Se não posso dançar, então não é minha revolução.
Corpo que sente.
Corpo que move e movimenta.
Corpo que sabe.
Corpo que sustenta frequências energéticas revolucionárias.
Uma revolução silenciosa de almas e impulsos que pulsam vida.
De mim sai um pulso de vida.
Expande e contrai de acordo com a integridade da minha missão na terra.
Pergunta pro campo. Pros anjos. Pro eu superior.
Encontra o equilíbrio dentre um ego que quer tudo pra si e um coração que quer dar tudo pro outro.
Proteja sua força. Sua luz. Sua honra. Suas flores. A abundância que suas ancestrais lutaram para acumular.
Tudo que te acontece, acontece com a sua permissão. Se não tá bom, tá na hora de mergulhar nas suas partes que sentem tesão no sofrimento, na dor, no fetiche de ser impedida de viver seus sonhos.
E deixar a água lavar e levar.
Se abra para um novo caminho.
O caminho do meio.
Da matéria sagrada.
Da integração expansiva do novo.
E deixe que todo o resto se ponha com o sol.
Archive for penny
Água
Human
Sair de 2 anos e 9 meses de celibato tem seu lado bom e seu lado ruim.
O celibato foi a experiência mais sagrada que vivi. A elevação da frequência energética, o excesso de energia que me permitiu viver processos coletivos intensos, a magia e a conexão com outras dimensões sutis que essa energia promove foi muito poderosa.
O celibato me ensinou a ser feliz sozinha. Me deu a identidade que tanto me faltou por toda a vida. Me libertou da mendiga de amor que fui durante anos.
Foi de celibato que me tornei Persephone, rainha do meu próprio submundo. Que encarei minhas amarras profundas. Que desfiz milhões de nós da minha linhagem maternal.
De fato, o celibato me colocou no caminho do sacerdócio.
E agora, um chamado material tem sido ouvido com muita resistência. A matéria me pede para relembrar a leveza de estar com os pés na terra.
Recebendo e dando prazer novamente.
Muito de mim diz sim. É hora.
Muito de mim diz não. É sagrado.
A cerveja, o cigarro e os baseados vem me convidando de volta ao profano, ao material, ao mundano. E algo dentro de mim não quer resistir.
“É preciso forçar os pontos de desequilíbrio para achar o ponto de equilíbrio” me disse o malabarista.
Aqui estou, cambaleante, entre luz e sombra. Sagrado e mundano. Feminino e masculino. Dia e noite.
Integrando a inteireza de ser humana mais uma vez.
My way
Aprendendo a leveza de ir devagar.
Sem pressa pra chegar lá na frente.
Caminhando por entre pedras.
Desviando dos buracos.
A cada escolha, portas se abrem e se fecham.
A cada movimento, expansão dos corpos sutis.
Indo com a culpa embaixo do braço. Levando as porradas que ela me dá a cada movimento de libertação mais brusco ensaiado.
Liberdade de ser feliz. Liberdade de sentir prazer. Liberdade de ser abundante. Liberdade de ganhar dinheiro. Liberdade de dar beijo na boca. Liberdade de gozar.
Foi com muito trabalho interno e muita luta que cheguei até aqui. E é assim que sigo caminhando. Nos precipícios da vida.
Olha a força que isso dá!
Cada vez mais divorciada do passado.
Cada vez mais segura do futuro.
O futuro que eu escolho. O futuro que eu quero. O futuro que eu posso.
Vai ser do meu jeito.
Preciso dar um tempo.
Tem algo que eu gostaria de esclarecer:
Eu não tenho nenhuma intenção de destruir nada e nem ninguém. É que às vezes eu destruo a mim mesma para tentar me proteger de invasões além dos meus limites. Eu não sou obrigada a mostrar meus segredos e o que tem dentro de mim pra ninguém não. Eu acho que todo muito já tem mais que informação suficiente para saber quem eu sou, independente das escuridões que me atravessam assim como atravessam todo mundo.
