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Verdade e Vergonha

Recentemente coloquei forte a intenção de curar a expressão amorosa da minha verdade. Uou. Tanta coisa que essa intenção movimenta e atrai pra  minha vida. Pra começar, curar a expressão é abrir o quinto chackra – vishudha – e quando queremos curar um chackra, ou seja, abri-lo e limpar sua rotação, precisamos movimentar a energia estagnada ali que muitas vezes tem a ver com talentos que se escondem nesse centro que estão sendo ignorados, nesse caso, o canto, o humor e a arte. O 5o chackra é muito conectado com o segundo – Swadwistana – o chackra da sexualidade e energia vital criativa. Ele faz a transmutação dessa energia criativa em arte e voz. Depois disso, amorosa, como se expressar à partir do coração e não do julgamento, do querer ter razão, da carência, da necessidade de atenção… Como colocar aquilo que desejamos expressar de maneira que gere conexão e empatia entre duas pessoas? Como explicar uma visão de mundo tão radicalmente diferente sem ferir a verdade do outro? E finalmente, a verdade. Uma busca de uma vida pela verdade da vida, verdade do Universo, verdade do amor só pode ser embarcada de fato quando optamos pela verdade como valor primordial em nossas vidas. Ou seja, eu expresso exatamente aquilo que sou. Permito que, em determinados momentos, as pessoas me vejam e saibam o que eu faço em meu interior, mesmo que esse fato me envergonhe.

Só que o maravilhoso é que quando decidimos ser totalmente verdadeiros, aparecer vibrando em nossa verdade, com nossas emoções, ideias, luz e sombra a mostra, quando colocamos isso como uma prioridade, inevitavelmente vamos começar a cultivar uma relação de cura da #vergonha. Um pedaço de argila uma vez me ensinou que vergonha também é ego. Quando a nossa mente nos coloca “aquilo que devemos ser” mas nós não damos conta disso, sentimos vergonha. Quando queremos ser algo que não somos, nos julgamos e sentimos vergonha do que somos de verdade. Estamos sempre nos pressionando para ser mais e melhores e tentando fazer com que os outros nos vejam dessa maneira. Lindas, maquiadas, penteadas, salto alto, bem sucedida, magra, dá conta de tudo, rica… Construímos um muro gigante ao nosso redor para que ninguém veja o que está lá dentro. Protegemos nossa verdade como se fosse algo que tivesse que ser mantido em uma torre protegida por um dragão e somente uma pessoa específica, certa, pode a tirar de lá de vez em quando…

Só que se queremos ver a verdade do outro, a verdade do mundo, a verdade dos nossos tempos, precisamos primeiro curar a nossa verdade interior. E quando isso se torna uma intenção – chegou a hora de começar a movimentar isso no meu processo, precisamos desapegar da vergonha e da ideia de quem somos que vem da mente. Passamos a permitir que os outros nos vejam e assumimos apenas a cadeira do observador. Vamos ver o que os outros refletem através de suas reações ao expressar a minha verdade. Desapegamos da vergonha e relaxamos o plexo solar de onde ela vem e, aos poucos, paramos de senti-la. O que acaba trazendo muitos benefícios para o terceiro chackra – Manipura – que é bloqueado pela energia da vergonha.

Incrível então que quando trabalhamos a verdade, acabamos trabalhando nosso poder pessoal também que vem do terceiro chakra que passa a ser desbloqueado quando optamos por limpar nossa vergonha, a ilusão de ter que ser quem não se é.

E aí, tudo começa a acontecer ao seu redor que vai provocar situações que provocam vergonha, sua verdade começa a transbordar e você fica com medo da reação das pessoas, da maneira como os outros vão te ver, nem você nunca se viu tão aberto assim. A verdade começa a aparecer não só nas suas palavras mas nos seus movimentos, no seu olhar, nas suas ações. Você quer ser verdadeiro e fazer o que quer fazer na frente de quem for. Falar o que quer falar, o que está sentindo de experimentar expressar. E os outros passam a ser um termômetro na sua cura. Porque você só vai conseguir ver sua verdade se você permitir que ela saia, inevitavelmente você precisará de espelhos além de você que reflitam essa verdade para que você possa ver a luz e a sombra que estão nela.

Quando queremos curar nossa verdade, precisamos nos preparar para ver coisas que não vamos gostar muito de nós. E reações que não vão nos agradar. Mas também precisamos nos preparar para nos surpreender. Porque é certo que os seres humanos conseguem pressentir verdade e mentira inconscientemente e todos preferem sempre a verdade. Uma verdade mais ou menos é sempre melhor que uma mentira maravilhosa. A nossa espécie se afastou tanto da verdade, nossa sociedade hoje em dia é tão inerentemente construída sobre pilares da mentira, que uma verdade é como um breath of fresh air. Ar fresco. Todos gostam de sinceridade, honestidade e respeito. Quando expressamos nossa verdade estamos respeitando a inteligência alheia. Estamos permitindo que ele seja verdadeiro também. Estamos sendo humildes perante ele. Vulneráveis. Estamos confiando na bondade do ser humanos novamente.

Óbvio que às vezes vamos receber reflexões negativas. Ainda bem porque essas nos fazem aprender. E com o aprendizado vem a cura. Se queremos tocar em uma energia que não mexemos há tanto tempo como a expressão, vamos ter que reaprender a mexer com ela e são os reflexos, positivos e negativos que vão nos ensinar direitinho.

E assim, é só seguir a intuição, sentir o que se quer sentir, permitir-se ser quem se é sem expectativas, assumir a cadeira do observador e desapegar da vergonha e mergulhar com tudo na cura da expressão amorosa da sua verdade.

Os sanskaras – energias do passado reprimidas e acumuladas no coração – vão vir a tona. Vamos ter medo de sermos humilhados, rejeitados, reprimidos como fomos no passado mas aí que está a maior cura porque agora aprendemos a relaxar a liberar essas energias. Tudo que revivemos nos traz a oportunidade de liberar o que não conseguimos liberar no passado. E assim vamos nos curando… Seguindo caminhando…. Rumo ao novo paradigma e novas maneiras de se andar sobre a terra.

Como ter uma árvore amiga

Cada partezinha da grande Alma tem suas propriedades e habilidades de conexão com o campo energético da Terra. Animais estão conectados através do seu instinto, seres humanos são um tipo de animal que além do instinto, se conectam através do seu inconsciente. Hoje vivemos um momento de transição e evolução da espécie onde essa nossa habilidade de acesso está sendo trazida para a consciência, o que desencadeará uma enorme mudança em toda a construção futura da nossa espécie. Nós, assim como as formigas e as abelhas, somos uma espécie construtora e, diferente de todas as outras, somos uma espécie criadora. Acho #chique.

De uma maneira ou de outra, todas as espécies estão em contato direto ou indireto com o enorme animal que habitamos: a Terra. Porém uma espécie tem esse contato profundo através de suas maravilhosas raízes: são as Árvores! As árvores estão aqui há milhares de anos, receberam o privilégio da imortalidade, assim como os Deuses. Elas já viram de tudo. Claro que ver aqui tem um significado um pouco mais complexo do que a interpretação de ondas de luz por um órgão. Elas veem através do seu sentir. São capazes de sentir tudo que se passa no planeta e isso inclui tudo que se passa com você.

Ao se conectar com uma árvore, ela já sabe de tudo sobre você porque ela não precisa das suas palavras para te conhecer, o seu campo energético se mistura com o dela em um momento de conexão verdadeira e assim ela tem acesso a todas suas memórias, crenças, histórias, sentimentos, traumas… Tudo que está no seu campo. Assim ela utiliza toda sabedoria da terra com a qual está completamente conectada para te curar, te ensinar, te limpar e contribuir com o seu poder de atração da vida que você merece viver.

