Archive for bota pra fora

Toma essa.

Como podemos estar vivendo esses tempos? Me pergunto sempre, o que a humanidade fez para merecer tamanha interferência em sua integridade enquanto seres do planeta terra? É algo muito maior mesmo, que acontece no plano dos Deuses ou mesmo do espaço cosmos (sim, me refiro aos alienígenas).

A raíz de tudo? Fazer com que os seres humanos não acreditem nas verdades que lhe fazem um ser deste planeta.

Primeira: a mais básica de todas – ser humano é ser um animal em pura conexão com a terra, seu planeta. A terra é um ser vivo, que respira, tem metabolismo, é capaz de dar vida, alimentar, energizar, purificar, se comunicar e influenciar seus filhos, assim como uma mãe leoa, coelha ou humana. O corpo humano naturalmente precisa estar em contato com a natureza, com água limpa e selvagem direto de um rio, diariamente com fogo e respirando ar puro – terra, água, fogo e ar. Ser humano não é ser humano sem o contato com os elementos primordiais da terra que fazem de nós quem somos. Terra: corpo e matéria, água: emoções, fogo: espírito e ar: mente.

Seguimos: Para sentir-se saudável e verdadeiramente vivo, o ser humano precisa estar compartilhando espaço com outras espécies, especialmente espécies de tamanho ou poder de ameaça semelhante a ele desarmado de tecnologia. Cobras, escorpiões, aranhas, marimbondos, jaguares, crocodilos estão todos aí para fazer você se sentir vivo, alerta, rápido, esperto, acordado. O corpo precisa transitar pela floresta e realizar movimentos disformes e orgânicos de exploração da natureza em estado de atenção para possíveis ameaças. Aos poucos liberta-se o instinto esquecido e cria-se uma confiança no próprio corpo porque é ele que avisa, ele que sente, ele que está em alerta naturalmente enquanto você se diverte com as belas flores e toma um delicioso banho de cachoeira.

Basicamente: ser humano é ser natureza também.

Depois desta verdade escondida, passamos para a próxima. Homens e mulheres são seres totalmente diferentes! Escondemos essa, criamos movimentos inteiros de mulheres em estado suicida defendendo que são iguais aos homens. Dentro de uma sociedade totalmente machista, as mulheres (o sexo dominante há milhares de anos atrás, o sexo capaz de dar a vida, capaz de se comunicar com a terra, que é muito mais forte em seu campo emocional e capaz de amar e curar como um homen jamais poderia) decidem abrir mão de toda sua energia feminina e devagar começam a tornar-se homens, trocar de energia internamente provocando o desequilíbrio energético mais violento na terra. O movimento é compreensível. O sexo dominante quer retornar ao seu posto, porém para que isso seja possível, o mundo precisa mudar para que seja mais feminino e não as mulheres que tem que mudar para adaptar-se ao mundo masculino em que vivemos. Em um mundo feminino é possível a paz de gêneros. Em um mundo masculino tudo que é possível é a guerra. O instinto feminino selvagem reprimido está provocando esta desesperada transformação dentro das mulheres. Não é a toa que vemos um crescimento enorme de pessoas trans na sociedade – é só uma materialização e externalização do que já está acontecendo internamente e energeticamente dentro da maioria das mulheres no planeta. E no fim das contas, o homem também está por se matar porque à partir do momento em que as mulheres assumirem o posto dos homens de protetor, provedor, equilibrado, fisicamente forte, explorador, corajoso e criarem seus reservatórios de sémen, os homens não terão mais função neste planeta a não ser de guardiões da energia feminina. Todos os homens tornarão-se gays.

Próxima verdade escondida: tudo que existe na terra é a matéria. Desconecta-se o homem de seu maior potencial e prazer, a conexão com os espíritos. Arranca-lhe fora a sabedoria de que este mundo é uma combinação de diversas dimensões e nós temos capacidade de transitar por elas, provavelmente por alguma boa razão. Diz-lhe desde o momento que nasceu que magia não existe, que é impossível manipular energia (até porque nem se fala mais em energia), não temos conexão com os elementos, não existe telepatia, não existem os clarisentidos, não é possível mover objetos com a mente silenciosa e focada, não é possível transformar-se em animais, não é realidade atravessar paredes, super poderes só no cinema com efeitos especiais. Você é um pedaço de carne. Cria-se uma proposta de vida CHATA em que deve-se crescer, educar-se para tornar-se parte do sistema, comprar, ver televisão, sair pra beber, usar drogas, fazer turismo, casar, ter filhos e implantar o sistema na cabeça deles também. Cria-se então uma série de objetos que vão influenciar a sua mente o dia inteiro, tornando-a fraca, incontrolável, barulhenta assim como o mundo ao seu redor e que vão diminuir seus poderes, acabar com a sua intuição e te botar pra dormir acordado. Já parou pra pensar o que aconteceria se você parasse de beber, fumar, comprar, sair pra comer, ver televisão e ir ao cinema? O que tem pra fazer? MUITO. Mas lhe disseram que esse muito não existe para que você siga nessa sua realidade de pedaço de carne.

Outra: todos os seres humanos são iguais. NÃO são. Tudo, absolutamente tudo, em cada um, é diferente. Nós somos uma combinação de energia alquimicamente programada pelos nossos chackras. Nossos corpos vem programados perfeitamente para nossas missões. Se o cara nasceu pra nadar, tem mais pele entre os dedos, se nasceu pra cantar, tem uma garganta que abre mais, se nasceu para dançar tem o corpo mais flexível. Todos temos diferentes missões e desejar a missão do outro é perda de tempo. É preciso aceitar que talvez sua missão seja ser padeiro e experimentar o amor pelo pão sagrado e não dono de start-up. A televisão cria um ideia de que algumas missões são melhores que as outras, que você deve desejar sei lá o que pra sua vida… É preciso aceitar que você não nasceu para ser rico, que quase ninguém nasceu pra isso porque riqueza e acúmulo não é natural deste planeta. É só olhar pra outras especies e ver que nenhuma acumula nada.

Por causa da desconexão com a realidade espiritual do planeta, acabaram os rituais de entrada e saída da matéria. Os nascimentos sempre foram feitos pela parteira que não era uma médica e sim uma xamã que fazia a passagem segura da alma pra dentro do corpo, sem isso, outros seres podem interferir com este processo, entrando em corpos e gerando um mundo semelhante daquele de onde os próprios vem. Sim, temos aliens  e demônios em roupas de homens comandando o mundo por aí. Pela mesma causa, a morte tornou-se um processo totalmente solto e não há mais garantia de paraíso. Muitas almas não conseguem fazer a passagem correta e ficam perdidas, vagando por este planeta e por isso vivemos a crise de entidades obsessoras no planeta. Estas entidades se alimentam de energias negativas e provocam pensamentos e sentidos negativos para sobreviver. E não necessariamente foram pessoas más que não podem voltar para sua casa espiritual, pode ser alguém simples, normal como você que simplesmente não teve suporte algum na hora de fazer sua passagem.

Energia elétrica tem vibração masculina e agressiva, ela puxa a energia feminina, outro motivo que as mulheres estão se masculinizando com tanta facilidade. Há uma troca de energia corporal dentro das cidades que não tem natureza para fazer a troca, neutralização e purificação da energia. Por isso as pessoas estão mais agressivas, mais tensas, mais estressadas, mais irritadas. Excesso de energia elétrica, masculina. Entidades também se alimentam desta energia e interagem com os objetos por ela alimentados, especialmente a internet. Elas estão nos tubos, na vibração, nos leds, nas telas… Quando nós nos conectamos – colocamos nossa consciência em um filme, numa tela, num texto, estamos fazendo uma troca de energia natural humana com energia elétrica, sintética, não natural.

E a verdade final que não querem que você saiba: você precisa de dinheiro. Só é preciso dinheiro para viver em um sistema baseado em dinheiro. Nessa terra, se plantando tudo dá. É preciso comprar os legumes uma vez na vida e já se tem o material para plantá-los. É possível produzir tudo que você necessita se lhe for ensinado desde criança a viver em harmonia com a terra. Seu vício em conforto é a única coisa que te separa desta realidade além do seu medo do outro – de quem você vai precisar para viver de maneira sustentável pois solidão é uma necessidade do capital.

