco treinada que tem necessidade de entender, classificar e julgar tudo. Por mais mente aberta que sejamos, a mente não dá conta de um processo desse. E quem não tem a prática da meditação já muito aguçada, se perde fácil.

Por isso Hannah optou por tomar alguns remédio psiquiátricos que fecham toda essa abertura. A diferença entre o xamã e o esquizofrênico é que o xamã controla sua loucura e o esquizofrênico é controlado por ela. Hannah não estava conseguindo controlar sua loucura satisfatoriamente, estava sendo um processo sofrido demais e por isso resolveu tomar alguns remédios para fechar sua abertura por um tempo, enquanto buscava um mestre ou um terapeuta, alguém que possa ajudá-la nesse processo mesmo sabendo que o xamã aprende sozinho.

Só que os remédios a colocam em um estado oposto e muito mais sofrido. É um estado de ansiedade, preguiça, falta de força de vontade… Ela voltou a fumar, beber, comer açucar, não faz mais exercícios, não reza mais… Está o tempo todo com preguiça, meio ansiosa, engordando… Ela sente falta da sua força, da sua energia vital que foi totalmente tirada pelos remédios. Ela não sente mais energia de alguém por simplesmente sentar ao seu lado mas também não sente mais nada. Virou um zumbi. Vida material, trabalho casa, trabalho casa.

E agora? Dentre qual dos extremos ela quer estar? É preciso cair pros dois extremos? Existe um caminho do meio? Como encontrar o caminho do meio? Como trilhar um caminho menos radical?

Deus, nos ajude a responder.

Maria

Ela vive esse dilema há anos: sair ou não sair de casa. Maria vive com a mãe e a avó em um apartamento de 400m2 na beira da praia de Ipanema. Seu quarto tem 30m2 e é seu templo. Sua vida acontece dentro do seu quarto. Ela canta, dança, planta, lê, descansa, medita, come, transa… tudo no seu quartinho lindo. Nas paredes do quarto estão os quadros que pinta dentro dele, mantras que devem ser repetidos ao seu inconsciente e um enorme apanhador de sonhos mágico feito por uma tribo xamânica peruana na noite de ano novo. Seus livros coloridos e interessantes enchem as prateleiras. A parede laranja estimula seu segundo chakra e sua feminilidade.

Maria está em um processo interno muito peculiar, vem experimentando uma abertura emocional, física e espiritual intensa. Para lidar com tudo isso que está acontecendo ela precisa desse espaço de tranquilidade. E não é só o seu quarto mas o fato de que ela não precisa se preocupar com nada além do seu quarto na vida. Não lava, não passa, não cozinha, não arruma… Seu espaço é 100% cuidado por outras pessoas para que ela só entre e faça o que seu coração deseja. Para que ela possa focar em outras reflexões, nem melhores e nem piores mas diferentes com certeza. Ela tem todo tempo e tranquilidade do mundo para enfrentar seus demônios internos, para realizar rituais de cura, para passar horas a fio apenas refletindo sobre o jogo da vida e as leis universais.

Se não existissem os outros que com ela vivem, seria tudo uma vida de contos de fada. Mas não é. Maria paga um preço muito muito alto por essa “tranquilidade espacial”. Ela é a bengala da vida da sua mãe e avó que sentem-se no direito de diagnosticá-la semanalmente. Quando a bengala está servindo direitinho, sem muitas reclamações e revoltas, fazendo seu papelzinho de filha doce e calma, ela está bem. Mas frequentemente se revolta e sente raiva desse papel, raiva dessa função, raiva dessa triste família, aí “você não está bem”. Repetiram tanto essa frase a vida inteira que Maria já internalizou e nunca de fato está bem. Está sempre sofrendo, querendo se curar, lutando pra melhorar, se sentindo despreparada e com medo.