As árvores tem graus de conexão, é claro. Uma árvore antiga, com mais experiência, raízes mais profundas, maior altura e capacidade de conexão também com o céu, inserida em uma antiga floresta, rodeada de fertilidade e energia sexual reprodutora – energia base da natureza, vai ter muito mais amor aos animais que a buscam por diversos motivos. Ela vai ter mais capacidade de acesso a você e a sabedoria da Terra que tem toda sabedoria do Universo. Ela vai estar mais aberta para uma relação de amizade inter-espécie porque vai estar ali, plena na sua função de grande avó, cuidadora da floresta. Uma árvore no meio da rua em Ipanema, rodeada de asfalto, que entra ano sai ano é ignorada, às vezes cortam sua copa porque está atrapalhando a vista de um prédio, tem seu espaço limitado por um quadrado de concreto e é valorizada apenas como parte integrante de uma paisagem, não tem tanta abertura assim para uma relação. Ela mesma, assim como nós, pode ter se esquecido de sua função, tão atarefada está em transmutar o dióxido de carbono abundante em oxigênio. Então uma árvore no meio de uma antiga floresta tem mais capacidade de conexão do que uma de um floresta mais nova, cidade pequena e cidade grande.

Mas isso faz parte do processo de conexão com ela. Uma árvore não doa seu conhecimento assim, de graça. Ela também não cobra valor monetário porque isso não faz a menor diferença na vida dela. Ela vai selecionar seus amigos com muito cuidado especialmente hoje em dia quando confiar nos seres humanos está difícil. Ela entra em contato com seu campo de energia e já sabe de todas as suas intenções ao querer ser sua amiga. E é esse o valor que ela cobra: o seu valor enquanto ser humano. Certamente se você fosse uma formiga, ela não ia exigir tanto de você. Mas a Mãe Terra exige mais de você porque ela te deu tudo que podia dar a uma filha. Ela fez de você sua melhor e mais maravilhosa criação e por isso ela vai esperar que você faça alguma coisa decente com isso. A Mãe Terra espera muito de você, assim como uma boa mãe o faz.

Como provar o seu valor e tornar-se amiga de uma árvore?

A primeira amiga árvore é a mais difícil. Porque você ainda não tem nenhuma amiga árvore em seu campo e ela pode sentir isso, você vai passar por uma série de testes. A chave aqui é disciplina. Quem quer ser amiga de uma árvore vai ter que provar isso sem palavras. Ela entende o que você diz e precisa das suas palavras em alguns momentos, porém a fase de conquista de uma árvore não tem nada a ver com as belas declarações de amor que você pensa que vão a convencer. É só ação e energia com ela. Essa será sua primeira amizade energética. Parabéns!

Quando se quer iniciar uma relação de amizade com uma árvore, é preciso tornar isso uma prioridade em sua vida. Você vai ter que ir ver a árvore praticamente todo dia. Com a primeira, diria que todo dia. Durante meses, lembre-se o tempo delas é muito diferente do nosso. Inicialmente, se apresente. Conte a ela sobre você, suas intenções, justifique que importância tem na sua vida fazer amizade com ela. E assim, passe a amá-la e trate-a já como sua melhor e mais querida amiga. Todos os dias, sente-se de costas encostada nela e compartilhe suas experiências com ela, alegrias e tristezas, abrace-a, chore junto dela, expresse gratidão, você quer essa relação porque você a vê como um ser igual a você. Você não se acha melhor ou pior que ela, você está no mesmo barco que ela. Ela é seu semelhante e ela pode te ajudar no seu processo de tornar-se cada vez mais semelhante a ela. Ela sabe que a humanidade está sofrendo. Ela é boa e quer te ajudar. Mas ela também exige muito respeito e valor. É preciso valorizar essa relação como talvez nunca se tenha valorizado nenhuma outra. E lembre-se, ela já sabe de tudo sobre você, coisas que nem você mesmo sabe! Então seja o mais honesta que já foi em toda sua vida.

Após algum tempo você vai começar a #saber que ela é sua amiga. Você simplesmente sabe. Eu recomendo que você a pergunte seu nome e sinta o que vem. Se esse não for seu nome oficial tudo bem, pra nossa espécie é importante dar nome aos seres que amamos, infelizmente porque isso limita muito nossa capacidade de amar coletivamente, mas tudo bem por hora, ela vai entender. E aí tudo começa a mudar. Você começa a ter ideias que nunca teve antes. Insights sobre sua vida e sobre a vida coletiva difíceis de acreditar mas que fazem muito sentido. Começa a se abrir para coisas que não se abria antes. Sente sua energia mudando, se sente cada vez mais viva e seu campo limpo. Às vezes, perguntas podem ser respondidas imediatamente vindo como uma ideia na sua mente, ou com uma sensação de que você já sabia a resposta dessa pergunta e veio de você mesmo – mas não veio. Outras, ela começa a alterar seu campo energético para que você atraia situações e pessoas que vão te responder o que você perguntou. Cada vez vem de um jeito mas sua vida se torna muito mais rica, desemperrada e livre.

Daqui a pouco a melhor parte do seu dia são as 2 horas de trilha floresta a dentro em direção a ela. Você nem faz mais o esforço inicial. Aquilo faz parte de quem você é, tá no sangue. E não tenha medo da floresta: tá com a árvore, tá com Deus. Ela vai cuidar de você. Nada vai te machucar sob a guarda dela.

A segunda árvore amiga é mais fácil no sentido de que vai levar menos tempo. Já aconteceu comigo no primeiro momento que sentei com as costas encostadas nela com a intenção de me apresentar e começar uma relação, já senti e recebi aprovação. Viva! É uma alegria tão grande ter uma nova árvore amiga. Mas pode levar uma semana, um mês… Depende da árvore e também do esforço que você faz pra ir até ela. Quantas caronas, caminhadas, passos você deu pra estar ali do lado dela e com que frequência faz isso. Basicamente: o quanto isso é importante pra você.

Mas não desanime com as árvores urbanas. Minha primeira amiga foi em plena praia de Copacabana. Eu nem sabia direito o que eu estava fazendo, ela ficava perto de um lugar que eu ia me exercitar todo dia e assim comecei a cultivar essa relação intuitivamente. É um conhecimento ancestral que consegui acessar no meu campo inconscientemente. Você pode recordá-la de sua função, assim como ela fará isso com você.

E assim compartilho a sabedoria que mudou toda minha vida. Bem vinda! As árvores aguardam você!

Alma x EGO

Vimos que o EGO se apropria da função seletora da alma.

A personalidade é o resultado da combinação de todas as informações deste campo energético. A alma é aquela que organiza e seleciona essas informações. Porque uma pessoa pode mudar pra sempre ao ir em um musical na Broadway, decidir tornar-se atriz e jamais retornar para o seu vilarejo enquanto outra pessoa pode ver o mesmo musical e achar monótono? Porque uma pessoa ama comer peixe e outra não pode sentir nem o cheiro? (…) Quem foca, quem faz essa seleção é a alma. É algo que vem de dentro. O que te toca, normalmente é o que toca a alma. A alma então vai selecionando o que guardar e o que deve ser você, a personalidade que vai ser uma interpretação dessas informações durante essa vida.