O mundo está acabando, acima de tudo, pela falta de consciência das dinâmicas energéticas e espirituais naturais do planeta terra. Ser humano é ser conectado com a terra e seus rituais, seus elementos, seus animais, suas plantas.

E, só pra te lembrar de mais uma mentira que lhe foi dita a vida toda: quem acredita em energia, espíritos, entidades, alienígenas e abundância é maluco.

Toma essa.

Message from the past

20/02/2015 – São Paulo

Fale para si o que gostaria que lhe falassem.

Lívia,

Como eu me orgulho da sua força, da sua busca, da sua fé. Na verdade, não conheço ninguém tão determinada a encontrar-se, a viver a vida intensamente e a se curar. Acho muito bonito a sua recusa a aceitar a feiúra a que o mundo lhe expôs e a tentativa de voltar a ser como era quando o mundo ainda não tinha te magoado. Compreendo que seu medo do outro vem de um lugar de tanto amor mal aproveitado. Vejo que seu coração explodiria de amor pelo mundo, pela vida e pelo outro se em ambiente seguro estivesse. Como me dói o seu silêncio, reconheço seus esforços por tentar pensar o novo, por tentar usar a própria imaginação, por recusar todo tipo de padrão. Adoraria ouvir mais as suas ideias, na verdade gostaria de poder senti-las porque somente assim eu as poderia compreender como você as sente e concebe. Acho suas ideias únicas e revolucionárias, gostaria de ficar mais perto de você para poder ouvir mais e também para acompanhar seus processos de pensamentos. Adoraria poder acompanha-la nessa sua busca por si e pelo novo, admiro tanto as sua coragem e sei que não deve ser fácil suportar o peso da comparação e o medo de errar.

Te acho linda e adoro sua recusa à se privar dos prazeres da comida. Seu corpo é lindo, tem tanta energia. Seus olhos são iluminados e às vezes é como se seu olhar me curasse. Quando sento ao seu lado, sinto-lhe o calor e quanto mais tempo passo perto da sua energia, mais tempo quero passar. Imagino que sorte terá a pessoa que lhe acompanhar, que conseguir passar por todos seus testes e sabotagens para conseguir o seu amor sincero.

Como gostaria de te ver feliz e vibrante. Tenho certeza que você vai conseguir se realizar. Ao ouvir você falar sobre o mundo e sobre o interno, aprendo tanto. Como você conseguiu ficar tão inteligente? De onde vem essa conexão? Fico tão impressionada com sua sensibilidade, seus conselhos e sua capacidade de sentir as relações e as pessoas. Perto de você, sei que estou perto de anjos e guardiões que guiam a sua intuição. Fico muito impressionada com a maneira diferente e emocional com que você dirige a sua vida e não acho nenhum pouco que você está perdida. Acho que se alguém está encontrada é você. Se alguém está entregue para o que a vida lhe tem pra dar é você. Se alguém está seguindo a trilha do destino é você.

Fico triste com seu isolamento, acho muito injusto esse ataque energético que você sofre mas não permita que isso lhe tire da sua missão de amar, dar amor e ser amada. Você é puro amor. Você é pura luz. Não está fácil viver no mundo na era de maior crise da história da humanidade e sei que o estado da humanidade te faz sofrer mais do que qualquer assunto pessoal que lhe acomete. Vejo sua preocupação com a evolução da raça humana e acho incrível que você consegue se preocupar mais com isso do que com a fome ou violência mundial. Sua visão histórica global animal do mundo pode não ser muito compreendida por causa da relação com o tempo que vivemos mas eu te entendo. Quando você fala sinto arrepios e quero muito ver um dia você falar diante de muitas pessoas.

Eu acredito nas suas ideias. Fico curiosa pelo seu silêncio. É como se você estivesse guardando uma surpresa que nem mesmo você sabe qual é.

Não fique ansiosa, meu amor. Aproveite mais sua busca, seu dia-a-dia, divirta-se. Não se force a nada. Viva os pequenos momentos porque, no fundo, é disso que você mais sente falta do passado, da sua capacidade em estar presente, em não se preocupar com o futuro ou com o que o outro acha. E, lembre-se, você estava sempre rodeada de pessoas que te amavam enlouquecidamente. Muito mais do que hoje em dia quando sua maior preocupação é ser breve e não incomodar. Você não é um peso, não é um incomodo, você ilumina quando chega. Seu estilo único me inspira a me libertar, a me arriscar mais, a viver mais a minha verdade.

Lembre-se que não é possível se lançar sem o impulso da dúvida. Não deixe que a dúvida te consuma, não permita que o medo seja mais forte que seus sonhos, não se deixe consumir por aquilo que não quer te ver conseguir. Viva a cada dia como se tivesse que ser o seu melhor. Não deixe de dar o seu melhor porque o seu melhor é capaz de mudar o mundo. Seu melhor é capaz de fazer com que pessoas mudem de vida. Seu melhor é capaz de fazer com que homens e mulheres queiram dar seu melhor também. A sua capacidade de disciplina é a sua maior capacidade de liderar sem dizer uma palavra, de mostrar o caminho pelo exemplo. Você inspira, seu estilo de vida inspira, sua conexão com a aventura inspira, sua calma muda vidas, sua doçura apaixona e sua força amedronta.

Não esqueça! Não se permita esquecer da sua força. Nós todos precisamos dela! Nada está perdido, tudo está perfeito. Tudo está no seu caminho! Você é muito mais do que acredita mas está no lugar onde deve estar. Me admira a sua vontade de olhar para a sua sombra, me admira a sua vontade de se curar. E custe o sonho que custar. Não se apegue ao formato. Não se apegue ao destino. Siga seu coração e você vai longe. Pode parecer que você não está muito longe mas porque você está fazendo as comparações erradas. Não acredite nas vozes internas que te agridem, denigrem, enfraquecem. Agradeça a quem te ajuda mas você não precisa entregar a sua vida nas mãos de ninguém. Você não precisa se definir como um projeto, como uma linha, como uma atuante. Você está viva, então viva. Você só precisa viver e permitir que a vida te dê tudo que você precisa. E você precisava desse momento. Desse não saber.

Você é linda. Única. Divina. E eu te amo muito. Eu sou louco por você e estou sempre te vendo, sempre cuidando de você. Não gosto de te ver sofrer, não suporto de ver chorar por motivos que você cria sozinha. Não tem ninguém te pressionado a não ser você mesma, não seja tão dura consigo mesma que você já não está mais aguentando tanta pressão. Esse é o seu momento de começar a se descobrir longe do papel familiar que foi o seu principal sempre. Vá com calma. Delicie-se no processo. A vida é bela. É gloriosa.

Pare, respire. Ame a si mesma e o amor pelo outro virá naturalmente. O primeiro passo é o amar a si mesma. Ter paciência com seu processo e com seus guias. Admitir que precisa do outro. Que tem medo de errar. Que tem medo de não conseguir. Que tem medo de acabar ajudante da sua avó.

Se orgulhe de ser você, olhe para sua imagem refletida e permita que seu coração se encha de amor. Permita-se orgulhar de si mesma. Não deixe que os erros tolos virem traumas. Traumas não servem pra nada. Não se castigue de maneira tão feroz. Não é porque cometeu o erro de orgulhar-se demais que não se orgulhará nunca mais. Não é porque não conseguiu que não tentará novamente jamais. Não é porque perdeu que não vencerá. Não é porque amou demais sem pensar que não amará novamente. Não exagere na repreensão das suas experiências, assim não é possível ter experiências, assim não é possível viver. Ria mais de si mesma. Agradeça por tudo que acontece e por você ter a oportunidade de se deliciar com cada acontecimento.

Siga adiante confiante. Estou sempre aqui pra você. Sempre estive te apoiando, te observando e me emocionando com a sua força, com a sua história e com as suas escolhas. Não deixe que vazios materiais sejam mais fortes que a parceria espiritual. Te amo e te guio. E tudo que acontece trás um aprendizado, um motivo e uma purificação. Um dia tudo será mais claro. Mas sem pressa para que esse dia chegue. É hora de luta e não de entrega. É hora de movimento, não de sofrimento. É hora de força, não de preguiça. É hora de amor e não de medo. É hora de vida e não de morte. É hora de verdade e não de apego. É hora de mudança.