Eu sei que tem muita gente muito empolgada com o que estamos construindo nesses últimos dois anos. Mas a verdade é que eu tenho sido muito mais levada por uma corrente do que liderado um movimento enraizado. Sabe o que acontece quando as coisas não tem raiz? Qualquer ventinho que sopra, derruba.
Eu preciso dar um tempo disso tudo. Preciso cuidar de mim, do meu corpo, da minha mente, da minha vida financeira. Preciso de calma e tranquilidade para me recuperar desse processo que se continuar me levando junto dessa poderosa correnteza vai acabar me matando ou enlouquecendo.
Eu não sou contra absolutamente nenhuma prática espiritual mas como eu sempre digo: cada pessoa tem seu caminho. Experimentação é uma parte muito importante da vida. Tudo que eu sei, eu experimentei de alguma forma. E já experimentei algumas coisas que foram lindas no começo mas depois percebi que estavam me tirando do meu centro, da minha base e essência. Percebi intenções ocultas da minha parte ou do outro ao redor do que fazíamos e só optei por me afastar, sem diminuir o valor do que foi recebido ou aprendido. Vou levar comigo a experiência pra sempre. E quando eu experimento algo que vejo que não é pra mim, isso acaba fortalecendo a sabedoria de quem eu sou e do que é sim pra mim.
Mas algo que não é pra mim pode 100% ser pra outra pessoa e tá tudo certo. Eu jamais disse que eu era a rainha da verdade. Embora eu bata o pé que sou sim uma rainha – no sentido de ser soberana sobre mim mesma e não sobre mais ninguém, ok? Eu não tô aqui pra mandar em ninguém! Só estou tentando aos trancos e barrancos facilitar um processo que me pegou de assalto. Eu jamais podia imaginar que minha vida ia me levar por esse caminho. Me sinto meio presa em um processo que não estou amando não.
A pressa é sempre um erro estratégico. A pressa é a pior sensação que podemos colocar em cima de uma construção delicada, nova, que ainda não sabemos direito o que é. Eu preciso dar um tempo. Tá tudo muito caótico. Maravilhoso e macabro ao mesmo tempo.
Peço desculpas a todas as pessoas que tenho magoado ao permitir que certas energias me atravessem. E agradecer por todo apoio e ajuda que recebo. Tenho só a agradecer. E pedir por favor que não fiquem bravos comigo quando não consigo aceitar uma ajuda. Às vezes não me sinto pronta para receber algumas coisas. Não é que “não é bom suficiente pra mim”, é apenas que me assusta. Eu não sei qual o preço de determinadas ajudas. Às vezes as pessoas me ajudam e eu aceito e depois me cobram coisas sem que isso tenha ficado claro adiante. Saiba que quando eu não aceito uma ajuda não tem nada a ver com a pessoa que quer me ajudar, tem a ver com a minha dificuldade de confiar nas pessoas resultado de tanto trauma que já vivi nessa vida.
Às vezes eu me sinto quase forçada a aceitar uma ajuda e isso me deixa nervosa. É claro que eu quero ser ajudada! Mas com limites. Tem coisas que eu quero fazer por mim mesma também. Tem coisas que eu não me sinto pronta pra aceitar. E isso não significa que eu nunca vou aceitar mas que nesse exato momento preciso elencar outras prioridades primeiro.
Sobre o Mooji: só agradeço. Mas estou há dois anos em uma profunda iniciação sobre dar valor ao que tem dentro de mim e é isso que quero fazer agora. Estou ouvindo a mim mesma nessa.
Estou bastante cansada. Se você quer me ajudar: me dá espaço.
Obrigada,
Livia
Mãe com minha mãe.