Elas não admitem que Maria se envolva com “espiritualidade”, erros não são permitidos jamais. Se Maria cometeu um erro aos 15 anos de idade, hoje com 30 ainda tem que ouvir sobre ele. E ela cometeu alguns erros na sua busca espiritual que foram fatais pra sua família que não compreende que sua vida não tem o menor sentido se não nessa busca e que aprendemos com os erros a trilhar outros caminhos. Podemos perder nosso progresso mas a direção ainda é a mesma. Para a mãe e a avó, a vida resume-se a trabalho e marido. Se essas áreas estão cobertas, está tudo certo na vida da pessoa, qualquer necessidade a mais é loucura. Por causa disso, Maria vê-se obrigada a entrar em contato com a energia da mentira frequentemente. Uma energia que ela mesma abomina.

Ela tem que ouvir que “não vai conseguir” qualquer coisa que tente fazer. Porque elas não conseguiram e nunca sequer sentiram a energia do “conseguir” em nada que fizeram. A única crença que elas tem é de que o mundo é mal, perigoso, tudo é muito difícil e injusto. Ela convive com a negatividade o tempo todo e é abusada a manter-se nessa negatividade, perpetuar essa tristeza e esse fracasso. São estas seus ancestrais recentes, aqueles que devem apoiar a sua realização estão torcendo pelo seu fracasso.

Neste clima então ela se vê com a difícil decisão de sair de casa e ir morar em um quarto de menos de 10m2. Cabe uma cama e um pequeno armário além do mínimo espaço para ficar em pé ao lado da cama. Mas ela estaria livre dos ataques astrais e físicos dos seus familiares. Mas… onde dançar? Pintar? Plantar? Amar? Pular? Meditar? Como as outras pessoas fazem isso tudo?

Ela está inclinada para o lado da mudança. Ela sonha em morar sozinha desde que tem 15 anos mas demorou demais para perceber que para realizar este sonho ela teria que fazê-lo sozinha. Que ninguém nunca vai ajudá-la a se libertar desse papel de bengala que lhe colocaram. E muitas pessoas estão lhe apoiando e ensinando a fazer tudo o que faz em espaços públicos. A viver mais a vida fora do quarto. Ir pra rua, ir pra fora.

Mas… não é pedir-se demais? Além de tudo que ela já está passando espiritualmente, ainda vai colocar outro elemento de mudança na sua vida? Não é demais? Não estará ela sendo violenta consigo mesma novamente? Se agredindo e obrigando seu lado criança a crescer a força? Ela sempre pensou que o dia que saísse de casa seria o mesmo dia que poderia ficar pra sempre. Ela resolveria todas as questões que tinha que resolver sem sair de casa. Faria sua paz com a família e assumiria as responsabilidades de cuidar de si sem sair. Mas não será isso pedir-se demais? Resolver tudo mergulhada na situação é clamar por uma intensidade desnecessária. Às vezes se afastar é a melhor forma de curar e de abrir a visão em cima de uma situação.

São muitas dúvidas. Ela tem até sexta para decidir.

Gabriela

Por onde Gabriela passa, ela destrói tudo. Desde pequena que começou a destruir vidas. Destruiu o casamento de seus pais, destruiu a vida da sua mãe, destruiu a dignidade do seu pai. Destruiu a personalidade da sua irmã. Destruiu a vida dos homens que namorou. Destruiu a vida do amor da sua vida. Destruiu. Destruiu. Destruiu.

Ao seu redor, a felicidade parece se extinguir. As pessoas aos poucos vão caindo em um sofrimento e depressão profunda. É um incômodo constante estar perto dela. Amizades fortes se separam. Ela quebra grupos. Quebra pessoas. Ela se envergonha do seu ambiente familiar, pessoas que tem tudo que precisam pra ser feliz mas que caíram todas em um ininterrupto sofrimento sem fim.