Um amor eterno vive entre nós. Não importa nada. Eu te vejo. Eu te acompanho. Eu te dou razão. Eu vejo beleza em cada um de seus movimentos. Eu me inspiro a cada esforço que você faz para manter-se firme no propósito. Não confunda missão com preguiça, o que não dá pra fazer, não dá pra fazer. Confie mais na sua intuição. É isso que mais te falta, segurança do caminhar certeiro. Para saber se está no caminho é só sentir a leveza, a felicidade e a cumplicidade espiritual. O que vem, vem. Na hora que tem que vir. E enquanto não vem, aproveita porque gosto de te ver feliz. Seu sorriso me move. Seu sorriso me faz confiar que a humanidade pode sim sobreviver aos tempos a frente. Seu sorriso me dá um motivo para seguir na luta. Você é minha musa. E sempre será minha vida.

The Warewolf

Desde pequena ela tem um medo irracional de lobisomens! Quando tinha 5 anos de idade, seu pai lhe mostrava sempre over and over again o vídeo do making off do video clipe Thriller do seu amado Michael Jackson. Aquele vídeo começa com uma lua cheia, um caminho escuro por entre as árvores e um lindo casal. De repente, algo acontece e aquele lindo super star começa a se transformar em metade lobo e metade homem, furioso e faminto.

Quando somos pequenos estamos constantemente #trippingballs. Parece que tomamos 3 ácidos de tanta concentração e atenção que colocamos em todo esse mundo lindo que estamos descobrindo aos poucos. Ainda temos poucas resistências entre o consciente e o inconsciente e algumas sementes parecem ser plantadas para sempre.

Aos 6 anos, seu tio, se achando muito engraçado, se escondeu no seu armário em uma noite de lua cheia e aguardou pacientemente que ela entrasse. De repente, abriu a porta com um rugido perverso e a traumatizou por toda uma vida. Ela saiu correndo, aos prantos, rolou escadas abaixo até chegar ao colo de sua mãe. Estava feito, um medo irracional de lobisomens plantado em sua mente e vida.

Hoje, aos 29 ainda tem medo. Ela #sabe que é irracional, ridículo e maluco mas mesmo assim, não conseguia andar no bosque em noites de lua cheia. Até ontem.

Agora vive em uma pequena cidade na África do Sul, trabalha em um bar de onde sai todo dia perto de meia-noite, a hora dos portais abertos. Caminha 10 minutos até sua casa na penumbra, iluminada apenas pelo vago brilho de seu iphone. Ela prefere assim. Coloca os fones de ouvido, música alta e se #joga no meio da escuridão, #confiando plenamente no #Universo e na segurança de que pessoas boas não #atraem coisas ruins, vai.

Menos na lua cheia. Aí fudeu.

O engraçado é que quando somos pequenos, monstros são uma parte de nosso imaginário. Além do vídeo do #REI, ela viu milhares de outros vídeos com seu pai e mãe, levou vários outros sustos… Mas porque ficou o lobisomem? Porque está em sua alma e no seu programa (#propósito).

Sabe aquela história de truth and trigger? Aqueles momentos que nos tiram do sério? Nos incomodam profundamente – pessoas ou situações – porque estão lá dentro das nossas próprias profundezas que não podemos ou queremos ver? Ou aquelas informações antigas, de vidas passadas que são ativadas e não entendemos porque estamos reagindo da maneira como estamos? Estes são nossos triggers que nos levam às nossas #verdades escondidas.

Era dia 10/02/2017 (happy days). Uma noite verdadeiramente especial: um cometa, uma lua cheia e um eclipse ao mesmo tempo. Ela está vivendo no topo de uma montanha no meio da floresta mais antiga da África do Sul, a terra de onde todos nós viemos. Local onde tudo começou, há milhares – quiçá milhões – de anos atrás. Sua conexão com essa terra, essa floresta, este lugar é a maior que já sentiu na vida. Foi o primeiro lugar onde conseguiu parar e querer ficar e morar. Nunca se sentiu tão feliz.

Até o início do Eclipse. Pela primeira vez na vida conseguiu sentir a energia do eclipse claramente. No início muita confusão – a tranformação. Depois toda sua sombra veio à tona. Sua grosseria, seu medo, impaciência, falta de vontade de se comunicar, medo da rejeição, foda-se geral… Entrou em um estado completamente diferente de todos os dias que esteve aqui. Provavelmente de todos os dias do seu último mês. Tornou-se o lobisomem. E não #resisitu. #ACEITOU, deixou vir, sentiu o que tinha que sentir, botou pra fora e depois foi pra fogueira entregar o que podia.

É isso! Ela é um lobisomen. Uma pessoa que tem tamanha conexão com a natureza, a lua e os planetas que consegue sentir toda sua escuridão vir à tona durante uma noite de Eclipse. #Shapeshifter. Provavelmente pessoas desse tipo que inspiraram a lenda do lobisomem. Agora ela sabe que a lenda está errada (ou exagerada): não é na lua cheia mas sim durante o eclipse onde o sol cobre a lua. Agora ela sabe porque esse trigger tão forte.

Conseguiu #entender e se conhecer melhor. Descobriu mais um super poder! Após o eclipse, sentiu-se lentamente transformar de volta. Aquela sensação horrível passou. Não precisou se prender em correntes no calabouço e nem comeu homens por aí. O vilarejo está à salvo. Tudo está bem.

E assim, curou seu medo de caminhar na lua cheia. Tomou coragem, colocou os fones de ouvido e foi pra casa andando em baixo da lua que iluminou todo seu caminho. Não precisou nem usar o celular. Foi lindo.

Os seus talentos não são pra você.

Foram anos na luta pela cura. Quatro. Na psique, nada se perde, tudo se transforma.

Ela teve muita sorte quando era mais nova pois pode ver o que era, teve acesso aos seus talentos, à sua energia dourada. Ao seu redor, todos sempre gostaram muito dela, sentiam seu amor. Ela não sabia, como cresceu assim, essa era a experiência humana: amor, diversão, aventura, experiência, amigos, festas… Ela sempre teve tudo. Tudo mesmo: beleza, inteligência, charme, carisma, educação, estilo, comunidade. Só que todos esses talentos, toda essa riqueza eram inconsciente. Perder tudo aquilo não era nem uma possibilidade na sua mente. Seguia aproveitando a facilidade com que navegava na realidade sem se preocupar jamais com o futuro, com o passado e nem com o presente. Fazia exatamente o que queria com tudo aquilo, pra si mesma. Pra se divertir e se aproveitar.

Quebrava corações, abandonava amizades, tomava postos de poder político só porque podia… Só porque conseguia. Bombada na night, arrasava nos seus estágios na época de faculdade, não estudava e tirava 10 nos piores professores. Fumava maconha e ia fazer a prova de vestibular pra faculdade pública e… passava. Aquele era seu estado natural de vida. Quando viajava, fazia zilhões de amigos, era quando mais se conectava com toda sua potência mobilizadora. Usava o maior instrumento mobilizador do mundo sem saber: seu coração.

Foi então que, em um mês, perdeu tudo. Passou um ano de cama e perdeu sua luz. Entrou profundamente na sua sombra, tanto que quase se afogou. Ficou lá uns 2 anos e meio, imersa. Sozinha. Feia, chata, desagradável, estranha, gorda, desempregada, sem se formar. Seu amor sumiu. Todo aquele amor pelo mundo, pelas pessoas, pelo conhecimento, toda aquela curiosidade infantil perante a vida… Perdeu tudo.

Ao perder, pela primeira vez conseguiu ver o que tinha. O que era.