Eu engravidei. E a perspectiva da maternidade trouxe a tona a única mãe que eu sabia ser: a minha. Em uma breve fresta que se abre no espaço e tempo, eu permiti que ela entrasse e me dissesse que era hora de crescer. Que não era possível ser mãe sem dinheiro, sem estabilidade, sem um apartamento e sem sacrifício. Ela me disse que para ser mãe eu teria que abrir mão de tudo que me fazia feliz. Eu deveria parar de viajar, parar de ser tão alternativa, parar de dançar, de transar, de amar e também de sonhar. Que se eu queria mesmo ser mãe, eu deveria pelo resto da minha vida me tornar escrava do dinheiro.
Eu acabei perdendo o bebê mas segui grávida das palavras de minha mãe. Saí do bunker anarquista off the grid onde eu morava no meio da floresta africana e voltei pro Brasil. E, aos poucos, fui me vendendo por dinheiro, por um apartamento, por uma estabilidade financeira que pague o seguro saúde, as contas de luz e gás e me preparando para ser mãe como minha mãe foi.
Comecei a sofrer roubos. Roubos das minhas partes que não ia mais precisar, já que eu quero ser mãe. Fui sendo arrancada de tudo aquilo que uma mãe “direita” não pode ter dentro de si. Desejo, sexualidade, risada alta, espontaneidade, liberdade, deboche, beleza interior…
E fui me entregando sem perceber um esvaziamento de tudo aquilo que me faz eu. Me vendendo pouco a pouco pro sistema. Admito: por um triz não voto 13. Fui me abandonando, esquecendo de cuidar de mim. Me tornando essa mãe que dá tudo de si pros outros em troco de um conforto e de uma segurança.
Me apeguei a um trabalho que não amo. Me apeguei a uma ideia do que significa ser adulta. Me apeguei a compras online, cigarros e pão de queijo como válvula de escape. Me apeguei ao tédio. Meu orgasmo já não é mais o que era antigamente. Minha coragem parece ter sumido. Minha alegria, nem me lembro mais.
Como uma alma que atrofia, fui perdendo a cor. Vivendo uma vida vazia de sentido, vazia de amor, vazia de magia. E cheia de dinheiro. O tempo está passando e eu quero ser mãe.
É disso que o mundo precisa? Mais uma mãe infeliz no mundo!
Mas a evolução espiritual não é algo que se pode frear. Por dentro algo se expandia. Por dentro algo inventava formas de gritar, de fazer escândalo e de dizer não! Eu achava que o não era pro desrespeito mas agora entendo que o verdadeiro não é pra ser mãe como minha mãe foi.
É uma coisa ser uma mochileira aos 20 e poucos anos. É algo totalmente diferente olhar na cara da sociedade aos 35 e dizer NÃO. Eu não vou mais viver assim. Eu não vou me vender pelo dinheiro. Eu não vou mas ficar calada sentada aqui sem dançar pra te agradar. É uma coisa muito diferente olhar para uma mochila aos 20 e depois aos 35. O relógio da maternindade fazendo tictac.
Mas eu estou olhando.
Chega uma hora que o que está dentro pede alinhamento com o que está fora. Que não se pode mais fingir. Que não há mais como guardar segredos. Que se eu acredito mesmo no que se passa dentro de mim então eu preciso viver isso no externo também.
E eu acredito MESMO.
Análise de Cenário
Assassinada
Talvez tudo tenha se explodido para que outras coisas não se explodam. Assim como a Joy, minha gata, morreu para que eu não tivesse que morrer. Quem sabe não foi tudo minha culpa, quem sabe não fui eu que cometi algum erro tão macabro, tão bizarro que mereci aquele assassinato. Talvez a parte de mim que morreu tenha dado lugar a algo diferente e não necessariamente ruim. Talvez o que comece à partir de agora seja uma vida mais calma, mais tranquila, menos ignorante e menos combativa. Talvez eu já não me veja mais em uma posição de liderança das massas interdimensionais. Talvez tenha chegado finalmente algum momento pelo qual esperei muito. Não vamos dismiss as coisas assim tão rapidamente. Vai ver nada foi perdido! Pois afinal, nada se perde, tudo se transforma.