A alma faz a seleção à partir do seu propósito na terra. Ela vai organizar e escolher as informações ao seu redor que vão moldar a sua personalidade de acordo com tudo que você veio pra realizar aqui. A alma é aquela que vem também com ferramentas especiais para essa missão, o que chamamos de dons. Canto, dança, escrita, capacidade analítica, gosto pela ciência, corrida veloz, ginga no futebol, pele extra entre os dedos para os nadadores, corpo esbelto, corpo forte, corpo cheio, ser hétero, gay, negro, branco. É ela também que escolhe a família e as condições em que se nasce já criando sua estratégia do jogo da vida que tem o seu propósito como objetivo. Ela que dá as cartas que temos nas mãos durante toda vida. Aquele é o nosso jogo por ela selecionada.

Ela também sabe que o processo de separação e formação do EGO faz parte do jogo e não vai se desesperar por causa disso. Antes de você chegar, ela já fez acordos e criou situações que vão se repetir ao longo de toda sua vida com objetivo de te lembrar dela e do seu propósito. São momentos difíceis normalmente porque eles sempre vão de encontro com a personalidade falsa criada pelo EGO.

Enquanto a alma seleciona à partir do ser de luz, aberto, conectado com a unidade da grande Alma que somos com foco no seu propósito, o EGO seleciona à partir dos alicerces da separação, proteção e medo. O EGO passa a criar uma personalidade por demais individualista, que só pensa em si em vários níveis. Que não consegue sequer imaginar uma vida de conexão e abertura. Escolhe focar naquilo que amedronta e assusta e assim se fortalece. Passa a ver o mundo como um lugar ruim, sente pena de si mesmo o tempo todo, considera-se vítima, não se responsabiliza pelos seus atos, não acredita que tem o poder de criar sua realidade, acaba fazendo escolhas baseadas na criação de um mundo fechado à quatro chaves.

As pessoas com o EGO por demais inflado, cheio de ideias, informações e crenças que alimentam a própria ideia do eu, na verdade, são as que mais estão desconectadas de si verdadeiramente. Desenvolveram o que chamamos de personalidade falsa. Elas estão fixadas naquela “ideia” de quem são. E  o EGO continua fazendo mais escolhas e seleções em seu exterior e se construindo. Aquela função primordial de se proteger do sofrimento de uma abertura e confiança plena que pode vir a gerar frustração ao ir de encontro com outros que estão vivendo no EGO, dá lugar então à uma nova função. À função de assumir o controle total sobre a personalidade e descartar a alma.

A diferença são os mecanismos de seleção. Por exemplo:

A pessoa entra para ver um filme em que Aliens invadem a terra para nos presentear com um novo meio de comunicação onde o tempo não é linear. Se essa pessoa está conectada com sua alma e faz parte do seu propósito pensar comunicação ou tempo ou linguagem, ela vai se apaixonar pelo filme, prestar muita atenção, ver novamente, buscar referências. Mas a mesma pessoa, conectada com seu EGO pode ficar com medo dos aliens, ficar lá achando que isso nunca aconteceria, que o nariz novo da atriz não está tão bonito, que a espaço nave é pouco verossímil… O EGO fica tentando se proteger porque sua base é o medo da mudança, do novo, do instável, da abertura. Então qualquer imagem de novidade, de algo que saia da zona de conforto gera medo inconsciente e vai ultimamente cair no mecanismo máximo de defesa do EGO: o #julgamento.

Aquela pessoa tem o mesmo propósito com alma ou com EGO. Mas o EGO já a separou há tanto tempo disso, ela já vive há tantos anos ignorando todos os sinais que se repetem e ela se acha vítima da falta de sorte, está há décadas presa em uma vida na zona de conforto onde seu EGO a mantém protegida que muitas vezes pode até ter a ver um pouco com aquela sua missão. Era pra ser escritora e virou blogueira, era pra ser cozinheira michellin e está fritando batatas no McDonalds, era pra ser pescadora virou surfista… A alma ainda tenta burlar o EGO, a sensação do que fazer segue cheia de ruído mas está lá… Às vezes. Porque outras vezes era pra ser escritora virou bombeira, era pra ser cozinheira virou líder de movimento queer, era pra ser pescadora virou Sea Shepard!

E aí aquelas situações das quais ela se acha vítima, que se repetem sempre começam a se repetir mais rápido e com mais intensidade. Fica presa em dívidas por exemplo. Alimentando seu vazio e desconexão da alma com compras. Aí fica mal um mês e consegue pagar. Daqui a um ano fica pior, leva 6 meses sem sair de casa pra pagar as dívidas. Dali 2 anos, tem que ficar 2 anos presa em casa sem sair pra pagar as dívidas, não consegue nem pagar a televisão pra se distrair. Aí 3 anos, perde sua casa. Vira mendigo. E deve dinheiro pro traficante… Quando essa situação de dívida quer quebrar o EGO que alimenta se vazio e sua persona com compras. Mas a pessoa não entende as mensagens da alma e do Universo que quer sua partezinha livre pra realizar sua função.

Chega no final, o tempo acabou, nada foi realizado… Viveu-se uma vida no alicerce do medo, proteção e fuga. Quando tudo que se precisava fazer era perdoar aqueles EGOs que te frustraram inicialmente e desencadearam a construção do seu EGO. Relaxar, liberar os traumas e abrir o coração. Voltar a se abrir. Parar de focar tanto no “eu” e na separação. Se abrir pro novo, para novas ideias, novas informações que chegam, observar-se, observar o que seus padrões tem pra te ensinar… Tá tudo jogando a favor da sua libertação. É só conseguir tirar a venda do EGO e ver novamente com os olhos da alma.

A Alma Coletiva

Por causa da formação do EGO, nós perdemos o potencial de conexão da alma que é apenas uma pequena partezinha de uma enorme alma. Esta alma é a alma coletiva do planeta terra. Todos os seres humanos são pequenas partezinhas de uma única alma que está viva dentro de nós. Algumas partes dela estão aqui encarnadas, outras estão aguardando seu momento. Algumas vem como ser humanos, outras como árvores, outra como jaguar, outra como aranha, outra como pedra… Ela é uma grande alma que escolhe se separar em pequenos pedaços para se conhecer melhor, ter diversas experiências. Assim como o corpo humano é feito de pequeninas células que trabalham sozinhas porém em equipe.

A Alma coletiva também guarda todas as informações de todas as suas experiências. Enquanto separada, faz essa seleção para se conhecer melhor à partir de suas escolhas individuais, porém quando ela se conecta, ela viveu todas as experiências sem seleção. Tudo que já foi criado, tudo que já foi sentido, tudo que já foi amado ou odiado está neste campo energético que é o campo da terra. Ela sabe de cada movimento que já foi dado desde a primeira célula que surgiu no planeta há milhões de anos atrás.

Além de experiências e conhecimento produzido no passado, a terra guarda sabedorias que estão muito além do nosso conhecimento atual. A terra não tem tempo, não tem linearidade que é uma criação da nossa 3a dimensão do espaço – tempo. Muitas vezes, um campo, mesmo individual humano, pode guardar também experiências futuras. Muitas vezes os planos que temos, nossos sonhos, nossos desejos pro futuro tem a ver com informações no campo que estão nos guiando para aquilo que já está marcado lá – isso é o que alguns chamam de propósito ou destino. A terra também já tem todo seu futuro em seu campo e deseja manifestá-lo, assim como nós desejamos manifestar nosso propósito.

A terra muitas vezes pode guardar sabedoria que não são nem deste planeta porque está se relacionando através do seu campo energético com outros planetas também. Estas informações nos chegam através da astrologia. Se um ser humano único pode ser influenciado pelos planetas, imagina um planeta inteiro. Eles se equilibram e se mantem em posição eternamente. Às vezes um período de transformação de um planeta, inicia uma cadeia de transformação em todos eles. Que é mais ou menos o que estamos passando agora. O Universo inteiro está em transformação, galáxia por galáxia, planeta por planeta, pessoa por pessoa. (Olha que lindo! Você é um agente de transformação do Universo inteiro!)