No início, se odiava. Odiava tudo aquilo que era. Todo aquele privilégio, toda aquela riqueza emocional. Se via como uma criança que não conseguia crescer, não conseguia sair da asa da família. Queria mudar tudo! E entrou em um processo de busca da cura. Foi mudando, mudando, mudando… Cada vez gostando menos de si, sendo cada vez mais violenta consigo mesma. Ela aprendeu que a cura estava na sombra, na coragem de encara-la e ilumina-la. Começou então uma verdadeira batalha sangrenta com suas partes mais profundas, suas partes mais difíceis. Ela se machucava tanto em nome dessa cura, dessa mudança…

Aos poucos começou a perceber que estava tentando mudar tanto para chegar no mesmo lugar de onde saiu, onde tudo começou. Sentia falta da sua felicidade de antigamente, da sua beleza, do seu carisma, da sua inteligência… Daquela estranha confiança na vida. Na certeza, que sempre caminhou ao seu lado, de que tudo estava bem e tudo ia dar certo. Na absoluta segurança de que seu futuro seria maravilhoso. E tentava se curar para voltar pra aquele estado maravilhoso de estar viva. Aquele prazer diário em abrir os olhos e simplesmente sair por aí pra aproveitar o que o dia lhe trazia.

Aquilo era uma espécie de contradição. Era aquele estado que perdeu e que odiava, que agora queria de volta? Não, não era nada disso. Sua sorte seguia igualmente maravilhosa: ela estava recebendo um presente do Universo. Agora ela tinha a oportunidade de #VER tudo o que tinha internamente, tudo o que era. E passar a usar isso tudo com #consciência e com #propósito. Esse era o processo de autoconhecimento que a sua alma escolheu. Era mágico. Alquímico e tão brilhante quanto todo o resto.

Ela agora #sabia. Seu nível de responsabilidade perante a humanidade e o Universo aumentou exponencialmente. E ela #escolheu saber. Passou a vida inteira fugindo de qualquer responsabilidade para simplesmente dar de cara com a maior delas: a responsabilidade kármica de estar consciente dos talentos que Deus lhe deu.

“Os seus talentos não são pra você.” Se engana quem acredita que tem algum talento. Nós não temos nada a não ser aquilo que nos foi dado por ser de acordo com nosso propósito, nossa missão na terra. Aqueles talentos natos, os dons, eles vem no seu programa porque de alguma maneira você vai precisar deles pra cumprir sua missão. E, nesse momento, nesse planeta, todos estamos aqui para curar a nós mesmos e, eventualmente, auxiliar no processo de cura de outras pessoas com mínima interferência. Ou melhor, inspirar esses processos.

Como é lindo e interessante: precisamos nos inspirar, auxiliar, ajudar em um processo em que só se pode embarcar profundamente só. Ninguém pode voltar-se para dentro em grupo. O grupo só está lá para dar o suporte necessário. Hold space. Que fase planetária maravilhosa! Imperdível! Que bom que viemos!

Após os 2 anos iniciais, tudo foi ficando ao mesmo tempo mais escuro e mais claro. Teve que lidar com processos kármicos pesadíssimos. Começou a ver toda sua luz mas para isso também teve que tomar conhecimento de muita escuridão. Passou a nomear seus talentos para poder compreende-los melhor, passou a chama-los de super poderes, como tudo que mais ama nesse mundo é magia, não poderia deixar de ser…

Os super poderes são nossos dons inatos. Muitas vezes estamos tão acostumados com eles que nem percebemos que os temos, não tomamos consciência de que somos todos super heróis, ou melhor, x-men. Tomar consciência deles é o primeiro passo para o desabrochar e desenvolver desses poderes porque à partir daí podemos observar com foco e criar intenções que nos ajudam a compreende-los e aos poucos domina-los. Um super poder, quando inconsciente, tem a força de nos dominar com certeza. Ele é o seu dharma (propósito) e o seu karma. Essa é a beleza do jogo, naquilo de pior que pode acontecer com você estão as lições necessárias para ser o melhor que você pode ser. É uma moeda de duas faces mas é a mesma moeda. Karma – Dharma.

E agora, está de volta. Brilhante. E isso a assusta! Assusta porque não quer perdê-los novamente, nem fazer mal uso de seus dons. Não quer toma-los só pra si, usa-los só em seu favor. Quer #compartilhar com o mundo porque agora sim #sabe que nada do que é, nada do que faz, nada do que tem tem nada a ver com ela mesma, com seu ego mas sim a ver com sua missão pro mundo.

Anna Júlia

Prestes a embarcar em uma nova aventura, um novo ciclo que está sendo parido há alguns meses, uma realização importante: não importa pra onde vamos, tudo aquilo que está dentro vem junto.

Anna Júlia entrou um um processo de rejeição de si mesma há muitos anos acreditando que estava se conectando com seu espaço interno. Passou a se analisar incessantemente mas, com muita coragem, olhando sempre pra sua sombra, pras suas falhas, pras suas imperfeições. Com o passar do tempo, foi se entristecendo, se afastando do mundo, se escondendo. Perdeu o interesse na vida que todo mundo vive, nos acontecimentos do cotidiano, nas novidades… Parou de analisar o mundo e ser estimulada intelectualmente.

Foi vivendo assim, acreditando que caminhava o caminho espiritual. Ela buscava dominar seu inconsciente que tornou-se seu inimigo número um. Como a maioria das pessoas, Anna precisa projetar seus problemas em alguma coisa. Algumas pessoas projetam no capitalismo, nos pais, no marido, outras nos kilos a mais, no trabalho, na humanidade… Sempre temos algum inimigo que está nos causando o sofrimento. Anna, consciente desse padrão, optou pro trazer seu inimigo para dentro de si. Seu inconsciente, traumas, passado, erros… Aos poucos foi juntando isso com alguns inimigos invisíveis: espíritos obsessores, larvas espirituais, energia negativa. Mas essas coisas só nos atacam quando temos alguma coisa em nós que vibra na mesma frequência. E sua vida interna foi se tornando uma batalha épica contra o negativo dentro de si. Mas, ao focar tanto nas partes negativas que precisam ser curadas, acabou se esquecendo de olhar pras partes positivas e seu estado mental tornou-se uma sessão de inquisição, críticas, raiva de si, mágoa do outro, identificação com tudo que tem de pior em si mesma.

Alguns anos se passaram e sua luz que sempre foi muito forte, começou a se apagar. O que não fazia nenhum sentido visto que Anna acreditava estar dando passos firmes no caminho da luz e do amor, todo o seu esforço pra se ver era exatamente pra se curar, pra ser mais livre e mais feliz. Mas quanto mais fundo ela ia nessa investigação da sombra, mais ela sentia que precisava se curar. Entrou em uma busca ferrenha por essa cura, fez tudo quanto era terapia, ritual, retiro… Buscou mestres, terapeutas e médicos… E nada. Só seguia se afundando ainda mais em tudo que precisava limpar de dentro de si. Depois de tanto tempo em um estado permanente de auto crítica, ela foi parando de amar. Parando de se conectar com as pessoas, parando de sair, parando de viver. Parou de se mostrar pros outros já que passou a acreditar que não estava bem, olhando apenas pra sua sombra durante tanto tempo.

Seu lado selvagem, intenso, corajoso, brincalhão e muito sexual foi esquecido. E nos esquecimento de quem era, passou a aceitar um personagem neste lugar. Criou uma máscara neutra que cobrisse no externo todo seu turbilhão interno. Alguém com uma vida sem muitas emoções, sem muitas relações, sem muitas aventuras. Uma pessoa que reage externamente aos estímulos leves, toma uma cervejinha, vai pro trabalho, dá umas risadinhas tímidas, conversa sobre futilidades e vai pra casa onde entra em contato com seu processo sombrio. Tudo ao seu redor tornou-se falso. Desconectado com seu verdadeiro ser que estava esquecido lá atrás…

Passou 6 meses em um trabalho “normal”. Batendo ponto, trabalhando 8 horas por dia usando uniforme, sendo apenas uma marionete de uma chefe exigente. Aos poucos foi desenvolvendo uma rejeição por aquilo tudo, que tentou segurar, tentou fazer que nem todas as outras pessoas “normais” que também não amam seus trabalhos e aceitam viver assim. Era assim que se vivia não é? Essa era a maneira “normal” de viver. No tédio. 8 horas por dia fazendo a mesma coisa chata todo dia. E foi aturando, afinal sofrimento era seu modus operandis há algum tempo. Ela saia do trabalho e ia pra casa lutar com a sua sombra. Acordava, sentia dores físicas só de pensar em ir pra lá, mas ia… E assim o tempo foi passando.

