Gabriela

Por onde Gabriela passa, ela destrói tudo. Desde pequena que começou a destruir vidas. Destruiu o casamento de seus pais, destruiu a vida da sua mãe, destruiu a dignidade do seu pai. Destruiu a personalidade da sua irmã. Destruiu a vida dos homens que namorou. Destruiu a vida do amor da sua vida. Destruiu. Destruiu. Destruiu.

Ao seu redor, a felicidade parece se extinguir. As pessoas aos poucos vão caindo em um sofrimento e depressão profunda. É um incômodo constante estar perto dela. Amizades fortes se separam. Ela quebra grupos. Quebra pessoas. Ela se envergonha do seu ambiente familiar, pessoas que tem tudo que precisam pra ser feliz mas que caíram todas em um ininterrupto sofrimento sem fim.

Ninguém é capaz de amá-la. Ela não permite que ninguém se aproxime. Porque ela não aguenta mais ver tanta destruição, tanto sofrimento, tanta separação por onde passa. Ela tem medo do efeito que ela tem em pessoas. O amor tem muitas polaridades, é a energia que move todos os seres humanos. O excesso de amor, a falta de amor, as estratégias para conseguir amor ou fugir dele são o que faz com que sejamos quem somos. E Gabriela amava demais. Ela amava tanto que acabou se destruindo também. Se apaixonou pelo primeiro Aladdin que encontrou e, sem uma garantia, amou-o com todo seu corpo e toda sua força. Até hoje ele a culpa de ter destruído sua vida também. Assim como fez seu pai.

Ela destrói todas as oportunidades que tem de se libertar dessas pessoas a quem julga ter destruído a vida. Porque sente que precisa servi-los de alguma forma. Que precisa compensar por ter destruído suas vidas e se sacrificar para que eles sejam minimamente felizes. Não se permite ter raiva desse papel em que a colocaram sem sua permissão, não se permite ter raiva de ninguém. Ela será pra sempre uma escrava, mendigando o perdão do outro. Mendigando restinhos de amor que ainda possam sentir por ela. Enquanto ela abre mão de toda sua juventude, sua força, seus talentos para seguir de capacho para aqueles que ela destruiu. Ela tenta colar os cacos que restaram das suas relações passadas, fica tão absorvida nessa missão que não consegue mais criar novas relações.

Um dia Gabriela estava diante de um mestre implorando pelo fim de seu sofrimento e do sofrimento daquelas pessoas a quem destruiu a vida. O mestre lhe perguntou como foi que destruiu essas pessoas? Não soube responder… Eles nunca sequer lhe dignaram a uma explicação. Soltaram essa acusação em momentos aleatórios e aquilo foi ficando no fundo do seu subconsciente definindo tudo que ela é hoje em dia. O mestre então perguntou se alguém já tinha destruído a sua vida? Imediatamente Gabriela sentiu que todas essas pessoas que lhe acusavam tinham destruído sua vida de alguma maneira profunda e que eram elas que impediam que ela fosse feliz. Também lembrou de mais umas tantas que tinham destruído sua vida de outras maneiras. Ela se lembrava perfeitamente de alguns rostos com ódio e desejo de vingança. Mordia os lábios até escorrer sangue pensando no quanto os faria sofrer. Mas imediatamente se arrependia daquele tipo de emoção e se sentia totalmente impotente para mudar sua vida.

“Eu estraguei tudo!” dizia ela. Aos 29 anos, viver estava difícil demais. Ela não se aguentava mais, sabotando todos os momentos de felicidade possível. Sabotando cada encontro, cada entrevista, cada flerte, cada amizade nova.

O mestre então lhe disse em uma voz calma, alegre e baixinha:

“Ninguém tem o poder de destruir a vida de ninguém. Estamos encarnados nesta dimensão, neste planeta, neste tempo para evoluir. Para auxiliar o processo de transição de Eras. Gaia está evoluindo e nós estamos de carona. Você pediu por cada uma destas experiências que você hoje considera destrutiva. A sua energia queria passar pelo processo de fragmentação e reconstrução que vem com a experiência da destruição interna e externa. E você pode sim ter auxiliado outras pessoas nestes processos pelos quais eles mesmos pediram. O que trava o processo é ficar parado nesse jogo de acusação e não se permitir reconstruir. Ficam presas àquilo que eram antes da transformação e por isso não conseguem se deixar evoluir. Apegar-se à destruição, aí sim, é destruir-se. É preciso olhar pra ela como o que ela é, um degrau na missão de evolução que você veio viver porque quis. E deixá-la pra trás junto com a culpa de ser este degrau na vida do outro.”

Gabriela se sentiu aliviada com aquelas palavras. Mas voltou pra casa e no dia seguinte se convenceu de que aquele papo nova era não era pra ela. E que devia continuar apegada à destruição porque assim sofreria mais e a sua família a amaria mais se ela estivesse sofrendo do que se ela estivesse feliz. Ela já estava tão viciada na energia da culpa que nem seu corpo aguentaria a liberação daquela energia assim, de um dia pro outro. Quem aquele mestre achava que era? Por isso que ela era anarquista. Não queria ninguém lhe falando verdade nenhuma. Queria sofrer pra sempre.

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