Faz um ano que dou meu sangue menstrual de volta pra terra em um breve ritual sagrado de agradecimento e deixar ir. Essa prática tem mudado a minha vida completamente. A forma de ver o mundo e o ser humano, especialmente a mulher, tornou-se muito mais sagrada, mágica e em pura conexão com a Natureza.
Todo mês, ficar menstruada tornou-se uma alegria! Um tempo de mergulho nas minhas profundezas, de morrer para o ciclo que se passou e renascer para um novo ciclo. Um momento sagrado de me recolher, focar em mim mesma, relaxar e deixar limpar toda energia acumulada do ciclo que se passou.
O útero é o nosso cálice sagrado, nosso container de emoções, energia feminina, sensação de pertencimento e nutrição. Pelo útero chega uma alma nova que se aloja em um novo ser vivo, o útero está conectado com as dimensões espirituais e é a primeira casa que temos ao vir pra terra. Nossa memória uterina é muito poderosa, guardamos emoções que sentimos e não sentimos nesse espaço.
Todo ciclo, acumulamos energia nossa e de outras pessoas no útero. Tudo que sentimos fica impresso na parede uterina como uma marca emocional do que vivemos. Quando damos a o sangue para a terra ao final de todo ciclo, estamos realizando um ato instintivo perfeito. O corpo da mulher precisa dessa conexão, dessa oferenda e, acima de tudo, dessa limpeza. A terra parece sugar toda energia pesada que ficou acumulada durante o ciclo e preparar o útero para um novo ciclo emocional, livre do que ficou ali marcado no passado.
Pensar que passamos a vida toda jogando nosso sangue fora em absorventes tóxicos que vendem este momento sagrado como algo sujo, desconfortável e infeliz. Passamos a vida a jogar o que foi uma vez considerado a substância mais sagrada da Terra no lixo! E não nos damos a limpeza do cálice de nossas emoções nunca. A vida inteira carregando sofrimentos, medos, dores e desamores simplesmente porque nunca nos ensinaram a fazer o que nossos corpos foram criados a fazer: ofertar nosso ciclo para a terra.
Em um ano dessa experiência, posso dizer que meu útero mudou muito.
Pra começar, agora ele fala: reclama, anseia, vibra, escolhe. O útero sabe o que quer e se recusa a se misturar com o que não quer. A escolha de um parceiro ficou muito mais criteriosa. O útero não escolhe por beleza, personalidade, físico… O útero escolhe medindo o grau energético do parceiro, fazendo uma combinação perfeita para uma prole saudável! Não que eu pretenda ser mãe tão cedo mas o útero não dá bobeira! Se alguma coisa vai rolar, vai rolar apenas com quem possivelmente será uma escolha boa para a reprodução da espécie. O útero sabe muito melhor sobre o seu parceiro que você, foi criado para encontrar seu par ideal.
Isso é bom por um lado, ficamos apenas com homens incríveis. Por outro, aquela transa de leve com aquele amigo esporádico não rola mais. Aquele gatinho que conheci no bar ontem à noite, também não. O útero precisa de tempo para escolher. É por isso que em todas as espécies existe o cortejo! Os animais (e nós principalmente) precisamos sentir-nos uns aos outros durante um tempinho e as mulheres tem a responsabilidade perante a própria espécie de escolher bem, a melhor semente, os melhores genes para a reprodução da espécie. Admito que nem sempre ter um útero ativado é a melhor coisa… às vezes sinto falta daquele deixar fluir do momento. Mas nunca sinto falta daquele arrependimento do dia seguinte!
O útero fala sobre outras coisas também. Pode-se perguntar muito pra ele. Sobre questões variadas… Ele sempre vai ter uma opinião.
Minha sensibilidade também aumentou muito! A um ponto preocupante durante um tempo… Energia tornou-se uma realidade material na minha vida. Já é mais difícil comer certas coisas, ficar em alguns ambientes, me relacionar com algumas pessoas… Não tenho mais aquela parede dentro de mim. Agora me conecto com tudo e todos muito mais facilmente. Inclusive com a natureza, a conexão com a mãe terra é de um outro nível, jamais imaginado. Falar com as árvores, derreter-se na cachoeira, preencher-se de sol, respirar o ar doce para dentro dos pulmões, vibrar com o grito do pássaro.