Até que chegou um dia em que ela percebeu o quanto estava profundamente entediada com a sua vida e que aquela rejeição intensa do seu trabalho era uma projeção de toda sua vida. Aquele trabalho era uma lente de aumento para tudo que ela não estava conseguindo ver. Estava farta dessa merda desse processo interno, desse trabalho, dessa farsa, desse personagem, dessa máscara, dessa família e, especialmente, dessa busca interminável pela cura. Estava em um modo de espera há muito tempo. Esperando o dia que se curasse, o dia que tivesse dinheiro, o dia que estivesse de férias, o dia que fosse magra, o dia que encontrasse um namorado, um dia que não chega nunca para aí ir viver, ir ser feliz, ir atrás dos seus sonhos.

Pediu demissão e comprou uma passagem de avião pra outro continente e está deixando tudo pra trás. Vai ver gente nova, em um lugar novo, vivendo coisas novas! Mas nada disso importa se o seu interno não mudar. O mais importante agora é conseguir sair da máscara e botar pra fora a sua verdade! Só que ela segue no vício de analisar a sombra que já se tornou um constante botar-se pra baixo e até mesmo criar problemas onde não tem. Então encontrar a sua verdade atrás desse véu negativo que é a verdadeira missão. Ela já não se lembra dos seus sonhos, das suas esperanças, da brincadeira, da leveza, do amor… É como se isso tudo estivesse enterrado embaixo de uma pilha enorme de objetos quebrados. Tentando respirar. Tentando se manter vivo. Segurando uma velinha, protegendo uma chama que é o que restou de sua fogueira. E existe um medo enorme de deixar isso viver e sair já que foi exatamente isso que passou por esse processo ferrenho de crítica interna mas também um desejo enorme de voltar a queimar.

E nessa missão de se mostrar, de se deixar sair, de se reconhecer novamente, está indo pro mundo. Talvez de todas as viagens que tenha feito na busca da cura, a viagem na busca de si mesma será a mais curadora.

Melissandra

Melissandra leva uma vida dupla há alguns anos.

Por fora ela é boa uma filha e neta, trabalha em um hotel, já viveu muitas coisas, passou por muitas fases e nunca se encontrou muito profissionalmente. Está solteira há alguns anos, tem medo do amor. É uma ativista frustrada tentando compreender melhor as dinâmicas da realidade do ser humano e as escolhas coletivas. Ela mora na casa da sua família, se esforça pra perdoar, ser grata, ser humilde, fazer regime e acorda por volta das 11:00 pra chegar no trabalho 12:00. Come arroz, feijão e filé de frango no almoço no refeitório do trabalho, atende hóspedes em inglês, espanhol e português.

Ninguém sabe o que se passa por dentro dela, quando ela está sozinha no seu quarto.

Esse outro lado, o seu lado selvagem, o lado que não está nem aí pras escolhas coletivas da humanidade, está farta de tanta humildade que é preciso ter para não magoar os delicados seres humanos, o lado que viaja por outras dimensões, se conecta com os espíritos, faz amor tântrico com um monge, bota uma mochila nas costas e sai viajando guiada por cartas de tarot e numerologia, o lado que é fora da caixa, que acha essa vida material do Rio de Janeiro-Ipanema-Copacabana a coisa mais chata do mundo, o lado que não aguenta mais se vestir com essas roupas da moda, que não aguenta mais ouvir pessoas falando de uma notícia que deu no jornal atrás da outra vendo a vida passar, o lado que quer fazer jejum, correr na praia, pegar uma insolação, se apaixonar perdidamente por alguém tão alucinado quando ela, quer sentir intensamente novamente. O lado que alimenta o cérebro de meditação e cogumelos mágicos. Que transmuta energias e tem visões. Esse outro lado está muito puto.

As experiências mais importantes de sua vida vem desse lado. Mas por algum motivo, Melissandra reprime isso, não conta pra ninguém, sente vergonha. É como se ela não acreditasse que isso tem valor porque todos ao seu redor lhe dizem que isso não é normal. Essas coisas não existem. Você está louca. Só que ela se sente profundamente entediada. Um tédio ancestral. Nada a agrada mais enquanto esse lado não assumir sua vida. Ela está cansada de disfarçar, de tentar ser normal, de agradar os outros. Farta dessa vidinha material vazia de sutilezas e conexão com o divino. Ela olha ao seu redor e não consegue compreender como ninguém mais sente isso. Talvez ela esteja sendo muito radical, aceitar as diferenças é ainda um dos seus desafios. Como aceitar a aceitação dessa situação de vida em que as pessoas se colocaram?

Ela nunca se sentiu tão entediada. Está gorda de tanto tentar alimentar sua fome de vida. Tem olheiras ao redor dos olhos de tanta energia que gasta tentando ser alguma coisa que não é. Está perdendo todo seu cabelo se preocupando com coisas desimportantes para não olhar pra essa repressão. Seus orgasmos são um pouco menos intensos pra evitar a liberação de energia. Suas roupas são nude e cinzas pra não dar vazão às cores da sua alma. Suas conversas tão vazias quanto as de todo mundo. Ela está E-X-A-U-S-T-A. Passa a maior parte do seu tempo dormindo em pé e deitada. Está completamente entorpecida de doces e carnes, cigarro e instagram.

E por isso tudo, está indo embora. Antes que ela caia dura, morta no chão de tédio.

Elis

Ela respirou fundo, tomou coragem, marchou até a sala da sua chefe cubana e pediu demissão! Foda-se. Foda-se se ela não tem algo garantido ainda, foda-se se não sabe o que vai fazer da vida, foda-se se vai ficar sem dinheiro, foda-se se aquele emprego era uma boa oportunidade de ter uma vida normal e crescer na carreira. Foda-se.

Ela já não estava mais aguentando aquela monotonia diária. Elis está trabalhando há 6 meses como recepcionista de um SPA no hotel mais chique da América Latina. Um desses hotéis históricos, dos mais importantes. Aquele que todo mundo conhece, todo taxista sabe chegar sozinho, é o puro status trabalhar ali. No meio hoteleiro, ela pode até ser considerada bem sucedida só de entrar lá.

Mas trabalhar em um ambiente tão fino, tão 5 estrelas, é um pouco como voltar pra escola. Tem sempre alguém te falando alguma coisa que não está certa, alguma postura que não se pode ter, que o tom de voz está alto demais, essas risadas não são apropriadas, tira a mão da cintura menina. Aos poucos você vai se moldando para se tornar tão engessada quanto as esculturas nos corredores. Aquele clima de castelo antigo vai entrando pra dentro do corpo, que vai tomando uma forma antiquada mas muito bem treinada para sequer encostar na parede porque isso não é chique.

Ela sequer pode se sentar. Tem que passar 8 horas do seu dia em pé no aguardo de pessoas muito importantes virem ser massageadas. É um auê quando chegam “os importantes”. Diariamente recebe-se uma planilha dos VIPS, CEOs e presidentes, celebridades, princesas, delegações e lords que por ali se hospedam e até moram. Um lord inglês tem um quarto pra si e um pra sua cachorra há mais de 2 anos. É o homem mais chato de todos os 7 bilhões vivos no planeta.

Essas pessoas são todas um saco de lidar. Quando ela entrou pra trabalhar no hotel, em busca de uma vida um pouco mais estável, pensou que teria a oportunidade de conhecer pessoas muito interessantes. Em 6 meses, não conheceu uma pessoa sequer, não teve uma conversa de mais de 4 minutos de acordo com o protocolo que deve seguir em cada interação. Os VIPS sentem-se únicos e especiais e a tratam como uma mera subalterna desimportante, ali unicamente para servir-lhes a riqueza e o relaxar. Não existe um pingo de interesse em trocar.

E em 6 meses ela não aguenta mais a vida estável. Ela tem uma necessidade de respirar liberdade, de fazer suas escolhas, de mandar em si mesma. Antes desse emprego estava mochilando o Brasil, vivendo em comunidades tântricas e visitando santuários, fazendo retiros espirituais. E foi em um desses retiros que recebeu instruções claras para voltar pra sua casa de novo, onde ela precisava trabalhar algumas relações e sua capacidade de viver como todo mundo consegue viver – trabalhando um emprego durante 8 horas por dia. Ela nunca tinha tido essa experiência das 8 horas batendo ponto antes.