Ninguém é capaz de amá-la. Ela não permite que ninguém se aproxime. Porque ela não aguenta mais ver tanta destruição, tanto sofrimento, tanta separação por onde passa. Ela tem medo do efeito que ela tem em pessoas. O amor tem muitas polaridades, é a energia que move todos os seres humanos. O excesso de amor, a falta de amor, as estratégias para conseguir amor ou fugir dele são o que faz com que sejamos quem somos. E Gabriela amava demais. Ela amava tanto que acabou se destruindo também. Se apaixonou pelo primeiro Aladdin que encontrou e, sem uma garantia, amou-o com todo seu corpo e toda sua força. Até hoje ele a culpa de ter destruído sua vida também. Assim como fez seu pai.

Ela destrói todas as oportunidades que tem de se libertar dessas pessoas a quem julga ter destruído a vida. Porque sente que precisa servi-los de alguma forma. Que precisa compensar por ter destruído suas vidas e se sacrificar para que eles sejam minimamente felizes. Não se permite ter raiva desse papel em que a colocaram sem sua permissão, não se permite ter raiva de ninguém. Ela será pra sempre uma escrava, mendigando o perdão do outro. Mendigando restinhos de amor que ainda possam sentir por ela. Enquanto ela abre mão de toda sua juventude, sua força, seus talentos para seguir de capacho para aqueles que ela destruiu. Ela tenta colar os cacos que restaram das suas relações passadas, fica tão absorvida nessa missão que não consegue mais criar novas relações.

Um dia Gabriela estava diante de um mestre implorando pelo fim de seu sofrimento e do sofrimento daquelas pessoas a quem destruiu a vida. O mestre lhe perguntou como foi que destruiu essas pessoas? Não soube responder… Eles nunca sequer lhe dignaram a uma explicação. Soltaram essa acusação em momentos aleatórios e aquilo foi ficando no fundo do seu subconsciente definindo tudo que ela é hoje em dia. O mestre então perguntou se alguém já tinha destruído a sua vida? Imediatamente Gabriela sentiu que todas essas pessoas que lhe acusavam tinham destruído sua vida de alguma maneira profunda e que eram elas que impediam que ela fosse feliz. Também lembrou de mais umas tantas que tinham destruído sua vida de outras maneiras. Ela se lembrava perfeitamente de alguns rostos com ódio e desejo de vingança. Mordia os lábios até escorrer sangue pensando no quanto os faria sofrer. Mas imediatamente se arrependia daquele tipo de emoção e se sentia totalmente impotente para mudar sua vida.

“Eu estraguei tudo!” dizia ela. Aos 29 anos, viver estava difícil demais. Ela não se aguentava mais, sabotando todos os momentos de felicidade possível. Sabotando cada encontro, cada entrevista, cada flerte, cada amizade nova.

O mestre então lhe disse em uma voz calma, alegre e baixinha:

“Ninguém tem o poder de destruir a vida de ninguém. Estamos encarnados nesta dimensão, neste planeta, neste tempo para evoluir. Para auxiliar o processo de transição de Eras. Gaia está evoluindo e nós estamos de carona. Você pediu por cada uma destas experiências que você hoje considera destrutiva. A sua energia queria passar pelo processo de fragmentação e reconstrução que vem com a experiência da destruição interna e externa. E você pode sim ter auxiliado outras pessoas nestes processos pelos quais eles mesmos pediram. O que trava o processo é ficar parado nesse jogo de acusação e não se permitir reconstruir. Ficam presas àquilo que eram antes da transformação e por isso não conseguem se deixar evoluir. Apegar-se à destruição, aí sim, é destruir-se. É preciso olhar pra ela como o que ela é, um degrau na missão de evolução que você veio viver porque quis. E deixá-la pra trás junto com a culpa de ser este degrau na vida do outro.”