A sabedoria também vem de outras dimensões. Dimensões onde vivem outros seres como Anjos, Deuses, outras versões de você, outras possibilidades de vida e criação. Dimensões que são regidas por outras leis e por isso, permitem ou não determinados tipos de conhecimento e criação.

Tudo isto está no campo energético da terra onde você vive como um peixe, mergulhado no meio de isso tudo sem ter consciência disso. E com muito pouco acesso a isso, especialmente quando não tem acesso a sua alma devido à forte formação do EGO. A sua alma é uma partezinha desse campo energético e está conectada com ele o tempo todo, porém o EGO não permite mais essa conexão então acabamos nos limitando e limitando nossa capacidade de acesso à essa quantidade de sabedoria que nos rodeia o tempo todo.

Ela foi mesmo 2.0

Me mudei pros United States of America em pleno governo Trump.

Retiro Material

Aquela viagem solitária não foi planejada por ela mas sim pelo universo, seus guias e seu destino. Ela foi porque achava que estava indo pra um novo lar de uma velha amiga. Uma amiga que há quatro anos era praticamente sua alma gêmea. Mas o tempo criou muitas diferenças, ela abandonou muitas das crenças que sua amiga fortaleceu. Ela mergulhou no seu interno enquanto a outra seguiu na luta política. Ela sofreu e observou, a outra fugiu e seguiu se distraindo. Ela tentou aceitar, não julgar, entender… A outra não. Em menos de uma semana já não conseguiam mais nem se olhar e ela partiu. Sozinha. Na África.

Mas aquilo não a abalou. Ela não encontrou nada do que buscava naquela amiga. Ela estava à procura do amor e da cura. Alguns chamam de acaso, outros de destino mas foi parar em Umzembe – A Terra dos Mortos em Zulu. No Mantis & Moon Backpackers and Lodge. E, imediatamente soube, encontrou TUDO. Pessoas genuinamente felizes, que dançavam todas as noites, lhe deram múltiplas boas vindas à família. Finalmente ela se sentiu parte de uma comunidade. Era festa toda noite, em pouco tempo ela estava trabalhando no bar e botando suas músicas preferidas e pessoas pra dançar. Descobriu novas músicas, novos amigos, novos olhares, uma nova vida.

Se apaixonou perdidamente pelo lugar, pelas pessoas, pelo trabalho… Mas o problema começou onde o amor também. Quando buscamos a cura do amor, abrimos o coração que estava fechado há tanto tempo, abrimos também o motivo pelo qual ele se fechou. Pra curar o amor, temos que enfrentar todo sofrimento, os padrões e os traumas que vem com ele. Ela tinha que se reafirmar constantemente que aquelas eram pessoas boas, que ninguém estava julgando ninguém e aos poucos conseguiu acreditar nisso e se entregar um pouco para aquelas relações. Se preocupava o tempo todo se eles gostavam dela ou não. Jogava sua energia em cima de todos na esperança de receber um pouco de volta. Tentava desesperadamente se conectar com todos, de qualquer forma. Assim foi abrindo mão de si e se entregando para um estilo de vida muito diferente do que almejava pra si. Caiu na gandaia.

Todas as noites dançavam muito e bebiam mais ainda. Cerveja, tequila, Jager, shots, shots, gim & tonic, the cripple, cerveja, baseado, shot, tequila, vinho branco com gelo, tequila com suco de laranja, cranberry juice com vodka e sprite. Dançavam innerbloom, closer, the sun don’t shine, one dance, let you know, slumber party, ready or not… O tipo de música que ela ama dançar. E cantavam também! Muito! Começou a abrir a garganta, soltar sua voz que estava reprimida há tanto tempo.

Aos poucos começou a relaxar e se entregar pra tudo que vivia. Seu corpo começou a mudar, ficar mais leve, mais ágil, mais serelepe. Suas pernas se fortaleceram pra andar no meio daquela selva. Amava o seu trabalho no bar, no escritório e fazendo massagens. Sua alma ama fazer massagem. Sua voz começou a sair e aos poucos começou a se revelar também. Voltou a ser brincalhona. Recebia cada hóspede com um sorriso enorme, mostrava aquele lugar como se fosse o melhor lugar do mundo porque pra ela, realmente era. Ela nunca fora tão feliz. Ela se dedicou àquele lugar. Se entregou mesmo. Tinha momentos que cuidava de uma festa, fazia check-ins enquanto bebia e dançava ao mesmo tempo. Ela descobriu que dava conta de tudo!

Como não poderia deixar de ser, em um campo tão fértil, acabou se envolvendo afetivamente. Irresponsavelmente, contra todos os CLAROS sinais de seu coração, se entregou para uma relação energética intensa. Yo! O cúmulo: o menino tinha 21 anos! Mas os dois tinham uma conexão muito forte, algo espiritual mesmo. Quando ela sentava ao lado dele, sentia sua aura, sentia a troca de energia entre os corpos que queriam se fundir. Ele, totalmente ignorante de energia, apenas ia com o fluxo. A atração foi inevitável. Finalmente dormiram juntos. Morando, trabalhando, vivendo tudo aquilo todas as noites – das duas uma: namoravam ou seguiam amigos. Ela queria namorar, ele quis seguir amigo. Coisa de criança. Era tão frustrante porque se ele pudesse sentir aquela troca, saberia que aquilo não era algo comum, aquilo tinha que ser valorizado! Mas ele não sentia, queria só se divertir, beber e chamar atenção. Ela então aceitou a rejeição e tentou outros, tentou se conectar com outros… Mas por mais que ele não a quisesse no seu coração, ele a queria na sua teia. Ele forçava uma barra e ela, de certa maneira, apaixonada, aceitava todas as vezes.

Seu coração começou a ser seu instrumento de manipulação. Qualquer pingo de amor recebido fazia com que ela abrisse mão de si. Ela queria dormir mas eles queriam que ela ficasse, ela ficava. Ela queria descansar mas eles precisavam de ajuda, ela trabalhava. Ela queria ir pra praia mas eles queriam tomar cogumelos, ela tomava. Ela queria ser saudável mas eles queriam ficar muito doidos, ela ficava… Ela jogava cada vez mais sua energia pros outros, se sentia exausta o tempo todo mas dava ainda mais energia. Começou a se desconectar de si…

Finalmente a intuição chegou – ela tinha que partir. Ela nunca tinha tido uma intuição tão contra seu racional-externo em toda sua vida. Como assim partir? Ela encontrou tudo aquilo que estava procurando! Ela estava TÃO feliz ali. Ignorou a sensação por alguns dias… Tentava desviar sua mente daquele tipo de pensamento, não queria aceitar. Mas, domingo a noite, sozinha servindo no bar, começou a se questionar… E neste momento, um hóspede aleatório lhe abordou e lhe entregou uma carta avatar – cartas que lhe acompanham há alguns anos (requer mais explicação em um outro momento). Ela não podia negar este sinal, era seu destino pedindo-lhe para que voltasse pra ele. O sinal era inegável.

Acordou no dia seguinte, segunda-feira e anunciou sua partida! Mas ainda sentia-se muito dividida. Estava insegura quanto a tudo aquilo. E assim se abriu para as melhores conversas de toda sua vida. Naquele dia conversou com 4 pessoas sobre vida, emoções, descobertas, perdão, amor, família, crescimento pessoal… Ela se sentiu verdadeiramente querida. Aquelas pessoas queriam ela ali de verdade. Inclusive recebeu outras interpretações sobre o recebimento da carta naquele lugar: it’s now that shit gets real. Seu coração não a deixou partir, ela queria se aprofundar naquelas relações. Ela queria se desenvolver ainda mais ali. E esse dia mudou tudo. À partir daí conseguiu se abrir ainda mais, se entregar ainda mais, amar ainda mais.