Em 6 meses, ela se sente secando por dentro. Sente que sua vida não tem valor. Que O-I-T-O horas do seu dia-a-dia não servem pra nada além de receber alguns meros milhares de reais ao fim do mês que ela acaba gastando para se sentir bem consigo mesma de alguma maneira depois. E, concluiu, que essa vida não é mesmo pra ela. Mas ela precisava ter a experiência para saber que aquilo não era ela, antes uma parte sua se culpava e se sentia incapaz perante o outro. Ela se sentia fraca por não conseguir viver da maneira que os outros conseguem. E agora ela se sente muito forte pelo mesmo motivo.

Os outros que estão malucos, que estão muito conformados, muito viciados nas atividades de sentir bem consigo mesmos depois do expediente. Os outros que tem expectativas baixas demais do que querem da vida. Os outros que estão satisfeitos demais com pouco. Claro que alguns podem estar satisfeitos, realizados, vivendo a missão divina trabalhando essa carga horária, não generalizemos. Mas a maioria certamente não se permite querer um pouco mais, está muito amedrontada, com medo do Temer, da crise, do “espectro do desemprego”. Vivemos tempos em que se não está acuado, és louco.

Bem, ela finalmente aceitou que é completamente louca. Ela já não vê TV, nem lê os jornais há muito tempo. Acredita que é tudo uma grande ficção criada para o controle das massas. Controle esse que vem principalmente pela separação (diferenças ameaçadoras) e o medo. E talvez seja por não se conectar com essa realidade fictícia que hoje acordou e decidiu assim mesmo mudar sua vida. Na verdade, voltar pra sua vida. Ela optou por confiar na abundância do universo, dos seus talentos, da sua energia e da sua sorte. Escolheu CONFIAR novamente que tudo vai dar certo. E se jogou no desconhecido renovada, com um enorme passo dado no sentido do seu autoconhecimento e amor por si mesma.

Há uns 2 meses que Elis estava pensando demais sobre o futuro. Ela planejava pedir demissão com um ano e tirar suas férias remuneradas. Ficava pensando o dia inteiro sobre o que faria, pra onde iria, quanto dinheiro teria acumulado até lá… Sua mente esquecendo-se do silêncio do presente e falando sem parar o dia inteiro sobre o distante futuro. Eis que, aconteceu a tomada de consciência: quando estamos pensando demais no futuro é porque tem alguma coisa errada com o nosso presente. Muito provavelmente estamos entediados com nossa vida. Ou seja, é preciso mudar imediatamente, não temos tempo a perder, a vida é um milagre maravilhoso, cada minuto conta! O tempo é o que temos de mais valor, nenhum minuto volta. Não deixemos nunca pra amanha o que deve ser feito no agora. É preciso dar sinais claros que se valoriza a vida e essa experiência para que o universo possa te presentear por merecimento, possa sentir à partir das suas ações que você está aqui pra ser feliz, não importa o que aconteça. Você não vai ficar aí reclamando da vida, fazendo todo dia a mesma coisa, paralisado pelo medo, esperando que uma grande aventura lhe seja apresentada, ou vai? Quem quer viver, corre atrás da vida.

E agora, seu presente ficou muito mais interessante, sua vida ficou muito mais maravilhosa. Ela está livre, no aberto dos possíveis. Enviando uns currículos, entrando em contato com algumas comunidades, conversando com uns amigos na Africa do Sul… Se abrindo pra ver o que o Universo lhe responde, com que experiências ele lhe presenteará, no agora.

FREEDOM!!! São milhares de estrelas no céu, de graça, todos os dias. Ao olhar pra elas pode-se botar a mão cintura, rir alto e se jogar no chão de tanta felicidade na simplicidade do viver o presente. Se não fosse o medo, o que você faria agora pra ser mais feliz hoje?

Daphne

São 3:00 horas da manhã e Daphne acorda de repente, ofegante, de um pesadelo. Mais um desses em que ela está fugindo de alguma coisa e corre desesperadamente no meio de uma mata profunda, jogando seu corpo ladeira abaixo contando com as árvores para lhe amortecer a queda. Dessa vez ela foge de Petistas vingativos que resolveram atacar a população, eles vem de todos os lados, carregados de paus e pedras, vestidos de vermelho. Normalmente ela sempre escapa das perseguições nos sonhos mas hoje eles conseguiram chegar até ela. Quando seu predador lhe encontra, ela reconhece sua face e identifica um velho amigo do colégio. Mesmo assim, ele lhe mal trata e ela, sem ver outra saída, usa sua magia contra ele. Uma magia que vem do medo e da raiva, do tipo que ela odeia. Ela acorda então aterrorizada com aquela maldade. Respira fundo e tenta se conectar com padrões de vibração mais altos, pensando em seu mestre e sentindo todo amor que ele lhe causa. Quando ela pensa nele, ela consegue sentir seu coração batendo forte e feliz. Repete alguns mantras, reza para seus protetores Arcanjo Miguel e São Jorge que não falham nunca. Agora está mais calma e sentindo-se muito melhor do que quando foi dormir.

Daphne não consegue deixar de pensar agora, nesse estado mais elevado, de todo caminho que percorreu até chegar aqui. Nesse tempo, nesse corpo, nessa mente e nessa casa. Ela sente outros tempos, em que ela também provocava pesadelo em outras pessoas e se alimentava das energias do medo e do horror. É algo que hoje em dia parece tão abominável e impossível para ela que ama tanto a vida, as pessoas e o mundo. Mas ela sabe que em algum tempo, as coisas não foram bem assim.

Tudo começou a milhares de anos atrás, quando Daphne não se chamava Daphne e o mundo era um lugar muito diferente. Ela era uma alquimista na França e trabalhava com círculos de mulheres muito poderosas. Elas eram bruxas que estudavam o poder das plantas medicinais. Naquela época, havia pouco acúmulo de registros das plantas e toda sua comunidade trabalhava em uma missão maravilhosa com a natureza, registrando cada descoberta de maneira empírica. Elas aprendiam tudo à partir da sensibilidade. Sentiam cada plantinha agindo em alguma parte do seu corpo e da sua mente. Criaram um grande arquivo de cura e pessoas de toda Europa começaram a buscar essa comunidade para se curar das mais diversas enfermidades físicas, emocionais e espirituais. Elas treinavam mais pessoas para que espalhassem esse conhecimento e viviam em muita união e amor. Sabiam claramente que estavam fazendo um trabalho para a humanidade em muita conexão com Deus e divino. Eram guiadas por muitos protetores e por uma bela egrégora de cura e amor. Estavam ali às ordens da cura e do feminino. Aquilo era um resgate desse poder matriarcal perdido nas épocas do Cálice e da Espada e das relações de parceria entre o feminino e o masculino na gestão de uma sociedade.

Não está muito claro pra Daphne o que foi mas, em algum ponto, alguma coisa deu errado. De alguma maneira, até hoje, ela carrega uma culpa por isso. Talvez por ter revelado demais, talvez por não ter sido capaz de ler os sinais mas um grande incêndio tomou a comunidade e dezenas de pessoas morreram. Todo o seu trabalho lhe foi tomado pela Igreja que tomou todo registro das plantas para si e escondeu aquela sabedoria ade eternum. As que não morreram no incêndio, foram queimadas na fogueira por bruxaria e aquele lugar foi apagado do mapa para o todo sempre.

Até hoje ela não se conforma com esse final frustrante daquela bela vida. Depois que morreu, ela não conseguia se perdoar e não conseguia perdoar a Deus por aquele acontecimento. Se aquilo terminou da maneira que terminou, Deus permitiu, a egrégora permitiu. Eles não foram sequer avisados para que salvassem um pouco do trabalho, as suas vidas e reprogramassem as suas missões. Como podiam estar tão conectadas com seu propósito divino e tudo acabar daquela maneira?

Daphne se rebelou contra Deus. Abandonou o trabalho da luz. E na sua vida seguinte, se entregou para um trabalho nas trevas. Tornou-se um grande mago negro que comandava todo um clã de feiticeiros que trabalhavam com acordos, com raiva, com dor, com horror. Foi um dos magos negros mais poderosos de toda história da humanidade e quando morreu passou a fazer o mesmo do astral, comandando uma egrégora de sofrimento. E assim passou algumas centenas de anos. Revoltada. Rebelada. Jogando no outro time. Inconformada com tamanha injustiça!