Eu me lembro quando eu ia até o local onde a Joy tinha sido enterrada e sentia seu espírito naquela terra, tornando-se vida novamente. Porque a morte sempre dá lugar a nova vida. Seja aqui ou em algum outro lugar.
Sinto meu egoísmo se dissolver dentre o desejo de ser eu a campeã ou de que seja qualquer um o campeão dessa batalha. Vai ver vai mesmo passar pra outra pessoa ser o que eu tentava ser e vai ver essa pessoa irá fazê-lo muito melhor do que eu podia jamais ter feito. Sinto minha arrogância se dissolver no momento em que aceito meu sacrifício para não causar uma revolução planetária que daria em um lugar pior do que já vivemos.
Na verdade, tudo isso pode me levar a uma espiritualidade muito mais feminina. Menos combativa, menos anarquista, mesmo black bloc. Uma espiritualidade de muito mais reverência, muito mais recebimento e muito mais conquista. Usando a prática da oração, de sentir as pequenas gotas de amor que ainda habitam em meu pequeno e fechado coração. Agora é possível sentir a pedra que estava ao centro do meu peito no comando de toda aquela potência amorosa. Dentro de mim, tem tanto desamor, tanta decepção, frustração, desconfiança. Essa não é a liderança que eu gostaria de ser.
Pra ser a verdade, já não quero mais ser a liderança de nada. Quero paz, tranquilidade e uma vida simples. Ficaria muito feliz em ter o básico. Uma casa, um jardim, um marido e filhos. Esse sonho me parece quase tão difícil quanto fazer a revolução global mas sei que não é. Na verdade é algo bem mais plausível, bem mais raíz. Bem mais mulher. Meu sonho de crescer em raíz tornou-se mais forte que meu sonho de crescer em galhos e voo.
Sinto que devo pedir perdão durante um tempo, a todas as pessoas que mal tratei, que enganei sem saber que engava. Visto que eu enganava a mim mesma esse tempo todo. Quase igual à Rio+20. Eu dizia ser possível fazer coisas que eu dizia a mim mesma serem possíveis sem ter nenhuma prova disso, nenhuma certeza de nada. Espero que fique tudo bem comigo e com todos que tinham expectativas, invejas, demandas em cima de mim. Me sinto tão melhor em perder esse destino que me torturava por não vê-lo realizado. Aquela potência que pulsava dentro de mim sem uso, sem espaço para expressão, aquilo me agoniava, me gerava desespero e necessidade de usar meios que não eram os ideais para se chegar ao fim que eu sentia ser urgente chegar.
A urgência se foi, aquela vida se foi. Eu ainda estou chocada e sem entender o que sobrou, o que aqui ainda vive. Creio que seja o caso de permitir que o tempo me mostre o que viveu, o que quis seguir aqui. O que quis viver dentro de mim. Porque minha tendência tem sido olhar apenas para o que morreu, o que quis morrer em uma grande pulsão de morte mas na verdade também é possível olhar para o outro lado desta mesma moeda e me perguntar: o que quis viver aqui? O que ainda quis seguir? O que ainda quis experimentar estar aqui na Terra?
Isso para mim segue mistério.
Mas certamente estou no lugar certo para trabalhar meu julgamento em cima de mim mesma, para parar de me julgar, comparar. Não vou ficar aqui deitada invejando as outras vidas e nem competindo mais com ninguém. Estou no lugar certo para fazer o trabalho interno e externo de aceitar de onde venho, fazer a paz com meu país, com minha família, com minha raíz e com esse meu coração tadinho, que passou por tanto nesses últimos anos e parece ter tanta dificuldade em se reerguer. É possível viver uma vida com mais paz. Afinal, como se poderia fazer a paz no mundo se dentro de mim ainda habitava tanta guerra? Tanto desejo de batalha? Isso é o fim desse tempo, dessa era.
