O projeto Aprender Brincando é uma experiência inovadora de educar alunos através da prática e da experimentação com diversas tecnologias invodoras e até mesmo inusitadas. Os alunos tem autonomia criativa e aprendem a usar, com ajuda dos professores facilitadores, a técnica como instrumento para expressar suas ideias e vontades. É um projeto que acredita no potencial dos jovens e na sabedoria tímida da juventude. Assim, estimula-se os alunos através das mais variadas ferramentas online e offline, misturando hacklabs com a arte do bordado, do brincar, de contar histórias, reaproveitar materiais e ressignificação de conceitos, a encontrarem sua voz, sua autonomia de expressar-se e criar.
Dentro do Hacklab que se monta e desmonta no mesmo dia, tecnologias se confundem e complementam. Laptops, blogs, hotglue, apresentações virtuais, programação, redes livres para troca de arquivos e comunicação interna e rádio. Os alunos se apropriam destas ferramentas para contar suas histórias e registrar seus pontos de vista únicos sobre o que vivem. Em Viconde de Mauá, por exemplo, alguns alunos vem registrando suas experiências na horta do colégio. Criam sites sobre suas plantas preferidas, fazem desenhos e digitalizam, escrevem histórias inspiradoras sobre cenouras, couves e cebolas.
Dentre toda as ferramentas, a presença do rádio como experiência educacional dentro do hacklab parece inusitada. Apropriar-se da linguagem radiofônica parece pouco relevante em tempos de comunicação instantânea e internet. Porém, na prática, colocar a boca no microfone para comunicar-se com colegas, para expressar ideias pro mundo faz muito sucesso com os jovens alunos. Além disso, o registro através do rádio que pode ser feito ao vivo ou através de gravações editadas é muito interessante e fácil. Não é preciso de muita preparação, apenas curiosidade e vontade de gravar conversas e aulas interessantes para depois dar vida a um programa criativo.
O rádio também tem o poder de atiçar a atenção dos jovens, energia tão dispersa na era dos smartphones. Por ser uma tecnologia muito chamativa com microfones, caixas e mesas de som e linguagem bastante informal e atrativa, os alunos se empolgam verdadeiramente com a vivência. Mexe-se bastante com o imaginário coletivo, aos poucos um pátio se transforma em um talkshow e muitos vão se revelando, descobrindo sua voz e a vontade de falar para ser ouvido. Durante o projeto vivenciamos pulsações políticas, declarações de amor, shows de talento, canto, dedicatórias de músicas e muita conversa sobre futuro, amizade, educação e tantas outras. Alguns alunos sentam-se perante a mesa de som e, ao invés de falar, preferem ficar comandando os microfones, intercalando com as músicas, produzindo programas. Descobrem no rádio uma brincandeira energética de possibilidades.
Além disso, o rádio é um instrumento interessante para incentivar a imaginação. Contar histórias e ouví-las requer mais atenção a detalhes, personagens e impressões quando não se pode apoiar nas muletas das imagens. Vivemos tempos de muita dependência da imagem pronta, videos, televisão, redes sociais já nos dão tudo que precisamos saber sobre o que assistimos. Os jovens estão cada vez mais afastados do potencial criativo da imaginação. Alguns inicialmente tem dificuldades inclusive de imaginar e descrever o que estão vendo. Ou seja, é uma tecnologia que inspira o próprio pensar fora da caixinha (literalmente).
Aprender Brincando permitiu que essa experiência inovadora de misturar o rádio com a educação desse frutos muito interessantes para pensar futuramente a presença permanente de rádios em escolas que incentivem o diálogo e a imaginação dos alunos cada vez mais. Além disso, gerir uma rádio permanente através de um coletivo de jovens é uma experiência muito interessante de autogestão e organização. As relações criadas dentro de uma rádio são normalmente muito respeitosas das diferenças de ideias, produtos do respeito das diferenças de gostos musicais. Assim, o rádio torna-se um meio de formar jovens mais criativos, menos tímidos e inseguros de suas ideias, com menos preconceitos e capacidade de organizar-se. Exatamente o tipo de adultos que queremos no futuro.
A integração de tanta tecnologia com emoções, afetos e experiências na natureza fazem deste projeto um grande passo a frente na educação de seres humanos melhores e conectados tanto com ferramentas empoderadoras quanto com seus talentos e vivências reais. Os resultados são sempre coloridos, criativos e muito inspirados. Os alunos respondem com muita energia e investem sua atenção verdadeira naquilo que são seus próprios projetos realizados com essa aprendizagem. Em ambos os espaços de experimentação do projeto (Colégio Aplicação UFRJ no Rio de Janeiro e CEAQ em Visconde de Mauá), os dias de projeto tornaram-se inesquecíveis, alegres e transformadores. Alunos pedem mais, professores participam de maneiras mais informais e relações verdadeiras se formam.
Por ser um projeto experimental, os próximos passos ainda são incertos. Deixa-se fluir aquilo que funciona e não se tem medo de perceber aquilo que não funciona e deixá-lo pra trás. E está sempre aberto para novas ideias, novas ferramentas e conexões entre educadores, alunos e quem mais quiser se testar no ambiente educacional. É possível que ele evolua para um laboratório de aprendizagem sobre rodas, levando este modelo de integração tecnológica para muitos outros espaços e inspirando sempre uma nova educação para os novos tempos.