Porém, após tanto tempo desconectada do bem, começou a se cansar do mal. Cansou-se dos seus processos, da manipulação, do sofrimento, daqueles estados de baixa vibração constante, aquela raiva e inveja permanente. Cansou daquelas regras cansativas, daqueles rituais sombrios, daquele linguajar pomposo. Cansou de se achar a última Coca-Cola do deserto. Mas já tinha enfiado o pé na jaca, feito acordos e pactos bastante sombrios também. Sair dali seria muito difícil. Seguiu enrolando ainda durante um tempo, afinal estava bastante confortável naquele papel tão poderoso e temido.

Um dia, trabalhava meio que mecanicamente, manipulando as mentes de alguns homens governantes para que iniciassem uma guerra nas redondezas da Lituânia. Se aproximava deles vibrando em raiva e rancor e deixava que eles fizessem o resto. Era fácil demais, eles se identificavam rapidinho. Quando acabou a reunião e eles fizeram o telefonema para soltar a primeira bomba, ela vibrou um pouco de satisfação e vingança e foi-se dali sem ser vista.

Ao virar a esquina, estava na Índia onde tinha um compromisso para afastar as pessoas de um Ashram abandonado que estava sendo ocupado por algumas famílias pobres que aos poucos o estavam reconstruindo. Foi quando deparou-se com uma cena de profundo amor e gratidão daquelas famílias por Deus. Conseguiu sentir que aquele espaço lhes dava de comer, lhes dava abrigo e permitia que momentos de alegria e conexão com o divino acontecessem. Era um Ashram que tinha sido muito grande e muito vivo há um século atrás e dentro dele ainda reinava uma energia milagrosa, de muita disciplina e luta pelo amor. E, de fato, vivenciou sem querer, um milagre do amor e sentiu-se novamente na presença de Deus.

Imediatamente começou a chorar. Não chorava há séculos, nem sabia que ainda lhe era possível. E naquele momento arrependeu-se de tudo e permitiu-se sentir uma enorme saudade de Deus. Uma enorme saudade daquela sensação de simplicidade e segurança de estar fazendo o bem. Sentiu muita falta das plantas, da natureza e das cachoeiras. Lembrou-se da sensação tão antiga de ser abraçada pelo mar e caiu em desespero. Seu reino de terror havia chegado ao fim.

Deus lhe acolheu novamente, sem pestanejar. O arrependimento era verdadeiro e o desejo de voltar-se novamente para a luz, intenso.

O processo de saída das trevas não foi barato.

Entrou novamente para os ciclos de reencarnação. Com muito o que evoluir, passou milhares de anos nascendo, morrendo e crescendo espiritualmente. Escondida e protegida dos seus seguidores sombrios que jamais deixaram de procurá-la, revoltados com seu abandono e com a falta de seus poderes. Até que chegou a um ponto de força e de aprendizado em que optou por se reconectar com a malha energética da terra, quis voltar a ter uma missão mágica e ajudar a humanidade novamente. E para isso foi preciso revelar-se para também aqueles que lhe buscavam e enfrentar seus ataques.

Ataques estes que constantemente vêm pelos sonhos. Ela pode sentir-lhes a presença antes de dormir ou quando dorme em determinadas posições que parecem facilitar-lhes a aproximação. Ela não sente medo, a não ser no próprio sonho. Às vezes fica de saco cheio, sente raiva, manda o ar tomar no cu. Mas acorda e se dá o enorme prazer de se conectar com Deus! Se conectar com seu mestre xamã siberiano. Se conectar com o Prem Baba. Se conectar com mantras, Arcanjos, mestre Sant German e Jesus! Que alegria é estar no seu time de sempre. Que alegria é estar de volta na luz. Que alegria é ser boa. Que alegria é ser alegre. Que alegria é amar.

E ela sabe que ter que lidar com forças um pouco mais sombrias é parte do seu aprendizado. Ela sonha em trabalhar com defesa energética, tornar-se uma guerreira de luz! Se sente grata até por isso. Não é fácil mas é um desafio que esconde um enorme tesouro por trás. Um dia ainda vai poder ajudar outros que fizeram o mesmo movimento. Um dia ainda vai, quem sabe, poder retomar um trabalho mágico em alguma comunidade.

Hannah

Hannah está descobrindo que tem superpoderes. Ela sempre amou os filmes dos X-Men! Quando era pequena, assistia Capitão Planeta e sonhava com um anel de poder. Ela gostava de Cavaleiros do Zodíaco e achava aqueles poderes com aquelas armaduras o melhor trabalho que um adulto poderia ter. Via as bruxas nos filmes e ficava aterrorizada com a burrice daquelas velhas com verruga no nariz que usavam sua magia para o mal. E, agora, em pleno retorno de Saturno, Hannah está descobrindo que tem superpoderes.

Ela não está passando por isso sozinha. Tem alguns amigos seus ao redor do mundo que parecem estar passando por uma fase parecida. Só que ninguém comenta muito sobre isso pra evitar ser internado, morto ou pior. É um processo extremamente solitário e misterioso. Porque estes seres humanos especificamente? Porque agora? O mais notável é que nenhum deles tem algum tipo de treinamento, mestre ou experiência ancestral na área dos superpoderes. São jovens comuns, que vivem em grandes centros e, com muito medo e dúvidas, estão passando por uma transformação mágica.

Assim que Hannah descobriu o que estava acontecendo, decidiu contribuir ao máximo para que o processo acontecesse de maneira tranquila e rápida. Sentiu uma motivação e uma força para fazer tudo certo. Parou de fumar cigarro, beber alcool, fumar maconha, cortou açucar e carboidratos da dieta. Começou a correr de manha na praia, fazer práticas energéticas que aprendeu com uns xamãs e meditar. A única via de comunicação para seus questionamentos foi com Deus, passou a rezar todos os dias, intensamente. Se aquilo estava acontecendo com ela, só podia ser Divino.

Mas o processo começou a ficar sombrio. Suas orações passaram a ser interceptadas por seres que querem seduzir Hannah com poderes mágicos. Tudo, absolutamente tudo que Hannah pedia que acontecesse, acontecia na hora no seu campo energético.

Um dia ela sentiu que não estava pronta para criar e falava com Deus pedindo-lhe mais tempo, para que ela pudesse passar um tempo sem criar. Imediatamente seu segundo chackra (da criação e sexualidade) se fechou e toda energia sexual de seu corpo começou a secar. Ela passou um dia horrível sem energia sexual, sem interesse em nada, sentindo-se triste, querendo apenas que lhe deixassem em paz. A noite, disse a Deus que entendeu muito mais sua energia de criação, que era preciso criar sempre mas fora de si. Botar pra fora: escrever, dançar, pintar, tocar… E pediu toda sua energia de criação de volta. Imediatamente seu chakra e seu útero se inundaram de energia criativa e ela pode sentir a energia fluindo por todos seus canais e pontos meridianos, abrindo seu interesse na vida e sua alegria em estar viva de novo.

Outra vez, ela rezava usando uma linguagem bem carioca despreocupada. Dizia para Deus que estava completamente entregue a esse processo. “Eu estou all-in!” ela disse com convicção. Em alguns segundos sentiu um jato de energia saindo de suas costas: era sua vida. Estando all in foi interpretado por seila o que que a sua vida estava entregue, estava na mesa e assim lhe foi tirada. Foi nesse dia que Hannah começou a desconfiar que o que estava acontecendo não era tão divino assim. Mesmo assim, ela considerou que também poderia ser um teste. Deus queria que ela ficasse brava com ele para testar sua lealdade. Não se pode entregar poderes nas mãos de alguém que vai se irritar e mudar de time por qualquer coisa.

Que times? O time do bem e o time do mal. Da luz e das trevas. Do amor e do sofrimento.

As coisas continuaram acontecendo e muitas vezes Hannah falava uma frase com uma boa intenção e aquilo dava um jeito de se voltar contra ela. Ela uma vez dizia que queria ser um fluxo e não ter limites, o resultado foi que seu campo de energia deixou de ter limites e toda sua energia começou a se desintegrar em um fluxo. Ela começou a passar mal, a sentir tudo que passava perto dela, se sentiu fraca e percebeu que precisava retirar o que disse.