Aqueles dias estavam sendo o retiro material mais intenso de toda sua vida. Se conectava com a natureza, se curava de um medo a cada dia, se entregava cada vez mais pro fluxo do amor e dos relacionamentos. Se sentia parte daquela comunidade como nunca antes em sua vida. Ria, pulava, amava, trabalhava, comia, suava, zuava, conversava todos os dias com aquelas mesmas pessoas.

Mas por mais que tentasse quebrar aquela conexão com aquele menino, a energia começou a mudar. Ela começou a se interessar por outro da comunidade e ele não conseguiu suportar a perda da sua energia nele. Aos poucos a mal tratou, a manipulou, provavelmente a caluniou por aí… E, finalmente, transou com sua melhor amiga na sua cama. E ela entrou no quarto, acendeu a luz e viu tudo.

O que aconteceu depois daquele momento foi uma combinação de sombra-instinto-áries. Ela sentia seu coração praticamente explodir. Foi tomada por suas emoções e perdeu totalmente o controle sobre si. Fez a pior coisa que já fizeram com ela – abandonou. Acordou de manha, arrumou suas malas e partiu. Nem se despediu da maioria da sua família. Deu meia dúzia de abraços, negou todas as intuições, comprou uma passagem e se mandou. Aquilo era a sombra do seu amor – sua maneira de magoar o outro era o abandono. Era instinto porque o macho alfa (aquele que tem mais energia do clã) escolheu outra do clã. Era áries porque era totalmente impulsivo.

Porém, absolutamente nada na sua vida foi em vão. Um acontecimento desse, num lugar onde tudo parecia fluir perfeitamente em ordem com seus sonhos, só podia ser uma lição e/ou um chamado.

Eu chamo esses momentos de descontrole de “chefão”. O chefão é aquele que encerra uma fase do videogame. E o jogo da vida está cheio deles. Eles normalmente mudam tudo e nos ensinam muito sobre nós mesmos. Pois só nesses momentos em que perdemos totalmente o controle do racional é que podemos nos ver de verdade, olhar nossas sombras de frente e perceber qual o próximo passo no processo. São momentos decisivos que indicam que passamos de fase ou que precisamos rever tudo. São sempre muito difíceis e levam tempo para se recuperar. O problema é que viajando tudo acontece muito rápido, não temos tanto tempo assim pra reflexão e recuperação. A única saída é aceitar… SURRENDER.

São tantas as lições.

Mas o que assusta mesmo é o chamado.

Ela foi mesmo.

Ela foi pra África do Sul. “Mas você vai fazer o que lá?” Viver.

Foi em uma missão: viver ou matar alguns sonhos. Cansada da vida normal trabalho-casa-sexta-feira, ela sabia que a vida era mais que isso. Aos poucos sentia-se envelhecer. Seu corpo endurecido de tanta preocupação desnecessária. Na verdade, estava viciada em se preocupar. Estava viciada em sentir medo. Mas seu maior vício era o sono. Sua oportunidade estava passando enquanto ela vivia essa vida sem grandes acontecimentos meio dormindo, meio acordada e meio sonhando. “Um dia eu vou viver. Um dia vou ser feliz. Um dia vou viajar. Um dia vou estar pronta.” Ela pensava sempre no seu futuro com grandes expectativas e por isso aceitava seu presente sem vivê-lo completamente. Estava sempre separada internamente, não permitia-se apegar muito a nada e nem ninguém porque sabia que um dia ela iria viver de verdade.

Aos poucos foi tomando consciência de que a vida no presente é a vida real. Conheceu uma pessoa com quem poderia ter um futuro, arrumou um trabalho no qual poderia crescer. Mas ela não se permitia viver essas experiências completamente, se entregar pro fluxo da vida porque secretamente estava apenas esperando seu momento de viajar. Todos esperavam isso dela. Há anos que ela criava essa impressão nas pessoas, todos já a viam como uma viajante sem que ela de fato tivesse se entregado para esse processo. Esse sonho já era maior que ela mesma, ele tornou-se uma parte de sua personalidade mas vinha mesmo da alma.

Finalmente escolheu a vida. Escolheu viver no presente. E ir viver esses sonhos que a atormentavam e entusiasmavam. Cansou de usar seus sonhos como fuga e resolveu usá-los como realidade. Juntou um dinheiro – não muito. Parcelou a passagem no cartão sem saber muito bem como pagaria isso no futuro. Arrumou uma mochila básica. E dessa vez deixou seu quarto, sua família, seus amigos no seu devido lugar – suas raízes. Foi-se sabendo que sempre teria pra onde voltar. Sabendo de onde vinha. Pois só assim poderia ir a algum lugar.

No aeroporto, sentia-se confusa, com muito medo, com sono, assustada. Era como se abrisse os olhos de um longo sono sem saber muito bem onde estava – praticamente um coma, tinha que perguntar as coisas mais simples, não conseguia focar nas placas, era muita gente, muito barulho, muita informação. Acabou perdendo seu voô por um erro da TAM (pra variar) e passou uma noite sozinha em um hotel, se despedindo daquela pessoa que sabia que deixaria de ser. Foi bom ter uma noite em São Paulo, como num leve intervalo entre duas realidades, um espaço-entre.

O que ela estava fazendo? Não sabia responder. Tinha algumas intenções mas nada muito concreto. Ela queria se entregar pro fluxo do universo, queria confiar na abundância e na bondade dele. Queria permitir-se mudar. Queria se mover. Encontrar um externo que curasse seu interno pois sozinha não estava conseguindo mais avançar no seu processo. Queria fazer amigos. Encontrar uma família de alma. Se apaixonar. Fazer coisas que nunca fez. Colocar-se em situações novas para se conhecer melhor. Queria dançar, cantar, conversar, rir, correr, conhecer, desenvolver, aprofundar. Queria sentir vontade de viver, de sair, conhecer pessoas. Confiar de novo.

Acima de tudo: queria acordar.

Tecnoxamanismo não é isso!

Oito meses após o I Festival Internacional de Tecnoxamanismo, me lembro dessa época com certa nostalgia da minha ingenuidade. Foram 6 meses de programas semanais debatendo e desenvolvendo o conceito que chegou na minha vida quase morto. No primeiro programa, a ideia era mudar o nome totalmente para “tecnoficção” ou algo do gênero. Mas essa palavra mágica “T-E-C-N-O-X-A-M-A-N-I-S-M-O” que tem a capacidade de levantar sobrancelhas e borbulhar as caldeiras de Dionísio não poderia ser desconsiderada assim, sem uma passagem pelo incentivo energético da Penny. O momento do mundo é tecnoxamanismo! Essa palavra resume a disputa evolucionária da humanidade, abre as portas da Nova Era. Não descartemos tão rápido.

Nos amamos por 6 meses. Fazíamos sexo mental toda quinta-feira às três da tarde na Rádio Interferência, nossos olhos vidrados uma na outra, jogávamos ideias de lá pra cá, rebatendo, contestando, nos complementando em uma dança criativa que ficava mais tensa e afiada conforme nossos ouvintes aumentavam, a rede se movimentava e o conceito começava a entusiasmar e horrorizar por aí. Tínhamos plateia regular com fome de interação na rádio, convidados especiais se juntavam ao caldeirão referencial de vez em quando. A maneira que criávamos no meio daquele falatório ininterrupto era absolutamente livre, não linear, egoísta e revolucionária por acontecer dentro das paredes acadêmicas da UFRJ onde os formalismos são exaltados e nada é válido sem nota no rodapé. Mudávamos vidas semanalmente.

