Archive for May 2022

Humilhada.

Quanta fome.

Quanta falta.

Quanto conceito alienígena direcionando ação coletiva dos que já se esqueceram ou sequer souberam o que é ser humano.

Quanta violência, tipo da que se assiste comendo batata Lays no domingo.

Quanta ânsia por poder. Seja lá qual for.

Quanto costume de se posicionar CONTRA.

Quanto desejo por guerra. Por briga. Por maldade.

Bóra dilacerar aquilo que nos é desconhecido.

Bóra obrigar que se curve diante do coletivo.

Que se arrependa diante da maioria.

Que aprenda uma lição pra nunca mais esquecer diante dos que estão certos com certeza.

Temos PRESSA.
É agora ou NUNCA.

Aqui não damos ouvido para esse tipo de frescura. Nem drama. Nem emoção. Nem sentimentos. Nem processo interno. Nem corpo. Nem vulnerabilidade.

É na marra.
Tiro. Porrada. E bomba.
As Preparadas.

Tá com a gente OU tá com eles.

Eles lá. O inimigo invisível. Que odiamos.

Mas também amamos. Porque amamos odiar.

Aqui não pode.

A gente não desculpa.
A gente não entende.
A gente não dá mais tempo pra se preparar.

A gente precisa. E vai arrancar. Engolir. Estraçalhar.

A gente tá deseperado. Separado e separando. Dolorido e causando dor. Irritado e irritando.

Despreocupado com qualquer cuidado necessário com o que é precioso. Novo. Jovem. Ainda sendo compreendido com cautela.

Ninguém nunca teve cuidado comigo. Então eu nunca vou ter cuidado com ninguém. Ponto.

A gente quer de graça. E a gente quer agora.

É a gente que manda. E se nos sentirmos ameaçados, nem analisamos se a ameaça é verdadeira – atacamos de imediato.

Não confiamos que exista bondade no mundo. Queremos mais luta. Sangue.

Exigimos parceria na nossa miséria.

Alegria nos olhos nos desperta a fúria da injustiça social.

Sucesso nos desperta a fúria da injustiça social.

Inteligência nos desperta a fúria da injustiça social.

Tentativas inovadoras nos deperta a fúria da injustiça social.

Tudo diferente do que nós acreditamos ser o certo é maluco. Louco. E precisa ser destruído agora.

Cuidado com o que você fala.
Cuidado com o que você pensa.
Cuidado com o que você sente.
Controle-se.
Reprima-se.
Para não nos incomodar.

Olha essa garota. Doente.

GORDA. A gente te odeia.
Arrogante.

Quem monta, cai.

Você não quer mudança.
Você não quer a refoma agrária.
Você não quer o fim da pobreza.
Você não quer o fim do racismo.
Você não quer a total integração da comunidade LGBTQ+.
Você não quer a implantação da sustentabilidade ambiental e climática.
Você não quer o fim do capital.

Você quer falar sobre isso.
Você quer lutar por causa disso.
Você quer se juntar com 100 mil pessoas na rua e vibrar raiva pro Universo em unísono por causa isso.
Você quer sentar no bar e tomar uma breja falando sobre isso.
Você quer criar memes disso.
Você quer encontrar seus amigos na reunião do coletivo.

Você tá viciado na sensação de ser injustiçado.

Você sente prazer na raiva. Na separação. Na briga. Na luta. Na crítica pela crítica.

Você se sente superior por não ter tanto quanto os outros como se isso te enobrecesse.

Você se acha melhor do que quem tem qualquer tipo de privilégio. E você acha que isso te dá o direito de levar uma caixa de som pra praia no Leblon e colocar o funk às alturas, esses ricos que se fodam.

Você acha que isso te dá o direito de jogar lixo na rua.

Você acredita que isso te permite ser mal educado. Entitulado.

É capaz que essas causas paguem até seu salário.

Te deêm o “status” de liderança comunitária.

Tem muito de você investido nessas “lutas” e você quer mais é continuar lutando. Vencer não é o objetivo.

E se alguém chegar com a perspectiva diferente da sua: você vai nomear mais um novo inimigo! Afinal, você ama ter inimigos. Você precisa ter inimigos para se sentir ancorado na realidade que você protege com unhas e dentes como a única possível.

E se alguém desafiar a sua visão de mundo: você vai destruir essa pessoa violentamente.

Porque o Capital é o que você conhece. É ruim mas pelo menos não é o desconhecido.

E como o agente BioNTech que você se torna à mínima ameaça do status quo (o acordo com o diabo da humanidade), você vai lutar pra defendê-lo de qualquer fator estranho (orgânico) que possa interferir na sua versão de realidade.

Porque você está fingindo. Que nem os atores na televisão.

Você é um ator em uma peça de teatro permanente.

No grande palco do Capital.

E eu não vou me juntar a você.