AURA 1 – Piracanga

Acabei voltar da ecovila Piracanga que fica há poucos quilômetros de Ilhéus na Bahia. A primeira vez que estive neste lugar foi em dezembro de 2010. Eu mochilava a Bahia com meu namorado da época e nós dois estávamos em uma onda de explorar locais desconhecidos. Ficamos sabendo dessa ecovila como uma espécie de lenda. Sem ter certeza se chegaríamos lá, fomos até uma praia em Itacaré e seguimos andando por horas pela costa do Maraú carregando nossas mochilas e barracas. Exaustos, quase desistimos da busca, até que avistamos alguns franceses que surfavam que nos indicaram a linda ecovila bem atrás deles. Fomos recebidos pelo jovem Ragi com sua mulher e atravessamos o rio em uma balsa quebrada. Era noite de lua cheia e uma grande celebração ao redor de uma fogueira estava programada. Foi a primeira vez que entrei em contato com a magia com leveza e naturalidade. Ao redor da fogueira estavam diversos terapeutas holísticos, leitores de aura, um fotógrafo de espíritos (que nos mostrou suas fotos como se fosse a coisa mais normal do mundo), mestres de reiki e outros seguidores de diversas linhas, conversando, tomando sucos e comendo comidinhas veganas. Ficamos mais dois dias e eu recebi a minha primeira leitura de aura do português Alberto que morava lá.

Essa leitura foi muito bonita mas na época eu ainda era bem desconectada do esoterismo e me lembro de pensar que aquilo era algo comum na Europa. Não fiquei particularmente impressionada. Eu precisava mesmo passar por outros processos antes de ter a capacidade de valorizar aquela experiência revolucionária que eu tinha tido a oportunidade de experimentar tão cedo na vida. Na época pouquíssimas pessoas tinham a chance de ter suas auras lidas. Essa técnica ainda estava bastante restrita a alguns poucos terapeutas que tiveram a oportunidade de aprender do californiano que canalizou esta ferramenta de 144 anjos nos anos 60.

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A vida acontece, dá voltas e em dezembro do ano passado eu me encontrava em uma confusão mental e exaustão profunda de tanto insistir em caminhos políticos, ativistas, anarquistas e rígidos de emoções. Tirei uma semana afastada de todas as minhas atividades que serviam para tapar meus buracos e preencher meus vazios e me inscrevi em um curso de meditação que, como tudo na vida, se apresentou no momento certo. Era a Meditação das Rosas, essa meditação é pré-requisito para a leitura de aura pois é uma ferramenta muito poderosa de limpeza energética. Assim que realizei a minha primeira meditação completa, limpei muita energia que eu estava carregando e tive um ataque de choro na frente das 30 pessoas que faziam o curso.

A meditação das rosas passou a fazer parte da minha vida e nos primeiros meses fiz todos os dias, limpando muita coisa que eu carregava. Aos poucos fui me distraindo e sucumbindo à preguiça que não é nada mais que energias de resistência à sua limpeza do meu campo. Me envolvi com outras linhas espirituais, aprendi outras meditações e fui crescendo em outras áreas do interno, elevando minha energia corporal através de práticas xamânicas, parando de beber, de fumar, de alterar a percepção à partir de substâncias externas… A meditação das rosas acabou sendo uma prática semanal.

Minha melhor amiga resolveu pedir demissão da sua vida tradicional de trabalho e ilusão e se juntar a mim numa busca pelo caminho da felicidade. E foi ela que foi fazer o curso de leitura de aura em Piracanga em Maio desse ano. Ela voltou muito diferente e muito consciente. Quando nós conversávamos era como se ela estivesse na mesma busca que eu esse tempo todo. Percebi que aquele lugar tinha uma conexão muito forte com o meu caminho e que eu devia fazer o curso também.

