Helena Al-Shakti

Halena é mulher e sempre sentiu que tinha uma grande missão. Não entendia muito bem de onde vinha isso mas caminhava sempre com essa certeza, colocava essa intenção em tudo que fazia. Ela não se contentava com essa vidinha que todo mundo vivia. Essa coisa de viver por viver… Ela sonhava em viver uma grande aventura. Seus psicólogos lhe diziam que ela era megalomaníaca, que queria consertar o mundo porque queria consertar a relação destruída de seus pais. Lhe diziam que quando ela era pequena ela foi demais pra Disney e hoje em dia, inconscientemente, não se conformava que o mundo não fosse um lugar mágico como lhe prometeram quando era criança. Helena vivia criando essa grande aventura na sua cabeça, planejando e lendo os sinais do universo.

Ela teve muita sorte porque sua mãe sempre lhe deu toda liberdade para seguir todos seus impulsos. Tudo que Helena queria, ela fazia ou tinha. Foi bastante mimada e isso a prejudicou no momento de assumir responsabilidade por si mesma com certeza. Mas ao mesmo tempo, ela teve a oportunidade de seguir todas as instruções de seu coração.

Perseguindo essa grande aventura, sua vida tornou-se uma bagunça. Cada hora ela queria fazer uma coisa. Mudou de faculdade 3 vezes, levou 10 anos para se formar, não conseguia ficar mais de 6 meses em um trabalho, trabalhou com as coisas mais diferentes possíveis. Foi capitalista, socialista e, finalmente, anarquista. Organizou-se coletivamente em rede, em coletivos, em assembleias e finalmente optou pela solidão. Foi designer, ativista, secretária, professora infantil, radialista, hostess, terapeuta holística.

As pessoas sempre fizeram muitas previsões sobre a sua vida. Nas diversas terapias, encontros, leituras de aura, fogos sagrados, temazcals que fazia nessa busca, sempre tinha alguém que reforçava essa previsão. “Eu vejo você organizando migrações.” “Eu vi! Todos seus sonhos vão se realizar.” “Eu vejo você fazendo um trabalho tipo ONU.” “Vejo 3 grande viagens.” “I believe you have great destiny.”

Mas ao mesmo tempo, na realidade, as pessoas sempre fizeram muito pouco dela. Lhe deram muito pouco valor. Ela foi facilmente descartada por várias pessoas que amou ou admirou. Todo mundo sempre falava que ela era muito ingênua e criava expectativas demais em cima das coisas. Claro que criava!! Ela não se contentava com essa vidinha mais ou menos que todo mundo aceitava viver com total falta de expectativa que alguma coisa incrível aconteça. Mas se frustrou seguidamente.

Aos poucos foi parando se sonhar. E deitou-se para descansar durante alguns meses. Aceitou um emprego normal, começou a considerar fazer um MBA. Quem sabe conhecer um cara tranquilo, que tenha um emprego e a convide pra jantar. Eles podem ir morar juntos no Leblon. Se casar…

Mas desde que começou a fazer um trabalho pessoal de gratidão e perdão, algumas coisas estão começando a acontecer na sua vida que ela não acha que acontece na vida de todo mundo. E essa ideia de que ela vai salvar o mundo está de volta. Será que todos seus sonhos vão se realizar? Mas que responsabilidade! Ela nunca assumiu responsabilidade por nada na vida antes!

Como que alguém pode achar que vai salvar o mundo? Mudar o mundo? Ela tem medo de estar ficando louca de novo, de estar sendo megalomaníaca, fugindo da realidade.  Mas ela já não vai mais pra terapia. Resolveu assumir total responsabilidade pelo seu processo há mais de um ano atrás. Não faz coaching, não faz bioenergética, não tem um mestre, não tem uma guia, nem uma conselheira. Todas suas amigas se mudaram e nem moram mais na sua cidade. Ela passa o tempo todo aprendendo a confiar na sua intuição, sozinha. Tem errado muito e acertado ainda mais. Na verdade, com cada erro ela aprende alguma coisa e por fim, acerta.

Ela sente que por mais que as pessoas que passaram pela sua vida não a tenham visto, ela estava sendo observada. Guiada. Protegida. Porque tudo se encaixa. Cada movimento seu, de alguma forma, faz sentido. Cada decepção, cada abuso, cada perda de si… Tudo se encaixa em uma harmonia perfeita com a missão.

Mas ela também se sente muito despreparada. Meio vazia. Tem uma parte sua que acredita que ela devia ter lido mais, se informado mais, viajado mais, estudado mais, conversado mais… Mas no fundo ela sabe que não é possível encher um copo que já está cheio. E estar vazia é necessário para que o novo possa entrar, para que instruções possam chegar, para que ela possa criar livremente.

Helena está começando a acreditar nas previsões. E que todos seus sonhos vão se realizar. Ela sente medo, nervosismo e prazer. Uma parte dela ainda está apegada a uma certa sensação de vingança em cima de todas as pessoas que não acreditaram nela. Ela se vê triunfando perante aqueles que olharam pra ela de cima. Ela tinha razão! Esse tempo todo, ela estava certa! Ela foi a escolhida! The chosen one.

Now what?

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