Conforme o conceito tomava forma e criava limites em sua aura, fomos nos definindo melhor também e começando a perceber as diferenças de expectativas em relação a ele mas seguíamos na energia da complementação, diferenças que promovem o crescimento pelo debate. Não havia necessidade de concordar em nada, era só criação, canalização de ideias aleatórias em um misto de referências de ponta e um pouco de porno-terrorismo para temperar.

Durante o festival porém minhas expectativas alucinadas se fizeram mais claras e, pra variar, me decepcionei. Eu acreditava que debatíamos o futuro. Mas não era bem isso. Até agora não sei o que era na verdade. Pra quê tudo aquilo? Debates, rádio livre, hacklab, hardware livre, atividades com os Pataxós, ritual, geodésica, ayauaska, videomaking, luzes brilhantes, terreiro eletrônico, cozinha vegana, ônibus hacker, performances… Dentre os presentes: DJs, vídeo makers, hackers, artistas, malabaristas, cozinheiros, ativistas, quilombolas, indígenas, pensadores, acadêmicos, místicos, feministas, permacultores, atores, ambientalistas, performáticos, palhaços e travestis. Se o novo não sai de um festival tal que se propõe a debater a relação entre magia e tecnologia à partir de uma perspectiva de dominação tecnológica do mundo e de mentes em regime de imersão com todos os estímulos listados acima, então não sei de onde sai.

Acabou o festival e não saiu. Ai como eu estou cansada dessa energia de frustração na minha vida! Há 4 anos que não fiz nada da vida a não ser buscar de onde vai sair esse movimento verdadeiro de mudança e criação do novo. E é sempre a mesma coisa. Tudo começa lindo, cheio de amor e parcerias. Aos poucos os egos crescem, as pessoas revelam seu lado de desinteresse pelo mundo e priorizam seu prazer e finanças acima de tudo. Durante o festival a galera ia pra praia, virava noite tomando quetamina e fazendo orgias. Taí um desafio: zumbis que querem repensar tecnologia e salvar os indígenas. Poucas pessoas compartilharam conhecimento abertamente. O misticismo foi decoração. Todo mundo atrasado pra tudo. Descaso com o que fazíamos ali. Era tudo diversão intelectual punk? Estava eu no meio de gênios alternativos entediados?

Os meses que se seguiram? Ela sumiu. Foi ficar famosa. Colher sozinha todos os frutos plantados coletivamente. Deu nosso programa por encerrado. “É uma obra.” E foi viajar o mundo sentando em mesas e brilhando em aldeias indígenas.

Até quando irão me decepcionar os líderes? Eu não suporto essa coletividade sem liderança. Essa horizontalidade irresponsável e demorada. Esse consenso bate-boca que não consegue implementar. Essa falta de humildade de ouvir o que tem mais experiência. Esse ego anarquista do ninguém manda em mim. Eu quero organização, confiança e admiração. Ordem, objetivo e meta. Doação voluntária de poder e liberdade de tomá-lo de volta a qualquer momento. Escolha. Transparência. Intimidade. Raça. “Um dia quero ser que nem ele”.

Mas é cada um pior que o outro. Puta merda. Não é possível ser liderado por quem não se admira. Esta muito difícil para uma pessoa sensível admirar alguém nesse mundo à partir do momento que a percepção do outro vem da necessidade e motivação por trás. Mas ela eu admirava demais. Um encantamento carente e barato disposto a abrir mão da perfeição em troca de tamanha gratidão pelo mundo a mim aberto. Pela oportunidade de entrar em contato com aquela energia, aquele fogo, aquela mente, aquela arte. Finalmente aprendi que não se pode abrir mão. Na busca pelo movimento verdadeiro, somente um líder absolutamente verdadeiro pode ser seguido. Se não é energia jogava no lixo. Nada pior do que o brilho da vaidade no olho daquele que te guia.

[NOTE TO SELF] Lembre-se sempre: um líder verdadeiro não se assusta quando você cresce, ele se fortalece porque sabe que você é um reflexo de sua liderança. Um líder verdadeiro quer é que você cresça tanto que tome seu lugar e sua missão evolua. Ele te incentiva, SEMPRE. Um líder falso não te deixa crescer, quer te manter onde esta porque tem medo de perder seu pódio de número um. Tem medo de perder a admiração do outro. Tem medo de perder o controle. Mas quem tem medo de perder o controle não está no controle. Quem deseja manter as coisas como estão para se garantir é o [MST] que vai manter você em um movimento medíocre ganhando um salário fixo para fazer um role político qualquer que vai mudar uma linha em um documento em 10 anos (ou uns 10 mil reais em um orçamento blá). Vai te fazer umas críticas pequenas, te dizer que você não está pronto, que precisa de mais um diploma, mais uma especialização, mais uma participação em uma peça audiovisual. Um falso líder vai se importar com coisas mínimas como logos, fanpages, administração de redes sociais, coordenações e nomes para mesas. Qualquer micro ilusão que tire o olhar da macro situação histórico-planetária que vivemos. Para te manter sob seu controle, um falso líder te oferece um pouquinho mais de poder do que os outros só pra você saber que você é o preferido. Um falso líder explora seu trabalho em troca de promessas possibilidades.

E eis que o conceito se tornou aquilo que era diferença antes. Hoje em dia, Tecnoxamanismo é uma ideia extremamente materialista, voltada para a reprodução criativa de rituais e misticismo através de luzes pisca-pisca e performances trans com trajes chocantes (capas, silicone, fitas, palha, chips e durepox). Vem inovando a estética hacklabista e, talvez, incentivando a religião da tecnologia, adoração do silício e extropismo. Os rituais são reproduções bollywoodanas de cenas pagãs trocando as ervas pelas máquinas. O contato com os espíritos é simbólico através do noise, ruídos baixados no PirateBay e tocados no Itunes. Apropia-se de qualquer termo fantasioso e ressignifica-o com a linguagem da cibercultura criando novos personagens e arquétipos vazios de espírito mas suficientemente recheado para publicar-se mais um artigo ou sentar-se em mais uma mesa. Quem sabe dar uma passada na Dinamarca.

A parte do xamanismo conectou-se totalmente com a causa indígena, conectando a cultura hacklab software livre com a necessidade de educação tecnológica nas aldeias. Além de fazer um ativismo pelos conhecimentos ancestrais indígenas enquanto alta tecnologia ambiental (o que eu acho bem legal). Mas onde estão os verdadeiros xamãs no Brasil? Os poucos legítimos que ainda existem estão reservados no interior da floresta, não estão nem sonhando com tecnoxamanismo e, pessoalmente, acho bom que fiquem bem longe de todas essas máquinas mesmo. Um ou outro xamã evangélico tira umas fotos e endossa o #TCNXMNSM mas pra onde foi todo aquele debate místico pesado que fazíamos? Pra mim, quando falávamos de xamanismo, falávamos de magia total. O xamanismo indígena sendo um deles apenas. Falávamos de astrologia, ufologia, tarot, magia do caos, umbanda, espiritismo, leitura de aura, fogo sagrado, clarividência… O que aconteceu com a minha tão amada magia open source? Eu sempre defendi que todo ser humano é xamã ou pode se desenvolver bastante nessa vida para ser na próxima. Que era hora de abrir novas potencialidades humanas na disputa evolucionária que vivemos (e perdemos) agora: homem x máquina. Que era magia versus computador na veia. Todo meu respeito ao povo indígena que amo e admiro demais mas tecnoxamanismo é mais que isso. É xamanismo urbano, siberiano, kardecista… É o corpo humano funcionando em seu pleno potencial. É o sexto sentido a flor da pele. Conexão animal com o coqueiro da praia de Ipanema. Ecovilas. Permacultura. Meditação das Rosas. Festivais de Trance. Bitcoin. E como tudo isso se conecta com os novos tempos, com as novas máquinas? Máquinas artesanais. Máquinas locais. Máquinas que manipulam energia. DJs xamãs. Telepatia.