Uma voz me diz que isso é uma conquista. Que voltar para casa da minha mãe, para meu país, para meu trabalho (se Deus quiser e eu não vou discutir se ele não quiser), voltar sabendo que já não desejo mais viajar, já não desejo mais ficar em hostels e nem camping. Que do jeito que tava não tinha como ir pra festival nenhum mesmo. Que eu não sou a mesma pessoa: que perdi minha coragem de recomeçar sozinha, que me senti tão infeliz e tão carente e tão saudosa de pessoas que parece que cheguei ao ponto de humildade onde posso finalmente dizer: eu preciso de você. Eu preciso de pessoas. Não pra fazer algo monstruoso e mudar o mundo mas sim para serem amigas, para conversar, para amar. Só pra amar nas diferentes formas de amor possível que podem acontecer na vida de uma pessoa. Ser pessoa é precisar de outra pessoa.
E na hora certa, se for para fazer, tudo fará sentido. No mínimo, aprendi algo muito importante que parece que eu não tinha aprendido ainda: respeitar a lei do carma. Governo tem propósito sim. Suas leis acabam sendo para nossa proteção. Foi o que tive que pagar pela minha rebeldia. Caro, bem caro. Porém, ainda vive em mim a certeza de que tudo aqui nesse planeta é amor e, agora vejo, que amor também precisa de regras. <3
Humilhada.
Quanta fome.
Quanta falta.
Quanto conceito alienígena direcionando ação coletiva dos que já se esqueceram ou sequer souberam o que é ser humano.
Quanta violência, tipo da que se assiste comendo batata Lays no domingo.
Quanta ânsia por poder. Seja lá qual for.
Quanto costume de se posicionar CONTRA.
Quanto desejo por guerra. Por briga. Por maldade.
Bóra dilacerar aquilo que nos é desconhecido.
Bóra obrigar que se curve diante do coletivo.
Que se arrependa diante da maioria.
Que aprenda uma lição pra nunca mais esquecer diante dos que estão certos com certeza.
Temos PRESSA.
É agora ou NUNCA.
Aqui não damos ouvido para esse tipo de frescura. Nem drama. Nem emoção. Nem sentimentos. Nem processo interno. Nem corpo. Nem vulnerabilidade.
É na marra.
Tiro. Porrada. E bomba.
As Preparadas.
Tá com a gente OU tá com eles.
Eles lá. O inimigo invisível. Que odiamos.
Mas também amamos. Porque amamos odiar.
Aqui não pode.
A gente não desculpa.
A gente não entende.
A gente não dá mais tempo pra se preparar.
A gente precisa. E vai arrancar. Engolir. Estraçalhar.
A gente tá deseperado. Separado e separando. Dolorido e causando dor. Irritado e irritando.
Despreocupado com qualquer cuidado necessário com o que é precioso. Novo. Jovem. Ainda sendo compreendido com cautela.
Ninguém nunca teve cuidado comigo. Então eu nunca vou ter cuidado com ninguém. Ponto.
A gente quer de graça. E a gente quer agora.
É a gente que manda. E se nos sentirmos ameaçados, nem analisamos se a ameaça é verdadeira – atacamos de imediato.
Não confiamos que exista bondade no mundo. Queremos mais luta. Sangue.
Exigimos parceria na nossa miséria.
Alegria nos olhos nos desperta a fúria da injustiça social.
Sucesso nos desperta a fúria da injustiça social.
Inteligência nos desperta a fúria da injustiça social.
Tentativas inovadoras nos deperta a fúria da injustiça social.
Tudo diferente do que nós acreditamos ser o certo é maluco. Louco. E precisa ser destruído agora.
Cuidado com o que você fala.
Cuidado com o que você pensa.
Cuidado com o que você sente.
Controle-se.
Reprima-se.
Para não nos incomodar.
Olha essa garota. Doente.
GORDA. A gente te odeia.
Arrogante.
Quem monta, cai.
Você não quer mudança.
Você não quer a refoma agrária.
Você não quer o fim da pobreza.
Você não quer o fim do racismo.
Você não quer a total integração da comunidade LGBTQ+.
