Todo mundo queria um pouco do meu brilho. Menos eu.
Todo mundo queria viver um pouquinho da minha vida. Menos eu.
Eu nunca estava satisfeita ou em paz comigo mesma. Eu não conseguia ver o que os outros viam em mim.
Eu mendigava migalhas.
E teriam me consumido até minha morte. Teriam me comido viva. Sem dó nem piedade. Eu vaguei um tempo perto da morte. Em um espaço entremundo onde uma escolha mais profunda teve que ser feita.
E aí começei a ver. A me permitir ver tudo aquilo que eu fugia de ver. A verdade das coisas. Das pessoas. Da humanidade. De mim mesma.
A verdade é tão poderosa mas tão poderosa que quando começamos a vê-la em nós, não conseguimos mais deixar de vê-la em tudo. Quando nos deixamos ver uma verdade, acabamos vendo outras também.
E, do fundo do poço, toda fudida depois de ser tão sugada, usada, roubada – por minha própria permissão – consegui ver a verdade de que eu tinha muito mesmo. Vi um pouco do que eles viam.
E caí em culpa. Culpa de ter tanto. Por isso mesmo eu deixava que levassem.
Aos poucos fui entendendo que ter tanto vem com muita responsabilidade. É preciso cuidar e valorizar a minha propriedade (meu corpo, meu útero, minha energia). É meu. E é preciso fazer o meu melhor com o que tenho e por isso renunciar a muita coisa. E é pra mim. Só pra mim.
Isso não é egoísmo. Isso é amor próprio. O que transborda, o que brota, pode até sobrar pro outro. Mas a essência do que faço é só pra mim.
É desse lugar iniciático de quase morte de tanto ter dado meu poder na mão do outro que lhes escrevo. De um buraco de exaustão que venho renascendo. Após ter descido ao submundo do solo que decompoe a vida. De ter ido profundo, lá em baixo, no lodo aprender a me ver e me amar.
A vida sempre nos leva onde temos que ir. Por mais difícil que seja. Você realmente está exatamente onde tem que estar.