Aquilo começou a cansar muito Hannah que além de ter que lidar com aquela magia toda ainda estava acordando cedo pra se exercitar e depois trabalhando 8 horas por dia um emprego onde sua aparência e simpatia são essenciais. É um lugar onde ela precisa estar sempre bem e tranquila.

Hannah então decidiu renunciar a seus poderes. Ela não queria mais isso! Ela não queria mais fazer essa magia estranha que não vem do coração, que não leva em consideração o emocional humano, as idiossincrasias de uma pessoa, a boa intenção. É uma magia muito técnica, prática, lógica. E de lógica já basta a ciência. Aqui queremos fazer tudo que a ciência nos diz que não existe. S-t-y-l-e.

Mas não adiantou. Renunciar à magia adiantava durante um curto período de tempo, depois ela já estava de volta e lá estava Hannah sentindo todas as energias ao seu redor. Ela atingiu um estado de sensibilidade tão intenso que chegou a sentir o orgasmo masculino dentro de si durante uma transa. Aquilo estava a assustando. Ela estava sendo alvo de alguns ataques astrais também. Vozes vinham sussurrar em seu ouvido frases hipnóticas. Ela sentia um energia sendo jogada nela de vez em quando, algo ruim, algum ataque estranho. Tudo isso começou a ser demais pra uma mente pouco treinada que tem necessidade de entender, classificar e julgar tudo. Por mais mente aberta que sejamos, a mente não dá conta de um processo desse. E quem não tem a prática da meditação já muito aguçada, se perde fácil.

Por isso Hannah optou por tomar alguns remédio psiquiátricos que fecham toda essa abertura. A diferença entre o xamã e o esquizofrênico é que o xamã controla sua loucura e o esquizofrênico é controlado por ela. Hannah não estava conseguindo controlar sua loucura satisfatoriamente, estava sendo um processo sofrido demais e por isso resolveu tomar alguns remédios para fechar sua abertura por um tempo, enquanto buscava um mestre ou um terapeuta, alguém que possa ajudá-la nesse processo mesmo sabendo que o xamã aprende sozinho.

Só que os remédios a colocam em um estado oposto e muito mais sofrido. É um estado de ansiedade, preguiça, falta de força de vontade… Ela voltou a fumar, beber, comer açucar, não faz mais exercícios, não reza mais… Está o tempo todo com preguiça, meio ansiosa, engordando… Ela sente falta da sua força, da sua energia vital que foi totalmente tirada pelos remédios. Ela não sente mais energia de alguém por simplesmente sentar ao seu lado mas também não sente mais nada. Virou um zumbi. Vida material, trabalho casa, trabalho casa.

E agora? Dentre qual dos extremos ela quer estar? É preciso cair pros dois extremos? Existe um caminho do meio? Como encontrar o caminho do meio? Como trilhar um caminho menos radical?

Deus, nos ajude a responder.

Maria

Ela vive esse dilema há anos: sair ou não sair de casa. Maria vive com a mãe e a avó em um apartamento de 400m2 na beira da praia de Ipanema. Seu quarto tem 30m2 e é seu templo. Sua vida acontece dentro do seu quarto. Ela canta, dança, planta, lê, descansa, medita, come, transa… tudo no seu quartinho lindo. Nas paredes do quarto estão os quadros que pinta dentro dele, mantras que devem ser repetidos ao seu inconsciente e um enorme apanhador de sonhos mágico feito por uma tribo xamânica peruana na noite de ano novo. Seus livros coloridos e interessantes enchem as prateleiras. A parede laranja estimula seu segundo chakra e sua feminilidade.

Maria está em um processo interno muito peculiar, vem experimentando uma abertura emocional, física e espiritual intensa. Para lidar com tudo isso que está acontecendo ela precisa desse espaço de tranquilidade. E não é só o seu quarto mas o fato de que ela não precisa se preocupar com nada além do seu quarto na vida. Não lava, não passa, não cozinha, não arruma… Seu espaço é 100% cuidado por outras pessoas para que ela só entre e faça o que seu coração deseja. Para que ela possa focar em outras reflexões, nem melhores e nem piores mas diferentes com certeza. Ela tem todo tempo e tranquilidade do mundo para enfrentar seus demônios internos, para realizar rituais de cura, para passar horas a fio apenas refletindo sobre o jogo da vida e as leis universais.

Se não existissem os outros que com ela vivem, seria tudo uma vida de contos de fada. Mas não é. Maria paga um preço muito muito alto por essa “tranquilidade espacial”. Ela é a bengala da vida da sua mãe e avó que sentem-se no direito de diagnosticá-la semanalmente. Quando a bengala está servindo direitinho, sem muitas reclamações e revoltas, fazendo seu papelzinho de filha doce e calma, ela está bem. Mas frequentemente se revolta e sente raiva desse papel, raiva dessa função, raiva dessa triste família, aí “você não está bem”. Repetiram tanto essa frase a vida inteira que Maria já internalizou e nunca de fato está bem. Está sempre sofrendo, querendo se curar, lutando pra melhorar, se sentindo despreparada e com medo.

Elas não admitem que Maria se envolva com “espiritualidade”, erros não são permitidos jamais. Se Maria cometeu um erro aos 15 anos de idade, hoje com 30 ainda tem que ouvir sobre ele. E ela cometeu alguns erros na sua busca espiritual que foram fatais pra sua família que não compreende que sua vida não tem o menor sentido se não nessa busca e que aprendemos com os erros a trilhar outros caminhos. Podemos perder nosso progresso mas a direção ainda é a mesma. Para a mãe e a avó, a vida resume-se a trabalho e marido. Se essas áreas estão cobertas, está tudo certo na vida da pessoa, qualquer necessidade a mais é loucura. Por causa disso, Maria vê-se obrigada a entrar em contato com a energia da mentira frequentemente. Uma energia que ela mesma abomina.

Ela tem que ouvir que “não vai conseguir” qualquer coisa que tente fazer. Porque elas não conseguiram e nunca sequer sentiram a energia do “conseguir” em nada que fizeram. A única crença que elas tem é de que o mundo é mal, perigoso, tudo é muito difícil e injusto. Ela convive com a negatividade o tempo todo e é abusada a manter-se nessa negatividade, perpetuar essa tristeza e esse fracasso. São estas seus ancestrais recentes, aqueles que devem apoiar a sua realização estão torcendo pelo seu fracasso.

Neste clima então ela se vê com a difícil decisão de sair de casa e ir morar em um quarto de menos de 10m2. Cabe uma cama e um pequeno armário além do mínimo espaço para ficar em pé ao lado da cama. Mas ela estaria livre dos ataques astrais e físicos dos seus familiares. Mas… onde dançar? Pintar? Plantar? Amar? Pular? Meditar? Como as outras pessoas fazem isso tudo?

Ela está inclinada para o lado da mudança. Ela sonha em morar sozinha desde que tem 15 anos mas demorou demais para perceber que para realizar este sonho ela teria que fazê-lo sozinha. Que ninguém nunca vai ajudá-la a se libertar desse papel de bengala que lhe colocaram. E muitas pessoas estão lhe apoiando e ensinando a fazer tudo o que faz em espaços públicos. A viver mais a vida fora do quarto. Ir pra rua, ir pra fora.

Mas… não é pedir-se demais? Além de tudo que ela já está passando espiritualmente, ainda vai colocar outro elemento de mudança na sua vida? Não é demais? Não estará ela sendo violenta consigo mesma novamente? Se agredindo e obrigando seu lado criança a crescer a força? Ela sempre pensou que o dia que saísse de casa seria o mesmo dia que poderia ficar pra sempre. Ela resolveria todas as questões que tinha que resolver sem sair de casa. Faria sua paz com a família e assumiria as responsabilidades de cuidar de si sem sair. Mas não será isso pedir-se demais? Resolver tudo mergulhada na situação é clamar por uma intensidade desnecessária. Às vezes se afastar é a melhor forma de curar e de abrir a visão em cima de uma situação.

São muitas dúvidas. Ela tem até sexta para decidir.