Gabriela se sentiu aliviada com aquelas palavras. Mas voltou pra casa e no dia seguinte se convenceu de que aquele papo nova era não era pra ela. E que devia continuar apegada à destruição porque assim sofreria mais e a sua família a amaria mais se ela estivesse sofrendo do que se ela estivesse feliz. Ela já estava tão viciada na energia da culpa que nem seu corpo aguentaria a liberação daquela energia assim, de um dia pro outro. Quem aquele mestre achava que era? Por isso que ela era anarquista. Não queria ninguém lhe falando verdade nenhuma. Queria sofrer pra sempre.

Joyce

Joyce é uma garota de Ipanema que está se tornando xamã. Ela cresceu no triângulo Ipanema-Copacabana-Leblon. Nunca foi ao Méier, Madureira ou Santa Cruz. Subiu o morro algumas vezes quando era adolescente pra comprar maconha e já fez umas nights nas baladas de patricinha do Vidigal.

Joyce já fez muitas coisas na vida. Já trabalhou em bar, em loja, em produtora, em teatro, em ONG, deu aula pra crianças e hotel 5 estrelas. Já foi patricinha, capitalista, seguidora de Cazuza, namorada, biscate, socialista, anarquista, software livre, mídialivrista, facilitadora de assembleia, leitora de aura, umbandeira, espiritualizada, depressiva, bipolar, esquizofrênica, tecnoxamã, seguidora de xamãs siberianos, popular, solitária, livre e presa. E no final é tudo isso e nada disso ao mesmo tempo.

Joyce já viajou o mundo. Mochilou a Europa com sua melhor amiga aos 18 anos. Foi pra África do Sul aos 24. Sempre que vai a NYC volta com um cartão de crédito estourado e entrega a conta pra sua mãe. Hoje em dia as suas viagens favoritas são retiros espirituais. Seu sonho é ir pra Índia e pra Tokyo ao mesmo tempo.

Esse sonho não é a toa. Ela está totalmente dividida entre a ideia de entregar-se para uma vida focada no espiritual e uma vida na matéria samsara. Não sabe se medita ou vê Netflix. Se toma um frontal pra dormir ou acorda 06:00 pra ir pra Yoga. Se fica em casa lendo “Mulheres que Correm com os Lobos” ou sai com alguém do Tinder. Não sabe se canta e dança ou compra um livro novo na Amazon. Ela ama esses dois lados. Muito. Ama a vida espiritual, as práticas, as ideias, as sensações, a energia, a troca e a sensibilidade e ao mesmo tempo ama a morgação, a zueira que não acaba nunca, a cervejinha gelada com as amigas, sexo, drogas e rock’n’roll.

Ela é muito irada e ao mesmo tempo um saco. Chegou perto, está sendo analisado. Ela gosta de falar sobre terapia, sentimentos, amor, vazio, sombra e sexo. Não é pra todo mundo não. Sua própria irmã acha que ela é louca e nem chega perto dela. Já suas amigas a elegeram a mulher mais interessante que já conheceram.

Ela tem 7 melhores amigas, todas finas e ricas. A primeira delas mora em Houston e dirige um BMW, a segunda na Costa Rica onde está casada com um argentino, a terceira em Londres trabalhando em uma seguradora e namorando um Português, a quarta em São Paulo casada trabalhando em uma agência de Publicidade e a última é economista e mora perto do Canastra (bar) na General Osório. E Joyce… é xamã.

Depois de tudo isso, de ser tantas coisas e ser nada ao mesmo tempo, Joyce está se tornando xamã. Ela não sabe muito bem o que isso significa mas sabe que é isso que está acontecendo com ela. Sabe que nasceu assim e que isso estava sendo preparado o tempo todo. Que cada segundo de sua vida confusa e não-linear lhe trouxe até aqui. Ela não faz ideia o que fazer com isso. Está muito preocupada, tem medo de se machucar. Mas ao mesmo tempo, encontrou uma paz que nunca antes tinha experimentado na vida. Saber que tudo agora faz sentido. Que nada foi em vão. Que todos os muito erros, de uma maneira foram acertos. E de que agora está tudo bem.

