04:55 da manha. Cidade grande, Rio de Janeiro. Cheia de energia pra ir viver de verdade e nada pra fazer que seja real. Parece que aqui a opção é comer, beber, ver televisão, encontrar com os velhos e repetitivos conhecidos para aqueles velhos e repetitivos papos. Nada me excita. Onde está a aventura? O desafio? O espaço seguro para explorar o desconhecido? Onde está a floresta?
Quase tudo na cidade se resume à experiência de consumo ou trabalho. Tudo fica longe e para ir de um lugar ao outro, tem que pagar. Pode ser ônibus, metrô, Uber ou táxi mas tem que pagar. Para se exercitar – ou se mora perto da praia e se paga o IPTU caro ou tem que pagar a academia, a Yoga, o Muay Thai, o Judô… Para se relacionar, tem que ir pro bar, comprar um vinho e ficar em casa, sair pra jantar, tem que pagar. Pra se distrair, ver televisão e entrar em contato direto com o programa do paradigma atual sendo implantado a cada fala, o que vai te dar vontade de sair e consumir, ou seja, pagar.
Pode-se ler se é que ainda tem-se espaço pra isso na mente embriagada pelos carboidratos e barulho incessante dos arredores. Não existe um minuto de silêncio na cidade, nem pagando. E quem tem tempo de ler quando a vida tornou-se a experiência de consumo? Não é interessante para o sistema que você fique em casa lendo (mesmo tendo comprado o livro). 1. Você estará se educando; 2. Estará gastando tempo precioso em que poderia estar consumindo.
É caro demais pra morar. E pra viver. O que te obriga a trabalhar cada vez mais pra sustentar esse estilo de vida.
O chão é de concreto. Não há um espaço para tocar os pés na terra e descarregar energia. E não quero nem entrar no assunto energético da cidade grande com seus acessos de negatividade compartilhada, greves, protestos, reclamação coletiva constante, falta de amorosidade, medo do outro, distância afetiva em geral e rituais desprotegidos de Ayauaska semanais.
Na cidade pequena, as pessoas se olham nos olhos e se cumprimentam ao passar umas pelas outras. Todos os dias de manha, pode-se exercitar na floresta, com pés no chão, mergulhando na cachoeira e acordando o corpo. Vai-se a pé pro trabalho. O trabalho é tranquilo. O aluguel é barato. Os amigos são muitos. Parece que todos nós temos um segredo: nós largamos a cidade e somos muito mais felizes aqui. Descobrimos o que nos fazia sofrer tanto. Um brinde.
Aqui é silencioso. Tem espaço pra ler, escrever, pensar, meditar, refletir, amar, ajudar, cozinhar no forno, se espiritualizar, se curar, descansar e até trabalhar bastante se for o caso. Uma coisa é trabalhar 8 horas por dia, sendo um escravo do consumo. Outra coisa é trabalhar 8 horas por dia quando se aproveitou em paz e equilíbrio as outras 8!
A cidade grande é um zoológico. Que atrai cada vez mais pessoas que acreditam que vão encontrar felicidade, oportunidade, crescimento, fama… O próprio capital demanda o acúmulo de muitas pessoas nas zonas urbanas para facilitar a exploração da mão de obra mas a maneira que elas chegam aqui nunca é porque o capital precisa. É porque elas são manipuladas a acreditar que aqui vai ser melhor. Enquanto quem aqui nasce é manipulado a acreditar que a vida no interior nunca será tão boa quanto a vida na cidade. Se viciam em sua experiência de consumo que tomam por vida e assim ela passa…
Mas alguns acordam. Alguns desconfiam. Alguns sentem que a vida é mais que isso e embarcam em uma busca que, se tiverem sorte e dharma, ultimamente os levará para a natureza, a comunidade e a experiência de vida.
Fazer o que na cidade grande? 05:15. Acho que vou ter que escrever outro texto…
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