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E a minha experiência no curso foi muito transformadora. Ao chegar em Piracanga, levando na mala uma roupa da cor e cada chakra, eu não sabia o que esperar. Na verdade, eu estava me achando um pouco clichê, esse curso está se tornando tão popular e tantos amigos já fizeram… E meu ego adora ser diferente. Ego este que seria desconstruído rapidinho durante o curso, a minha intenção era mesmo desconstruir o ego e me libertar dos medos que me impedem de ir pra frente. O lugar estava totalmente diferente. O jovem Ragi se iluminou e tornou-se Prem Ragi, a vibração de Piracanga mudou completamente depois disso, a espiritualidade tornou-se um foco muito bem organizado da comunidade que passou a compreender-se como um berço de novo mundo. Muitas pessoas se mudaram pra lá e muitos dos antigos moradores se foram. Diversos projetos de permacultura, alimentação, universidade para jovens, escola de serviços foram estruturados e a formação espiritual fica a cargo do curso de leitura de aura que tem sete módulos, sendo que o seis e sete são para formação de professores. Eu percebi que voltava para um lugar que evoluiu muito e mudou, mudou para algo maior do que me considero apta a compreender.

Foi tudo bem diferente do que eu imaginava. Eu não estava apenas em um curso de leitura de aura, eu estava em um retiro de cura energética. Os professores nos explicam que para ser um curador é preciso se curar antes e que se aquele curso iria nos ensinar uma ferramenta de cura, ele iria nos auxiliar no nosso trabalho interior intensamente para que estivéssemos mais aptos a usar a ferramenta. A cada dia que passava, todos vestindo a mesma cor e se conectando com a vibração de cada chakra, eu podia perceber a egrégora invisível que nos auxiliava no nosso processo de cura e o campo energético sustentado pelos guardiões de luz daquele lugar.

As vibrações densas não tiveram chance. Passamos por diversos processos intensos de limpeza até mesmo de obsessores em um espaço de muita segurança e muito suporte dos instrutores. Ao longo dos dias, víamos as pessoas se transformando fisicamente, mudando seus sorrisos, se abrindo, expondo suas verdades, chorando e voltando a se conectar com a energia perdida do amor. As vivências são pensadas de acordo com o grupo, cada AURA 1 é diferente do outro. As pessoas que chegam para o curso parecem ser atraídas na mesma época para um processo de cura específico, é incrível o quanto nos identificamos nas questões do outro e como podemos ver no outro o nosso espelho durante todo o processo.

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Piracanga é puro amor, é um local em que a pureza de coração não é vista como ingenuidade mas sim como beleza de espírito e qualidade moral. Para mim, especialmente, foi muito forte perceber que o processo de cura que eu recebia ali era na verdade a compreensão de que eu podia ser como eu sempre fui. Passei a vida ouvindo dos outros que eu era sensível demais, que eu era ingênua, que eu me abria demais pras pessoas, achava que todo mundo era meu amigo, me preocupava demais com o bem estar dos outros… E acabei mesmo sendo explorada, traída, abandonada por ter sido muito pura em alguns processos que vivi que exigiam mais sagacidade, mais maldade, mais proteção emocional. Após essa decepção com o mundo e com as pessoas, eu passei por um processo de auto crítica tão intenso em que eu me culpei durante muito tempo por ser como eu era, eu me achava uma idiota, não entendia porque eu não conseguia ser como as outras pessoas que tinham tanta malandragem, tanta facilidade em compreender os jogos por trás das motivações aparentes, que falavam tudo pelas entrelinhas… E fui me fechando, criando muros de proteção ao redor do meu coração. Me tornei uma fortaleza para nunca mais ser enganada, ao mesmo tempo me desconectei da minha pureza, da minha verdade. E em Piracanga eu aprendi que no novo mundo que está sendo criado ali, essas qualidades que eu sempre tive eram o que estava sendo cultivado e curado nas pessoas.

Não foi fácil perceber o quanto eu estava distante da minha essência por causa de toda a proteção que eu criei. É como se durante os últimos dois anos da minha vida eu tivesse tentando curar o que não precisava ser curado. Eu vinha tentando ser mais rígida, mais distante, mais independente emocionalmente das outras pessoas, mais fechada e reservada. E lutando muito por isso. Estava aí o meu estado de exaustão e solidão que eu mesma vinha criando pra mim acreditando que isso era crescer e me tornar apta para encarar o mundo “real”. Em Piracanga me foi apresentado um outro mundo real em construção, onde fala-se à partir da sua verdade e ser puro, amoroso e aberto é aceito e valorizado.