Criação de Humanidade

Não tá fácil ser humano. A gente se odeia muito. Odiamos uns aos outros e a nós mesmos. Somos uma vergonha! Estamos destruindo o nosso próprio planeta, estamos fazendo guerras, matando milhões de animais por causa das devastações e dos nossos hábitos alimentares. Estamos dizimando populações indígenas e todo conhecimento ancestral. Somos viciados em nós mesmos, só pensamos nos individual, na nossa roupa, nossos amigos, nossa vidinha. Manipulamos a nós mesmos para que compremos mais, para que estejamos infelizes com nosso corpo, para que busquemos no outro nossa felicidade e chamamos isso de publicidade. Criamos dinheiro imaginário enriquecendo poucos e deixando milhões na miséria e chamamos isso de mercado. Criamos doenças e inventamos remédios e chamamos isso de medicina. Enchemos a cara numa festa, levamos a que deu mole primeiro pra casa e chamamos isso de sexo. Colocamos nossos filhos em colégios que irão cortar todo seu impulso criativo e chamamos isso de amor.

Pára o mundo que eu quero descer!

Estamos acostumados a falar mal de nós mesmos. Aceitamos que somos assim. O brasileiro é muito malandro. Nós americanos somos conservadores mesmo. Corre na veia alemã essa rigidez. O Baiano é preguiçoso demais. Cearense é bicho arretado! E assim é. Aceitamos que estamos vivendo tempos de crise, aceitamos todo o horror da humanidade. Mas não aceitamos nossa responsabilidade em cima disso tudo.

E não é a responsabilidade de votar. De fazer política. De ir pra rua perder seu tempo em mais uma incontável e irrelevante manifestação. Não é a responsabilidade sobre o que você come ou deixa de comer. Nem a de com quem você se envolve ou que tipo de pessoas permite na sua vida. Não é a responsabilidade de ser você mesmo. Nem a responsabilidade do que você compra ou deixa de comprar. É a responsabilidade da realidade que você cria.

Que criamos coletivamente.

E assumir essa responsabilidade começa por negar todo esse lero lero que estamos tão acostumados a falar de nós mesmos. Parar de nos botar pra baixo e bancar que SOMOS OS SERES MAIS MAJESTOSOS DESSE PLANETA. Somos seres mágicos, energéticos, criados a imagem semelhança de Deus. Somo palco da batalha divina entre o bem e o mal. Somos a mais divina de todas as criações. E somos capazes SIM de criar nossa realidade.

Como fazemos isso coletivamente? À partir daquilo que acreditamos ser real. São as nossas crenças que constroem o mundo em que vivemos. E quem é que nos diz o que é real? Todos os dias? A todas as horas? Os meios de comunicação. Jornal, televisão e internet. E que tipo de crenças esses meios tem nos passado? Só horror. Só depressão. Desastre. Morte. Guerra. Crise. Corrupção. E assim vamos coletivamente acreditando nesse bando de KO que nos afirmam ser a verdade última e primeira do que aconteceu durante o dia no mundo e do que é possível acontecer no futuro. Nos limitamos a essas informações rasas e deprimentes do que é possível e assim abrimos mão da nossa potencialidade de criar qualquer outro possível.

TUDO É POSSÍVEL. Voar. Atravessar paredes. Magia. Encontrar um grande amor. Viver uma grande aventura de revolução global baseada na premissa do amor e da criação livre. Ser livre. Ser feliz. Ser amado. Ser realizado. Ser admirado. Ser cuidado. TUDO PODE SER.

