Elis

Ela respirou fundo, tomou coragem, marchou até a sala da sua chefe cubana e pediu demissão! Foda-se. Foda-se se ela não tem algo garantido ainda, foda-se se não sabe o que vai fazer da vida, foda-se se vai ficar sem dinheiro, foda-se se aquele emprego era uma boa oportunidade de ter uma vida normal e crescer na carreira. Foda-se.

Ela já não estava mais aguentando aquela monotonia diária. Elis está trabalhando há 6 meses como recepcionista de um SPA no hotel mais chique da América Latina. Um desses hotéis históricos, dos mais importantes. Aquele que todo mundo conhece, todo taxista sabe chegar sozinho, é o puro status trabalhar ali. No meio hoteleiro, ela pode até ser considerada bem sucedida só de entrar lá.

Mas trabalhar em um ambiente tão fino, tão 5 estrelas, é um pouco como voltar pra escola. Tem sempre alguém te falando alguma coisa que não está certa, alguma postura que não se pode ter, que o tom de voz está alto demais, essas risadas não são apropriadas, tira a mão da cintura menina. Aos poucos você vai se moldando para se tornar tão engessada quanto as esculturas nos corredores. Aquele clima de castelo antigo vai entrando pra dentro do corpo, que vai tomando uma forma antiquada mas muito bem treinada para sequer encostar na parede porque isso não é chique.

Ela sequer pode se sentar. Tem que passar 8 horas do seu dia em pé no aguardo de pessoas muito importantes virem ser massageadas. É um auê quando chegam “os importantes”. Diariamente recebe-se uma planilha dos VIPS, CEOs e presidentes, celebridades, princesas, delegações e lords que por ali se hospedam e até moram. Um lord inglês tem um quarto pra si e um pra sua cachorra há mais de 2 anos. É o homem mais chato de todos os 7 bilhões vivos no planeta.

Essas pessoas são todas um saco de lidar. Quando ela entrou pra trabalhar no hotel, em busca de uma vida um pouco mais estável, pensou que teria a oportunidade de conhecer pessoas muito interessantes. Em 6 meses, não conheceu uma pessoa sequer, não teve uma conversa de mais de 4 minutos de acordo com o protocolo que deve seguir em cada interação. Os VIPS sentem-se únicos e especiais e a tratam como uma mera subalterna desimportante, ali unicamente para servir-lhes a riqueza e o relaxar. Não existe um pingo de interesse em trocar.

E em 6 meses ela não aguenta mais a vida estável. Ela tem uma necessidade de respirar liberdade, de fazer suas escolhas, de mandar em si mesma. Antes desse emprego estava mochilando o Brasil, vivendo em comunidades tântricas e visitando santuários, fazendo retiros espirituais. E foi em um desses retiros que recebeu instruções claras para voltar pra sua casa de novo, onde ela precisava trabalhar algumas relações e sua capacidade de viver como todo mundo consegue viver – trabalhando um emprego durante 8 horas por dia. Ela nunca tinha tido essa experiência das 8 horas batendo ponto antes.

Em 6 meses, ela se sente secando por dentro. Sente que sua vida não tem valor. Que O-I-T-O horas do seu dia-a-dia não servem pra nada além de receber alguns meros milhares de reais ao fim do mês que ela acaba gastando para se sentir bem consigo mesma de alguma maneira depois. E, concluiu, que essa vida não é mesmo pra ela. Mas ela precisava ter a experiência para saber que aquilo não era ela, antes uma parte sua se culpava e se sentia incapaz perante o outro. Ela se sentia fraca por não conseguir viver da maneira que os outros conseguem. E agora ela se sente muito forte pelo mesmo motivo.

Os outros que estão malucos, que estão muito conformados, muito viciados nas atividades de sentir bem consigo mesmos depois do expediente. Os outros que tem expectativas baixas demais do que querem da vida. Os outros que estão satisfeitos demais com pouco. Claro que alguns podem estar satisfeitos, realizados, vivendo a missão divina trabalhando essa carga horária, não generalizemos. Mas a maioria certamente não se permite querer um pouco mais, está muito amedrontada, com medo do Temer, da crise, do “espectro do desemprego”. Vivemos tempos em que se não está acuado, és louco.

Bem, ela finalmente aceitou que é completamente louca. Ela já não vê TV, nem lê os jornais há muito tempo. Acredita que é tudo uma grande ficção criada para o controle das massas. Controle esse que vem principalmente pela separação (diferenças ameaçadoras) e o medo. E talvez seja por não se conectar com essa realidade fictícia que hoje acordou e decidiu assim mesmo mudar sua vida. Na verdade, voltar pra sua vida. Ela optou por confiar na abundância do universo, dos seus talentos, da sua energia e da sua sorte. Escolheu CONFIAR novamente que tudo vai dar certo. E se jogou no desconhecido renovada, com um enorme passo dado no sentido do seu autoconhecimento e amor por si mesma.

Há uns 2 meses que Elis estava pensando demais sobre o futuro. Ela planejava pedir demissão com um ano e tirar suas férias remuneradas. Ficava pensando o dia inteiro sobre o que faria, pra onde iria, quanto dinheiro teria acumulado até lá… Sua mente esquecendo-se do silêncio do presente e falando sem parar o dia inteiro sobre o distante futuro. Eis que, aconteceu a tomada de consciência: quando estamos pensando demais no futuro é porque tem alguma coisa errada com o nosso presente. Muito provavelmente estamos entediados com nossa vida. Ou seja, é preciso mudar imediatamente, não temos tempo a perder, a vida é um milagre maravilhoso, cada minuto conta! O tempo é o que temos de mais valor, nenhum minuto volta. Não deixemos nunca pra amanha o que deve ser feito no agora. É preciso dar sinais claros que se valoriza a vida e essa experiência para que o universo possa te presentear por merecimento, possa sentir à partir das suas ações que você está aqui pra ser feliz, não importa o que aconteça. Você não vai ficar aí reclamando da vida, fazendo todo dia a mesma coisa, paralisado pelo medo, esperando que uma grande aventura lhe seja apresentada, ou vai? Quem quer viver, corre atrás da vida.

E agora, seu presente ficou muito mais interessante, sua vida ficou muito mais maravilhosa. Ela está livre, no aberto dos possíveis. Enviando uns currículos, entrando em contato com algumas comunidades, conversando com uns amigos na Africa do Sul… Se abrindo pra ver o que o Universo lhe responde, com que experiências ele lhe presenteará, no agora.

FREEDOM!!! São milhares de estrelas no céu, de graça, todos os dias. Ao olhar pra elas pode-se botar a mão cintura, rir alto e se jogar no chão de tanta felicidade na simplicidade do viver o presente. Se não fosse o medo, o que você faria agora pra ser mais feliz hoje?

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