Você não quer a implantação da sustentabilidade ambiental e climática.
Você não quer o fim do capital.
Você quer falar sobre isso.
Você quer lutar por causa disso.
Você quer se juntar com 100 mil pessoas na rua e vibrar raiva pro Universo em unísono por causa isso.
Você quer sentar no bar e tomar uma breja falando sobre isso.
Você quer criar memes disso.
Você quer encontrar seus amigos na reunião do coletivo.
Você tá viciado na sensação de ser injustiçado.
Você sente prazer na raiva. Na separação. Na briga. Na luta. Na crítica pela crítica.
Você se sente superior por não ter tanto quanto os outros como se isso te enobrecesse.
Você se acha melhor do que quem tem qualquer tipo de privilégio. E você acha que isso te dá o direito de levar uma caixa de som pra praia no Leblon e colocar o funk às alturas, esses ricos que se fodam.
Você acha que isso te dá o direito de jogar lixo na rua.
Você acredita que isso te permite ser mal educado. Entitulado.
É capaz que essas causas paguem até seu salário.
Te deêm o “status” de liderança comunitária.
Tem muito de você investido nessas “lutas” e você quer mais é continuar lutando. Vencer não é o objetivo.
E se alguém chegar com a perspectiva diferente da sua: você vai nomear mais um novo inimigo! Afinal, você ama ter inimigos. Você precisa ter inimigos para se sentir ancorado na realidade que você protege com unhas e dentes como a única possível.
E se alguém desafiar a sua visão de mundo: você vai destruir essa pessoa violentamente.
Porque o Capital é o que você conhece. É ruim mas pelo menos não é o desconhecido.
E como o agente BioNTech que você se torna à mínima ameaça do status quo (o acordo com o diabo da humanidade), você vai lutar pra defendê-lo de qualquer fator estranho (orgânico) que possa interferir na sua versão de realidade.
Porque você está fingindo. Que nem os atores na televisão.
Você é um ator em uma peça de teatro permanente.
No grande palco do Capital.
E eu não vou me juntar a você.
Como lidar?
Tem pessoas que dizem que só se conhece mesmo alguém quando se transa com ela.
Tem gente que acredita que só se conhece alguém mesmo quando se luta com ela (fisicamente).
Eu discordo.
Pra mim, a gente vê quem alguém realmente é na forma que a pessoa lida com a sombra.
Lidar com as pessoas quando está tudo bem é fácil.
Agora, e quando o rolê cai mais pra baixo e alguém te ataca?
Alguém projeta algo poderoso em cima de você?
Alguém percebe uma escuridão sua que você ainda não acessou?
Alguém reflete um traço seu muito reprimido?
Alguém tem um piti de loucura perto de você?
Alguém te julga ou desrespeita?
Pra mim, são nesses momentos que a gente conhece alguém de verdade.
É muito importante aprender a lidar com a sombra da vida, das pessoas e de si mesmo.
Sem mais separação. Julgamento. Definição. Polarização. Repressão. Distração. Anestesiamento. “É tudo culpa deles”. Essas estratégias estão acabando conosco enquanto humanidade.
E eu só aprendo a lidar com a sombra do outro e da vida quando aprendo a lidar com a minha própria.
Quando eu reconheço que ela é parte inerente do planeta Terra. E que se eu sou terráqueo, eu terei algo de sombrio dentro de mim.
Quem anda muito muito resistente à sombra do mundo e do outro – pode ter certeza – anda resistente à sua própria sombra.
E resistente às dinâmicas ORIGINAIS da Terra. Se alinhando com os valores alienígenas que vem se alastrando e nos separando do nosso planeta.
E, consequentemente, da nossa própria luz.
Porque quanto mais forte brilha sua luz, mais ela ilumina os cantos escuros da casa. E se a gente não sabe o que fazer com o que encontra, a gente pára de brilhar pra não ver mais.
Aprender a lidar com a sombra de uma maneira madura e responsável é uma das medicinas mais importantes que o mundo precisa.