Eu acredito que é possível criar uma realidade diferente. Resignificar a realidade atual e acreditar em um novo possível. E é possível fazer isso AGORA. Desligando o Jornal Nacional e cancelando a assinatura do Globo. Cancelando seus blogs de notícias alternativas que só escrevem uma outra perspectiva da mesma realidade. Entrando no face pra rever amigos e ignorando mais novidades sobre essa realidade velha. Mudando sua relação com os meios de comunicação e com você mesmo. Pare de fazer tudo isso e vá pintar laranjas, virar estrelas na praia, abraçar estranhos na rua, escrever contos de ficção, fazer bijuterias e viajar de mochila, abordar homens e chama-los de amor da sua vida em 5 minutos de conversa… Qualquer coisa que não seja continuar acreditando que você é um ser humano e por isso você é uma merda e o mundo é uma merda porque o jornal te disse isso de modo formal e bem documentado.

(…) (sem assunto) (24/04/15)

(…)
É muita coisa que não quero escrever por aqui e que talvez não seja mesmo seu momento de ouvir. A conversa não é em tom de briga, de agressividade. É uma conversa que vem puramente do amor independente das palavras ou do tom. Amor é muito mais que abraços, beijos e luz. A minha versão do amor vem também da sombra e por isso da profundidade de uma relação como a nossa. É ilusão pensar que podemos estar sempre na luz e que o amor só vem da luz. Hare Hare.

Mas ontem eu senti que é mais que eu e você. É uma questão de egrégora. E que quando você estiver mais segura das suas escolhas, espirituais principalmente, aí poderemos conversar livremente. Porque, de que adianta viver a diferença se não podemos vivê-la com amor? Se não podemos trocá-la, debate-la, estudá-la, pensá-la e criar e crescer em cima dela? Enquanto a diferença for motivo de competição, auto-afirmação e fuga ela ainda está vibrando nos padrões de uma Era que já passou. Diferença não tem que ser defendida, tem que ser aceita.

Mas tudo tem seu tempo. E, ontem depois do bar fui caminhar e refletir e percebi que na verdade estou muito orgulhosa de você. Muito feliz por você. E acho que este momento de me negar, não me dar a palavra, querer tanto dar o contra em tudo que eu falo, colocar a sua percepção e o seu caminho acima de tudo é um grande sinal de que você encontrou alguma coisa tão sua e em que você acredita tanto que vale a pena lutar contra mim, minha energia, minha força por ela. Você encontrou a sua própria força e, isso foi tudo que eu sempre quis pra você. Você está com uma aura poderosa, uma espiritualidade viva, uma mochila das costas indo “viver”. Eu não poderia estar mais feliz. E se é um momento tão seu que eu não posso participar dele, melhor ainda.

Eu te amo. Mas te amo o suficiente para encarar seus defeitos com força, aceitar suas escolhas, me adaptar ao seu estilo e aceitar a sua fuga de mim. Eu te amo o suficiente para me colocar de lado agora e ser o que você precisa que eu seja. Eu te amo o suficiente para trabalhar internamente as minhas necessidades para poder atender às suas. Eu te amo tanto que estou sempre disponível para essa relação que reconheço com um dos meus elos de amor mais fortes e, por isso, um dos alimentos principais do meu espírito que precisa estar nutrido para fazer todo o resto do caminho que faço só. Eu te amo em primeiro lugar. Te amo antes do meu sentir. Te amo há 15 anos quando nenhum mestre nunca tinha me dito o que era amor e como eu deveria te amar. Te amo por tudo que já passamos juntas em outros tempos, em outras vidas. Te amo na sombra.
(…)

(…) um pouco sobre mim (03/08/14)

(…)
E, como você deve ter percebido, eu aprendi que esses momentos de sorte na vida são o seu destino se apresentando. Na verdade aprendi a ler os sinais do destino o tempo todo. Mas o destino abre a porta, você é quem percorre o caminho. Acordando cedo, investindo energia, se dedicando à pessoas, se abrindo para experiências novas, indo toda semana onde tem que ir… Dentro de cada porta está escondida a próxima porta. Se você não se dedica, você não encontra a próxima porta e não avança na vida.