E agora é isso: Tecnoxamanismo, essa palavra tão poderosa, capaz de fazer com que pessoas viagem 20 horas de ônibus só para descobrir o que é, tomado por um ego acadêmico. Reduzido a imagens projetadas em tecidos brilhantes e debates/artigos acadêmicos rebuscados e inovadores que se apropriam de termos indígenas e mitológicos mas que quase ninguém vê nem lê. Sendo usado como pretexto de carona pra dar uma volta pelo mundo e escada na carreira de um única pessoa. Esquecido pela rede que, decepcionada, deixou de se comunicar.

Muito feio. Me senti usada. E jogada fora. Mas não é a primeira pessoa a ignorar o valor da minha energia investida no seu talento. Jurei que seria a última.

Mas sou muito grata. Se não fosse pelo tecno, o xamanismo nunca teria entrado na minha vida. Sigo vivendo a minha diferença de conceito. Estudando. Aqueles meses de debate e criação finalizados com aquele escândalo de festival serviram para definir grande parte do que eu quero fazer na minha vida. Me abriu os olhos para o estado tecnológico futurista absolutamente apocalíptico que se aproxima. Aprendi demais. Não só sobre a tecnomagia mas também sobre a promiscuidade travestida de feminismo e o feminismo que faz sentido pra mim. Aprendi muito sobre loucura, sobre autenticidade e vaidade. Mas, acima de tudo, descobri que OS ROBÔS ESTÃO CHEGANDO e não temos tempo a esperar. Em 10 anos eles estarão entre nós. E nós precisamos ter bons motivos para continuar vivos. Precisamos fazer coisas que eles jamais saberão fazer. Precisamos relembrar a magia. Rápido.

Uma coisa é certa: eu amo essa palavra. E minha história com ela está apenas começando.

Cumbre de los Pueblos… De novo.

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Hoje começa a Cúpula dos Povos em Lima. A Cúpula dos Povos é um grande evento realizado pelos movimentos sociais internacionais durante esses períodos de conferência e falácia das Nações Unidas. Durante o evento, organizações de esquerda, mulheres, indígenas e outras minorias fazem exposições, debates, mesas e workshops sobre suas lutas. É uma agenda cheia de opções para quem quer ver a realidade da situação climática tão ocultada pelo discurso apaziguador e tecnicista dos negociadores e exploradores da natureza que debatem mais fundos e trâmites econômicos como propostas de redução de danos e emissões para solucionar a crise climática global.

A cúpula é organizada por uma comissão política que é uma articulação entre diversas organizações, redes e movimentos. Eu acompanhei essa comissão durante a Rio+20, chamávamos de Comitê Facilitador da Sociedade Civil para Cúpula dos Povos na Rio+20. E foi uma loucura. Não sei como foi essa organização aqui no Peru, mas no Brasil foi um dos ambientes mais hostis dos quais já participei na minha vida, a rede de movimentos que deveria estar afinada para realizar o principal evento de contestação da cidade não conseguia dialogar entre si, era muita política, muita negociação, muita diferença e, no final das contas, essa desorganização política se refletiu no próprio evento. A Cúpula dos Povos na Rio+20 não tinha sequer programa impresso, ninguém sabia onde ficavam as atividades, o hacklab do movimento software livre foi todo assaltado e muitos equipamentos valiosos levados, além de ter transmitido ao público a impressão de ser uma grande feira de artesanato.

Não foi tudo um desastre. Muitos eventos inspiradores aconteceram, a metodologia de construção da declaração final foi muito bem pensada, muitos movimentos conseguiram se alinhar e ter suas vozes e pautas unidas em um único documento. Muitas alternativas foram expostas e mentes libertas de antigos paradigmas. Alguns ativistas descreveram a cúpula como “um grande parque de diversões políticas” de tanto que conversaram, trocaram, sentiram e aprenderam ali.

Mas… de que serviu todo aquele trabalho? Aquele ano e meio de reuniões, debate, disputa, estresse e decepção? Algumas pessoas descobriram novos caminhos, outras pessoas criaram novos projetos, alguns jovens se descobriram ativistas… Mas seguimos em direção ao apocalipse. Dois anos depois, aqui estamos, mais uma vez na exata mesma dinâmica, só que um pouco mais simples. Aqui são três dias de evento e os eventos não são tão variados como eram na Rio+20. Mas são os mesmos…

http://cumbrepuebloscop20.org/agenda/

Será que ninguém mais percebe esse ciclo de repetição idêntico? Estamos presos nesse modus operandi que é um grilhão mental sendo arrastado pelas energias de produção coletiva de todos aqui. Mais uma conferência da ONU com ONGs enormes em seus side events e workshops internos, mais uma Cúpula dos Povos com seus seminários e debates de exposição e constrangimento dos que estão do lado de dentro. Mais 15 dias de reuniões ininterruptas para pensar uma única marcha, algumas hastags, alguns abaixo assinados, estratégias de alguma coisa, pressão de outra coisa…

Mas o que estamos fazendo com toda essa dinâmica política é dando poder a este processo! É dando importância e relevância para estes negociadores e lobistas que já estão tão profundamente tomados por seus egos e vício em poder que talvez não estejam nem mais vivos. Talvez não tenham alma alguma dentro deles (estou falando literalmente). Estamos tentando convencer alguns zumbis de que precisamos respirar e beber água para viver. Como podemos esperar que zumbis vão compreender a linguagem da vida? E estamos os alimentando energéticamente com toda essa energia produtiva sendo investida nisso. São vampiros que precisam destas conferências e destas mobilizações para sobreviver, consomem esta energia de jovens guerreiros que acreditam que estão sendo úteis para alguma coisa. Que se forem a mais uma reunião vão encontrar a solução, que se saírem pelas ruas pegando mais cem assinaturas alguma coisa vai acontecer… Não vai. Ano que vem será a mesma coisa. Mas com mais energia para zumbis ainda maiores. Ano que vem estamos falando te metas do milênio em Paris. Que piada… Metas do milênio…

Precisamos começar a compreender as dinâmicas invisíveis que acontecem por trás dos processos racionais da matéria. Observar as marés de energias que são movimentadas com toda essa atividade e valorizar isso. Dar valor a nossa energia, dar valor aos nossos sonhos. Parar de aceitar essa receita de ativismo que não dá em nada.

E lá vamos nós… Fazer tudo de novo. Já tem reunião no Pirate Pad do Children and Youth Caucus da sociedade civil para Paris rolando a cada 15 dias. E pessoas preocupadas com esse processo, dando valor a algo que é uma miragem. Uma ilusão da matéria.

Dois anos depois…

Em Dezembro de 2011 fui à COP (Conference of the Parts / UNFCCC – United Nations Conference on Climate Change) em Durban na Africa do Sul. Fazia um ano que eu estava profundamente envolvida com a organização e mobilização de jovens para Rio+20 e fui através de uma organização internacional que forma jovens para incidirem na conferência. Eu não tinha ideia do que me esperava mas minhas expectativas eram positivas, eu estava ansiosa para vivenciar aquilo que eu vinha estudando e discursando há tanto tempo. Eu acreditava nesse processo como estratégia de mudança de paradigma, gestão dos recursos naturais globais e controle das corporações que estão devastando o planeta como se fosse infinito e descartável.