Dois chakras foram especialmente difíceis pra mim. O chakra verde cardíaco Anahata e da garganta azul celeste Vishuddha que regem respectivamente o amor humano e incondicional e a capacidade de expressão e materialização. Durante o dia do coração eu fiquei bem irritada por ter que lidar com meus problemas afetivos e tive muita realização de amarras e acordos energéticos antigos que ainda me separavam de possibilidades futuras. Fiquei especialmente irritada durante a vivência noturna que era uma grande partilha das questões afetivas. Me recusei a partilhar, consciente de que era uma resistência da minha parte. Em alguns momentos me senti como se ter que amar e me relacionar fosse um peso de tão difícil que preferia não ter esse chakra por vezes… Já o chakra da garganta foi uma surpresa. Eu sou uma comunicadora, tenho um programa de rádio, falo em público especialmente em situações políticas em que tenho que defender algum ponto de vista mas alguma coisa aconteceu durante esse curso que eu não senti vontade de falar uma única vez sequer. Enquanto todas as pessoas expressavam suas angústias, choravam para todos, comentavam seus problemas, eu ficava ali só olhando e tentando resolver minhas questões internamente… Mas comecei a me sentir muito incomodada com a minha rigidez em não querer me expor ou expressar nada. Aos poucos fui percebendo que tenho falado muito de tudo menos das minhas emoções e que quando estou em um espaço de expressar o que se passa internamente, travo. Recebi muito suporte das leituras de aura que fizeram em mim, muitas mensagens para que eu me abrisse, para que eu colocasse minhas ideias pra fora. Há muito tempo que me fechei, deixei de falar sobre sentimentos e ideias. Desde que desisti da política comecei a acreditar nas pessoas que dizem que não adianta nada falar sobre essas coisas, que ninguém quer falar sobre o mundo, ninguém quer ouvir sobre outras possibilidades, que esses papos cabeça são muito chatos… Também reconheci um lugar de muito receio de afastar os outros com as minhas ideias, de demonstrar as coisas que eu penso e ser considerada diferente demais, inteligente ou louca demais… Quanta coisa pra curar que eu nem sabia! Foi difícil…

Durante todo esse processo de cura, começamos a aprender as técnicas da leitura de aura. A aura é o campo energético que nos rodeia e carrega todas as informações sobre nós mesmos, o que vivemos, quem somos, todas nossas memórias e até registros de vidas passadas. Na verdade todos nós já nascemos fazendo leitura de aura. Sabe quando você olha para uma pessoa e tem uma sensação ou já sabe alguma coisa sobre aquela pessoa sem que ela tenha te falado? No curso nós aprendemos uma forma de acessar essa informação. Só que fazemos isso com a permissão do espírito das pessoas para trazer alguma clareza sobre suas vidas. Na verdade, quem guia toda a leitura é o próprio espírito da pessoa que envia as imagens e mensagens para que a pessoa possa tomar consciência do seu momento e saber como proceder para alcançar uma maior proximidade com sua essência. O que mais me encanta é a linguagem utilizada nessa comunicação divina que é extremamente metafórica, algo que um computador jamais seria capaz de decifrar. É a linguagem mais humana de todos os tempos. Nenhum outro ser ou máquina teria a capacidade de fazer as associações e interpretações necessárias para compreendê-la. É uma linguagem extremamente simbólica.

Muitas pessoas chegam no curso acreditando que não vão conseguir ver nada. Mas todo mundo vê. Passamos alguns dias nos revezando em pares e lendo uns ao outro. Ao final do curso estamos íntimos de muitas pessoas, as amizades tornam-se intensas muito rapidamente pois acabamos ficando sabendo bastante de cada pessoa, além de ser um momento de muita troca de energia.

Saí do curso renovada. Em contato com tantos sonhos que eu nem sabia que ainda tinha. Me sentindo um pouco desprotegida por ter desconstruído tantas das minhas barreiras. Voltar pro mundo real, encarar uma cidade novamente me assustou. Eu não quero mais essas barreiras nunca mais. Quero poder ser eu mesma, custe o que custar. E foi esse o último conselho que recebi da pessoa que estava dirigindo meu transporte para o aeroporto de Ilhéus: se te passarem pra trás porque você está sendo amorosa, não é pra deixar de ser amorosa. Não dar tanto peso para aqueles momentos em que ser uma pessoa boa parece não ser o certo. E fiz a escolha de entrar cada vez mais em contato com a minha essência de amor e verdade de esperança.

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