Também é preciso abrir espaço para o novo. Quando não encerramos processos, quando não nos afastamos daquilo que já não nos serve, nos mantemos entupidos. Cada vez que me afastei de uma atividade que já tinha me ensinado tudo que eu tinha que aprender, uma nova repleta de sabedoria veio assumir seu lugar. Não podemos prever pra onde vamos, nem controlar porque isso diminui a sua abertura para as portas do destino. Mas também não podemos ficar apegados ao antigo porque isso não abre espaço para o novo. É tudo fluxo. É tudo energia. E precisamos encerrar aquilo que começamos de alguma maneira. É preciso cumprir etapas para abrir novas portas. Por isso vou me formar. Já sei que não vou trabalhar com isso mas mal posso esperar para abrir esse espaço ENORME que é tomado pela faculdade dentro de mim há 8 anos.

Todas as oportunidades que eu tive, eu cultivei. As que eu não cultivei, não eram pra ser cultivadas. Cada um tem seu próprio destino e este abre as portas para quem sabe encontrá-las. O que é meu, é meu. O que é seu, só você sabe.

Pare de se sentir injustiçada perante a mim. Se aproprie do seu processo. Da sua vida. Corra atrás daquilo que te move e me liberte de toda essa raiva que você tem por não olhar pra dentro e perceber que essa raiva é de você mesma. Não tente viver o que eu vivi. Não foi fácil e eu só aguentei porque faz parte do meu destino que me abriu muitas portas de recuperação depois. Muitas pessoas passam por coisas parecidas e não se recuperam jamais. Não queira viver um destino que não é seu. Não queira sentir a vergonha do atraso, o julgar-se incapaz, sentir-se perdida perante o mundo. Você não tem que viver as minhas dificuldades se puder ser um pouco mais humilde para reconhecer os limites do que é meu e o que é seu.
Cumpra essa etapa da sua vida. Abra esse espaço. Seu destino é só seu.
(…)

Bromanhur e Barthol

Bromanhur e Barthol são demônios do mais alto escalão. Eles fazem parte do seleto grupo de sete criaturas das trevas que sentam à mesa junto ao que não deve ser reconhecido jamais. São eles que planejam a destruição da raça humana, do planeta terra e de toda criação de Deus. Comandam enormes egrégoras negras de almas vingativas, odiosas, abandonadas, gulosas, orgulhosas, invejosas, luxuriosas, avarentas e preguiçosas para que executem o grande plano de extermínio da felicidade.

Sua principal estratégia de guerra é a repressão. Eles manipulam pouco a pouco todos os grandes influenciadores da humanidade para que estes pareçam cada vez mais perfeitos, mais controlados, mais harmônicos até. Transmitem a todos os homens exemplares uma enorme paz, serenidade e até mesmo felicidade. Para que todos os outros homens vejam neste controle de si, de suas emoções, nesta serenidade falsa, o caminho para a felicidade que todos almejamos. E assim a humanidade vem se reprimindo cada vez mais. Cada geração se reprimindo mais que a outra de alguma forma nova, engenhosa e criativa.

Reprime-se a raiva, a vergonha, a inveja, a tristeza, o medo, o desejo pelo poder, a arrogância, a maldade, as perversões, etc. porque foi disseminada a falsa ideia de que essas energias não podem ser sentidas para que se atinja a felicidade. Nunca se vê nenhum tipo de notícia positiva sobre esse tipo de emoção. Essas emoções, segundo a aquela que não deve ser levada a sério jamais (grande mídia), são as causas de todo tipo de guerra, corrupção, crise financeira, assassinatos… Não se pode sentir isso! Afirma a grande mentirosa e também afirmam muitas religiões.

