Archive for April 2022

Migalhas

Todo mundo queria ser eu. Menos eu.

Todo mundo queria um pouco do meu brilho. Menos eu.

Todo mundo queria viver um pouquinho da minha vida. Menos eu.

Eu nunca estava satisfeita ou em paz comigo mesma. Eu não conseguia ver o que os outros viam em mim.

Eu mendigava migalhas.

E teriam me consumido até minha morte. Teriam me comido viva. Sem dó nem piedade. Eu vaguei um tempo perto da morte. Em um espaço entremundo onde uma escolha mais profunda teve que ser feita.

E aí começei a ver. A me permitir ver tudo aquilo que eu fugia de ver. A verdade das coisas. Das pessoas. Da humanidade. De mim mesma.

A verdade é tão poderosa mas tão poderosa que quando começamos a vê-la em nós, não conseguimos mais deixar de vê-la em tudo. Quando nos deixamos ver uma verdade, acabamos vendo outras também.

E, do fundo do poço, toda fudida depois de ser tão sugada, usada, roubada – por minha própria permissão – consegui ver a verdade de que eu tinha muito mesmo. Vi um pouco do que eles viam.

E caí em culpa. Culpa de ter tanto. Por isso mesmo eu deixava que levassem.

Aos poucos fui entendendo que ter tanto vem com muita responsabilidade. É preciso cuidar e valorizar a minha propriedade (meu corpo, meu útero, minha energia). É meu. E é preciso fazer o meu melhor com o que tenho e por isso renunciar a muita coisa. E é pra mim. Só pra mim.

Isso não é egoísmo. Isso é amor próprio. O que transborda, o que brota, pode até sobrar pro outro. Mas a essência do que faço é só pra mim.

É desse lugar iniciático de quase morte de tanto ter dado meu poder na mão do outro que lhes escrevo. De um buraco de exaustão que venho renascendo. Após ter descido ao submundo do solo que decompoe a vida. De ter ido profundo, lá em baixo, no lodo aprender a me ver e me amar.

A vida sempre nos leva onde temos que ir. Por mais difícil que seja. Você realmente está exatamente onde tem que estar.
 

O Silêncio é a Base da Transformação

O silêncio é mesmo a base da transformação.

Eu sou péssima em meditar! Tenho uma mente MUITO mas MUITO ativa. Eu sou viciada em pensar. Me consumo pensando no futuro, na minha missão na Terra e em tudo que tenho que fazer pra chegar lá… E muitas vezes fico só no pensamento. Ação que é bom nada…

Estou há muitos anos coletando informação. Passei anos “não sabendo como”. Hoje é o oposto. Sei EXATAMENTE como fazer. O problema é fazer. Colocar a teoria que construí na prática.

E em uma conversa com uma amiga tão profunda quanto eu (sim! ela existe!) chegou a peça que faltava. O silêncio é a base da transformação. Quando não se consegue encontrar a força pra fazer, começamos com 10 minutos de foco na respiracao. 5 minutos, se 10 for muito…

Às vezes até sentar na cama, fechar os olhos e focar na respiração é impossível e tá tudo bem. Há 3 meses atrás, teria sido pra mim também. Mas, eu consegui.

E realmente, organicamente, quânticamente, a vida começou a mudar. Comecei a encontrar forças para outras ações urgentes – cuidar da minha saúde! A força veio da presença. Não da mente.

É a presença que faz a limpeza. Ela sabe fazer. E tava tudo sujo! A mente fica mandando mandando mas a força não vem da vozinha mandona. Nem da culpa de não estar conseguindo seguir a tal general.

Vem do silêncio.

É chato sentar e focar na respiração? É.

É mágico sentir-se recuperar a força para cuidar de si mesmo, também é.

Como sempre: questão de escolha.

O valor do diagnóstico

Todos estamos presos aqui ou ali. Seja na nossa abundância, nos relacionamentos, na manifestação de um lar, na criação de um trabalho que nos satisfaça profundamente. Tem alguma área que ficamos entalados.

Os xamãs siberianos dividiam suas sessões de cura em partes. A primeira parte era o diagnóstico. E cobravam 800 reais por isso. Eu achava um absurdo. Que loucura, querer me cobrar essa fortuna só pra me dizer o que eu tenho! Sem nem fazer nada pra resolver…

Hoje eu entendo. Só ver aquilo que nos prende já é uma puta de uma vitória e tem muito valor. MESMO. A maioria das pessoas tá caminhando por aí acorrentada sem nem imaginar… Esse diagnóstico às vezes leva anos pra se descobrir.

Uma vez descoberto, aí partimos pra cura. E aí são outros processos, estratégias, ferramentas que também levam muito esforço, disciplina e GRAÇA divina. É outra fase.

Mas às vezes, antes da cura, precisamos ficar ali, olhando pras nossas correntes, grades, jaulas. Sentindo. Se familiarizando mesmo. Tem momentos que é só até aí que chegamos. E ficamos.

Paralizados.

Eu sempre disse que só era possível compreender a liberdade profundamente quando se compreendia também a prisão.

Estar preso é parte de tornar-se livre.

Não tenha medo de ver aquilo que te aprisiona. Mesmo que você não tenha ideia de como se libertar. O processo começa na observação.

Estou saindo do Insta e colocando minhas captions todas aqui.

Há quase um ano atrás, eu saia da montanha sagrada onde vivi por mais de 3 anos. Exausta. Carregando 30kgs a mais no corpo. Perdida. Enrolada com um vilarejo de pessoas no meu campo energético.

Foram três anos onde o melhor e o pior que tem em mim e no outro puderam vir à tona, ser visto e amplificados.

Depois de um ano processando tudo que aconteceu em 2020, ainda não consegui resolver tudo. Passar uma pandemia em terra sagrada africana não é pra qualquer um.

Mas uma coisa é certa: mudei. Mudei muito. Amadureci. Coloquei o pé no chão. Cresci. Envelheci (adoro).

Quando saí da montanha, eu sabia que estava ingressando em uma jornada profunda. Essa jornada está apenas começando. E eu quero compartilhar um pouco com vocês.

Sou péssima em compartilhar. Nunca me sinto pronta o suficiente. Mas vou tentar.