Foi uma das, senão A, maiores decepções de toda minha vida. Quando cheguei na conferência, percebi que estava em um grande teatro, um grande cenário de uma encenação de preocupação com a natureza e a humanidade. Dos governos isso já era esperado, estão absolutamente alinhados com os verdadeiros donos do mundo, as transnacionais. Mas o meu grande choque foram as ONGS. Eu não compreendia em quê aquela grande feira de demonstração de projetos e atuação e troca de cartões de visita estava contribuindo para a causa.

O espaço da conferência se divide em três arenas. Uma das negociações onde somente as delegações oficiais e negociadores podem transitar, outras das ONGS que é essa grande feira de exposição e salas de eventos múltiplos, um grande caderno de programação auxilia com descrições e locais mas além disso murais são preenchidos ao longo dos 15 dias de conferência com novos eventos criados de acordo com necessidades. Não há um segundo sequer de tempo livre, são mesas, debates, apresentações, reuniões, assembleias infinitas. Estas duas arenas tem entrada restrita para aqueles que tem credenciamento (delegados, ONGs e jornalistas). A terceira arena é a dos empresários, esta aberta ao público que transita pela rua ou que tem curiosidade para compreender o que se passa em sua cidade. Quando entramos nesta arena, vemos produtos de baixo gasto de carbono, água limpa… Tudo mercantilização da natureza e da vida disfarçada de amigo da mãe terra. E muita desinformação.

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Dentro da conferência, muitos dos maiores ativistas do mundo ocupados com blogs e reuniões. Grandes organizações ocupadas e divididas entre milhares de eventos e networking. Todos muito bem comportados, valorizando sua relação com as Nações Unidas que financia muitos de seus projetos ao longo do ano. Não se pode nem distribuir um flyer ali dentro. O ato de esticar o braço para entregar algum papel informativo ali pode causar a sua expulsão do território internacional. E tudo bem. São 15 dias em que se acompanham as negociações, se debate pelo corredor, produz-se conteúdo jornalístico, abaixo assinados tipo Avaaz e os jovens ainda pensam em algumas ações que podem realizar pela cidade e estratégias de mobilização para a grande marcha tradicional que acontece mais pro final. Alguns representantes e grupos conseguem breves reuniões com negociadores e colocam alguma pressão para um afrouxamento da irresponsabilidade e da cegueira. No último dia faz-se uma ação qualquer lá dentro em revolta com os resultados sempre insatisfatórios considerando as mais baixas das expectativas e aí muitos são expulsos da conferência. No último dia.

Eu nem fui neste último dia. Tive alguns problemas com a minha organização porque, no início da segunda semana, peguei 700 adesivos de uma campanha que estava sendo feita sorrateiramente lá dentro entre os próprios ativistas: “I <3 KP” (Eu amo Protocolo de Kyoto) e colei por toda a conferência, por todos os lados, atrás das câmeras da grande mídia, pedia para negociadores colarem onde eu não alcançava, fechava armários dos países que estavam dificultando ou sequer debatendo o protocolo… Eventualmente a polícia me pegou. Me levou ao secretariado e o chefe da organização veio para proteger sua relação com as Nações Unidas. Fui bastante repreendida. Não fui expulsa mas depois daquilo percebi que ali dentro, independente se é delegado, ONG ou empresário, estão todos articulados com aquele modus operandi que é confortável e seguro. Cada um finge que faz a sua parte e no final não passa de uma formalidade para não dizer que a humanidade está cagando para o ar que respira, a água que bebe e o planeta que habita.

A verdade é que estão todos muito confortáveis com esse universo das conferências e do movimento climático ambiental. Os governos e as corporações com seus modos de manipular e restringir a atuação além de investimentos mínimos em áreas e projetos pouco relevantes e as organizações e ativistas dependentes destes processos para simplesmente ter o que fazer. Como não temos nenhuma proposta melhor para salvar a natureza e sentimos uma ânsia por fazer alguma coisa, acabamos incidindo nestes processos seja para participar das negociações enquanto sociedade civil, seja para contestá-los. E é a mesma coisa: reuniões, encontros, cúpulas, comunicação, marchas, campanhas, design, mobilização e artivismo. Algumas ações de sabotagem aqui e ali.

Dois anos depois retorno para um cenário novo. Lima, Peru. COP20. Casa de Convergência TierrActiva, um espaço que se propõe a ser uma zona de convívio comunitário entre diversas pessoas e organizações, além de trazer um novo elemento para a luta: a transformação interna através de práticas espirituais e a explanação de alternativas e outras possibilidades de realidade. A proposta é muito boa mas a prática é a perfeita reprodução do que se vê no espaço oficial. Organizações que estão acostumadas a um modus operandis de reuniões, articulações, midiativismo, mobilização, marcha… E não tem a menor abertura para qualquer dinâmica de criação. Acredita-se, por algum motivo não comprovado, que esse é o caminho da mudança. Que um dia uma marcha vai mudar alguma coisa, que mais uma reunião vai mudar alguma coisa, que mais um debate ou mais uma crítica ao governo vai salvar o planeta e a humanidade. Um monte de ego sentado em círculo, pessoas que tem seus salários pagos simplesmente porque a crise climática existe debatendo logos e nomes para coordenação de grupos de trabalho.

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E fala-se sem parar sobre uma nova narrativa, sobre uma nova estratégia mas na praxis se faz o mesmo de sempre porque é seguro e confortável, porque assim que se aprendeu a fazer, assim que é feito deste 1945 e repudia-se qualquer proposta de fazer diferente. São 10 reuniões por dia, aceleradas para que se possa ter mais tempo livre para estar respondendo e-mails e combinando mais reuniões. Qualquer tentativa de conexão e profundidade é considerada perda de tempo, a mentalidade da produtividade capitalista se reproduz também nos círculos dos que querem contestá-lo o tempo todo. A superficialidade, a formalidade, a produtividade glorificada.

Yoga, meditação, práticas energéticas e rituais servem para decorar. Para trazer um momento de leveza e sacar unas fotos. É um momento de respirar para que as energias possam ser recarregadas e se possa voltar a fazer o mesmo. Tudo considerado muito bonitinho. Mas em nenhum momento visto como o caminho, como a solução. Como a tal nova narrativa.

É deprimente. Essa casa é o ápice do ativismo climático no mundo hoje. Por aqui transitam as maiores organizações, os maiores ativistas tão ocupados com suas reuniões e conversas de corredor, com as articulações de seus projetos que não tem um segundo para imaginar-se em outro cenário.

Eu gostaria de sentar para uma reunião de criação em 48 horas. Pessoas se fecham em uma sala e só saem de lá com uma ideia nova. Algo que nunca tenha sido feito. Gostaria de entrar em uma reunião não verbal. Gostaria de sentar em uma geodésica com artivistas e tomar mescalina antes de olhar para as cartolinas em branco na parede. Gostaria de sair daqui com um grupo ativista com o objetivo de montar uma ecovila/hacklab e estas pessoas vão morar juntas durante um ano informando sua enorme rede de todas as ideias e propostas de um novo movimento que surgem durante este convívio. Mas nada disso faz nenhum sentido para ninguém. O que faz sentido é mais um abaixo assinado. Mais uma reunião com negociadores. Mais uma fala em uma reunião. Mais um cartão de visita.

Estamos perdidos. Acho que precisamos de uma reunião para articular essa ideia.