O problema é que não é raiva, a vergonha, a inveja, a tristeza, o medo, o desejo pelo poder, a arrogância, a maldade, as perversões, etc. que estão à serviço de Bromanhur e Barthol mas a repressão delas. A repressão da sombra interna, a repressão dos nossos aspectos mais demoníacos, a repressão da nossa maldade acontece lá nas profundezas dos nossos mares da psique. Ali se aliam com aquelas memórias que não queremos lembrar. Com as experiências que não conseguimos integrar. Com a lembrança daquelas pessoas que nos fizeram sofrer, humilharam, abandonaram. E ali mesmo, dentro de nós, formam-se nossas próprias egrégoras negras comandadas pelos nossos próprios demônios.

O que é preciso reconhecer é que todas essas energias são divinas! Assim como o trovão, o raio, o tsunami, a tarântula, a anaconda, as lacraias e as baratas, tudo que há foi criado por Deus! Mas as grandes religiões criaram essa história de que existe um velhinho lá em cima bonzinho que vai te julgar se você sentir essas coisas criadas por ele mesmo? Não faz sentido algum!

A humanidade tornou-se um câncer para o planeta. Somos um orgão contaminado, um tumor. Cada um de nós é uma celulinha desse câncer. Estamos todos doentes. Nenhum de nós, a não ser alguns mestres iluminados, é completamente bom, completamente perfeito, livre de energias negativas. Nós todos temos essa doença dentro de nós. Seja ela o ódio ou o ceticismo, a raiva ou a vingança, a mesquinharia e a pequenez, o desejo pelo poder e reconhecimento e um milhão de etc! É preciso botar essa doença toda pra fora. Pra curar o planeta é preciso dançar toda sua inveja, gritar com toda sua raiva, pintar todo seu rancor, lutar boxe com todo seu ódio, nadar com todo seu desejo por poder, fazer crochê com essa sua vítima ridícula. É preciso olhar para a nossa parte horrorosa!

Porque a repressão dela está nos matando. Quando reprimimos tudo isso, não acabamos com isso, estamos transmutando apenas em outras coisas horríveis que atuam de outras formas. Uma inveja torna-se uma manipulação do outro, uma manipulação do outro torna-se uma busca pelo poder, uma busca pelo poder torna-se um desejo de controlar o marido, um desejo de controlar torna-se uma facilidade em abandonar o outro, uma facilidade de abandonar o outro torna-se uma mentira pra si mesmo, uma mentira pra si mesmo torna-se uma mentira pro outro, uma mentira pro outro torna-se uma relação devastada, uma relação devastada torna-se uma tendência para traição do parceiro, uma tendência pra traição do parceiro torna-se um prazer no sofrimento.

De uma maneira ou de outra, ela sai. Pode sair em cima do outro ou pode sair em cima de você mesmo. Se sabotando, se destruindo, se odiando, nunca se perdoando. Mas elas saem. E se não sabemos o que está saindo, de onde está vindo, viramos escravos de nossos impulsos inconscientes, marionetes dessas emoções que tanto queremos evitar.

E assim Bromanhur e Barthol, volta e meia, tiram até férias. Vão pras Cancún e permitem-se amar um pouquinho, só entre eles mesmo, sem que ninguém nunca saiba. Já que estamos fazendo praticamente todo o trabalho por eles por causa do nosso medinho dessas emoções e energias que são parte da experiência humana. Como seres humanos é nosso dever empoderar-se de TODAS as energias nos atravessam e que nos habitam. Colocar pra fora, olhar pra isso, experimentar esses estados transtornados em um espaço seguro, sem machucar mais ninguém com isso. Assumir responsabilidade pela energia que cultivamos e pelo o que causamos no outro. Botar pra fora de maneiras criativas e não passar a bola pro próximo. Porque todos somos um único câncer. Não adianta uma célula se curar deixando outra doente. É preciso que todas as células curem a si mesmas e ajudem as outras a se curar.

Sinta. Sinta muito. Sinta demais até. Sinta seja lá o que tiver que sentir. E enquanto sente, dance. Cante. Pinte. Escreva. Grave. Faça vídeo. Twitte. Faça amor consciente. Seja lá o que fizer, tire isso aí de dentro!