Vivemos no espaço-tempo. Se vamos pensar o novo, temos que ter claro que não estaremos ressignificando apenas o que acontece no espaço do real mas também a relação humana com o tempo. Sentimos uma pressa incontrolável de mudar, de criar, de produzir e nos fazer úteis nessa construção do desconhecido que pode abrir portas para um novo estar no planeta, sem perceber que o novo não será construído no tempo velho. Estamos acostumados a essa ânsia de produtividade e necessidade de resultados concretos e acabamos colocando essas expectativas em cima desse movimento que vem abrindo as portas para a nova era. Mas não é assim que funciona.
Já está claro que o maior dos pilares dessa nova construção é a conexão com a natureza. É Gaia que tem nos guiado até aqui, que tem provocado encontros e sincronias, que vem sussurrando em nossos sonhos os próximos passos. Ninguém está criando nada, somos todos fantoches da nossa própria salvação. Sendo assim, tudo que precisa ser feito será feito no tempo da natureza que é muito diferente do tempo dos homens. É preciso plantar sementes, nutrir o broto, amar o pequeno ramo tímido que flerta com o crescimento, incentivar as primeiras folhas, aguardar sem muitas novidades durante um longo tempo, encantar-se com os primeiros brotinhos de flores e finalmente deliciar-se com as flores e os frutos. E durante todo esse período estar aberto para eventuais mudanças de rumo, sinais, coincidências… O processo é tão importante quanto o resultado.
E o resultado é proporcional ao processo. Se estamos pensando um novo mundo, ou melhor, fazendo as conexões entre as sementes de novo mundo que já estão espalhadas e, muitas delas, crescidas em belas plantinhas, temos que ter a consciência de que deve ser perfeito. Só temos uma chance porque não existe outro mundo a se formar se não aquele que nascer agora, por isso não se pode querer acelerar as coisas, não se pode abrir mão da qualidade de cada movimento nesse sentido, não se pode ser leviano com a missão. Cada fase do trabalho é tão importante quanto a outra.
De que adianta plantar 500 sementes ao redor do mundo se não se tem tempo de voltar para nutrir seus brotos? Eles morrem. Então de nada adiantava ter plantado a semente em primeiro lugar. É desvalorizar a própria energia.
E brotos firmes evoluem em plantinhas que passam a distribuir sementinhas também. É muito melhor ter 40 brotos distribuindo sementes do que um único ser plantando sementes por todos os lados sem parar para nutrir. O novo mundo nasce desse movimento de empoderamento coletivo. E da confiança no coletivo. Mas confiar no coletivo não é incentivá-lo e abandoná-lo a sua sorte. É preciso estar constantemente acompanhando o crescimento de maneira livre e desprendida mas não irresponsável.
“Tu te fazes eternamente responsável por aquilo que cativas.” Cative apenas a quantidade daquilo que pode assumir.
Também parece que estamos acostumados a medir resultados pela quantidade de pessoas que afetamos. A quantidade de sorrisos, de descobertas, de conexões… Outra falha. Outra tradição do velho ainda nas nossas mentes. Em um momento de construção e investigação, qualidade e constância se fazem muito mais importantes do que quantidade. Quando focamos na quantidade, na verdade estamos centralizando muito conhecimento. Muitas pessoas dependendo de algumas poucas. Quando focamos na qualidade estamos formando multiplicadores que futuramente e conjuntamente poderão formar outros e outros e assim a quantidade se expandirá muito além do que qualquer multidão inicial poderia chegar. Além disso, para experimentar é preciso de constância e para isso é preciso mais que inspirar é preciso formar. Não adianta investir energia em 500 pessoas se depois apenas 4 seguem com os ensinamentos. Era melhor que 12 tivessem sido formadas de maneira profunda e permanente.
E a qualidade do novo mundo se refletirá na qualidade desse processo. Na calma e na atenção aos detalhes que fazem parte desse novo caminhar. Os pilares dessa construção não podem ser afobados, incoerentes ou levianos. É muita responsabilidade. É preciso lutar contra tudo de velho que ainda mora em nossas expectativas de resultados rápidos e medidas de sucesso pela quantidade. É preciso investir energia focada aonde ela pode dar futuros frutos. Sem desperdiçar com pressa ou ideias grandiosas solitárias que não são compartilhadas.
A construção do novo mundo é tão delicada quanto uma pequena sementinha plantada. Não se pode nunca perder de vista o objetivo maior assim como cada detalhe do processo que leva até ele. É preciso estar constantemente atento aos padrões antigos que ainda se escondem no nosso dia-a-dia e compreender que no novo, tudo é novo. Nada nunca foi feito. É a mais pura fé.
Leave a Reply