Foi maravilhoso enquanto eu morava em uma comunidade no meio da floresta. Mas voltar para a cidade grande tem sido um desafio enorme. A cidade é invasão energética do tempo todo – barulho de carro, gritaria, vendedores, garagem apitando, muita gente em todo lugar, não tem terra para colocar o pé e descarregar em lugar nenhum! Só acumulamos, acumulamos, acumulamos… Sem natureza para limpar a energia, a sensibilidade tornou-se uma fraqueza (se não acho palavra melhor). Agora estou me transformando… Mudando muito… Acumulando energia de tanto ao meu redor que minha própria energia já não está tão clara pra mim. É como se eu estivesse me perdendo de mim mesma… Admito que tenho tomado uns calmantes… (Outra bomba mas pelo menos dá uma fechada no campo).
E meu útero agora está triste. Não gosta da cidade. Tive que dar meu sangue em uma plantinha de apartamento quando cheguei… Melhor do que jogar pelo ralo mas tenho minhas dúvidas sobre os benefícios dessa prática. Porque quando damos o sangue nos conectamos com aquela terra, então o ideal é que seja em uma terra saudável, em um local familiar com que você tenha alguma relação (nunca na floresta selvagem! Conto depois…), eu sempre escolho uma bela e antiga árvore e dou pra ela como representante de toda mãe terra. Mas veja, a plantinha de apartamento está absorvendo a energia da cidade, do apartamento em si… Então me conectar com essa planta, essa terra, acaba sendo me conectar com essa energia toda que gostaria de evitar…
Não está fácil voltar pra cidade, energeticamente, porque agora é como se eu tivesse aprendido a me limpar todo mês e sinto muita diferença quando não o faço. Sinto que acabo passando mais um mês com energia acumulada que não precisava estar aí, caso houvesse um jardim…
Na natureza, de útero limpo, minhas emoções ficaram muito mais claras também. Absorvi muita energia positiva. Estava sempre criativa e produtiva. Na cidade, o útero parece acumular mais do que aguenta e estou bastante cansada, sem entusiasmo e sem muita inspiração, minhas emoçoes são de vibração mais baixa como ansiedade, medo e tristeza (o que não senti praticamente enquanto estava na natureza) tendo que fazer uma força para criar uma disciplina para dar uma corridinha de 20 minutos todo dia. Na floresta eu fazia 2 horas de trilha todo dia – no vício!
A prática de dar o sangue à terra nos transforma em mulheres sagradas sim. Sacerdotisas, filhas da terra. Ela nos ensina muito sobre ser mulher, sobre o feminino, sobre magia e conexão com os elementos da natureza. Muda tudo. Mas nem por isso é fácil. Nos tornamos mulheres de antigamente vivendo em um mundo de agora: machista, patriarcal, um mundo feito por homens para homens. Então é confuso porque essa é uma prática que vem para relembrar-nos de uma cultura perdida, à partir desta prática vejo muita coisa sendo criada para um mundo novo. Mas transformar-se em meio a uma cultura tão diferente, tão suja energeticamente, tão masculina, tão diminutivo da mulher é difícil.
Ainda estou tentando achar o equilíbrio e o caminho por aqui, na cidade… Mas cada vez mais percebo que é um caminho sem volta. Que morar longe da natureza por muito tempo tornou-se quase impossível. Que a cidade já não me atrai. Que sem meu campo florido, minha floresta ancestral, meu riacho sagrado, a vida não tem cor, não tem sentido… Ver televisão todo dia me agride, comer mal, ouvir barulho o dia inteiro, beber água de bebedouro elétrico, me preocupar incessantemente com dinheiro e sucesso, ver minha energia voltar-se para consumo… Tão sensível, ficam mais forte todos os impulsos e fluxos da cidade…
Tem sido uma experiência bastante interessante de recuperação da racionalidade. O que se faz muito necessário e bem ao se conectar com o inconsciente coletivo da cidade. O abstrato, espiritual, sagrado, fica em último plano mesmo. E durante um tempo isso pode fazer bem também. Especialmente pra quem pode ter ido um pouco fundo demais que nem eu… Mas não dá pra viver assim uma vida toda. Imersa em um campo energético imundo, de pensamentos negativos de 8 milhões de seres humanos influenciados por uma mídia bizarra.
A cidade é um campo de batalha que eu não tenho interesse em conquistar. Meu útero quer ir pra casa. Pra floresta. Pra limpeza. Pra calma. Pra paz.
Então, para a irmã que está considerando retomar a prática de suas ancestrais, eu digo: vai fundo mas cuidado! Tudo vai mudar. É um caminho sem volta mesmo… Boa sorte! Que seu aprendizado e sua vida floresça. E que os ciclos tornem-se sua medida de tempo. Que as sementes de um relembrar sejam plantadas e que essa artificialidade urbana toda perda todo seu encanto. Seja real. Seja livre. Seja você!
Leave a Reply